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Por Felipe Branco Cruz
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Rufus Wainwright a VEJA: “A comunidade LGBTQ+ está em guerra”

Aos 49 anos, o cantor e dândi inconfundível equilibra discos, óperas e trilhas sonoras com o ativismo e a defesa de sua família não tradicional

Por Thiago Gelli Atualizado em 25 out 2023, 16h24 - Publicado em 6 jul 2023, 08h27

De 1998 até hoje, Rufus Wainwright acumulou 25 anos de carreira; foi nomeado o “melhor compositor vivo” por Elton John; passou pela dependência química e a superou; lançou dez álbuns; escreveu duas óperas; emprestou a voz às trilhas de Shrek e Moulin Rouge: Amor em Vermelho e teve uma filha, Viva, que cria com o marido Jörn Weisbrodt e a amiga Lorca, filha do grande Leonard Cohen (1934-2016). Agora, ele olha para trás e reflete sobre sua criação e paixão musical com os discos Rufus Wainwright (25th Anniversary Edition) e Folkocracy, dedicado à criação dentro da atmosfera do folk que teve por meio dos pais Loudon Wainwright III e Kate McGarrigle, ambos artistas do gênero. Em entrevista a VEJA, ele discute sua família, o estado atual do pop, os direitos LGBTQ+ nos Estados Unidos e suas memórias do Brasil, para onde promete voltar em breve:

Seu mais recente disco, Folkocracy, foi feito em homenagem à música de seus pais. Você, na contramão, demorou a explorar o folk e encontrou refúgio em estilos mais receptivos ao homoerotismo. Hoje, essa qualidade também existe no gênero? Honestamente, é um pouco difícil encontrá-la. Teria sido melhor se eu fosse uma lésbica — existe uma longa tradição de mulheres que amam mulheres no folk. Já para os homens gays, o cenário é deficiente. Escolhi, então, deixar o gênero e explorar espaços mais amigáveis a mim, como a ópera, Judy Garland e mais. Dito isso, não acho que exista uma educação mais sólida, básica ou útil que o folk em termos de harmonizar, tocar instrumentos e trabalhar com outros músicos, além de manter a curiosidade por diferentes culturas e pontos de vista. É ótimo voltar e estou feliz em trazer minha sensibilidade gay para esse estilo, que necessita dela.

Folkocracy foi realizado com a ajuda de colaboradores como Chaka Khan e David Byrne, e você mantém longas amizades com Elton John, Pet Shop Boys e mais colegas. Quanto tem sido importante a camaradagem em sua carreira? Sempre dependi do apoio de meus pares. Quando meu primeiro álbum saiu, rapidamente se tornou óbvio que eu seria o que chamam de “um músico para músicos”. Não foi uma surpresa, já que o mesmo havia ocorrido com meus pais — eles nunca se tornaram superestrelas, mas eram reconhecidos por todos os grandes artistas de sua geração. Mesmo que eu não tenha o hábito de cantar com outros, então, a colaboração continua sendo uma das fundações de minha carreira, e prefiro que seja assim. Existem momentos em que desejo ter mais dinheiro, ser mais notório ou viver no furor de Hollywood, mas creio que fiz a decisão certa em ser, de certa maneira, um segredo escondido.

Olhando para seus 25 anos de carreira, do que mais se orgulha? Meu maior orgulho é ter conseguido cuidar de minha saúde e de ver que, agora, minha voz está melhor do que nunca. Aconteceram algumas reviravoltas intensas no começo da minha carreira, e elas poderiam ter me derrubado. Desde então, me exercito, durmo bem e foco no meu instrumento. Mas não sou louco por bem-estar. Ainda gosto de me divertir, ser alegre e despreocupado de vez em quando. Escrever óperas também tem sido muito divertido. 

Por meio de sua obra e seu ativismo, você se consagrou um ícone gay ainda na virada do século, bebendo da provocativa fonte do underground, do rock e dos anos 1970. Hoje, muito se fala em “representatividade positiva”.
Odeio isso.

Como você avalia esta mudança no cenário?
É uma pergunta interessante. Sei que o Brasil passou por algo similar com Bolsonaro e tenho certeza de que ainda é um problema. Nos Estados Unidos, tivemos uma guinada repentina para a direita com a eleição de Trump, e então Biden venceu, o que foi ótimo, mas ainda há uma retaliação que tem se tornado incrivelmente forte e diretamente voltada contra pessoas da comunidade LGBTQ+. Estamos em guerra, e todo homem, mulher e pessoa não-binária deve ir às trincheiras para lutarmos juntos contra o fascismo. Temos que nos unir e deixar questões pequenas de lado, mesmo que não considere a representatividade algo menor. No último ano, a luta voltou a um estado mais básico, e é nisso em que estou focado no momento.

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Como pai de uma família não tradicional, você sente o peso dessa crescente dentro de casa?
Me assumi para mim mesmo aos 13 anos. Não contei para ninguém da minha família, mas comecei a ter experiências ainda novo demais e me apoiei na história da cultura gay. Li Cocteau e Oscar Wilde, ouvi Tchaikovsky e realmente mergulhei fundo naquele mundo. Essa educação clássica nas altas artes foi o que me protegeu e me deu o poder de continuar. Nunca pensei que fosse ter uma família, não imaginei casar e ter uma filha, nem que fosse viver nessa atmosfera mais tradicional, mas hoje consigo parar e dizer a mim mesmo: “Rufus, você sabe de muita coisa interessante e sempre foi curioso” — mesmo que não me considere, de jeito algum, um intelectual. Sinto, então, que é necessário compartilhar o que aprendi com minha família e jovens em geral. Quando eu tinha a idade deles, todos os adultos estavam morrendo em decorrência da aids. Toda uma geração de homens gays incrivelmente inteligentes foi apagada, então tento consertar esse esquecimento.

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Para você, o que é a música pop? No momento, ela parece ser baseada em consumismo. Tudo é sobre ganhar dinheiro e capturar a imaginação de um público vulnerável, majoritariamente crianças — além de, claro, as pessoas que mantêm uma atitude infantil. Não estou tentando falar mal de alguém, mas não diria que a produção de hoje é transformativa. Olho para a música pop da minha juventude — que nem gostava tanto — e tenho que reconhecer artistas como Prince, Tina Turner, Cyndi Lauper e os Eurythmics, que tinham perspectivas tremendamente únicas. Não era sobre o que eles estavam vestindo, onde eles passavam as férias ou quem eram seus amigos, mas sim sobre o universo que criavam. Acho isso difícil de encontrar hoje, mas existem pessoas interessantes como Lana Del Rey e, ocasionalmente, Lady Gaga. Também sou mais velho, então pode ser que apenas não seja capaz de enxergar a complexidade atual. 

Quanto à música brasileira, existe algum gênero ou artista que admire? Estou ouvindo muito Astrud Gilberto nos últimos dias, também sou um grande fã de Tim Maia. Cresci ouvindo cantores dos anos 1950 e 1960, e amo o trabalho de Heitor Villa-Lobos. O Brasil é seu próprio universo incomparável ao resto do mundo, porque é tão complexo, profundo e variado, que não há como encapsula-lo. Quando você mergulha na música brasileira, é como estar em outra dimensão. 

Você já visitou o Brasil duas vezes. Qual sua memória favorita daqui?
Sinto muita falta do Brasil e quero voltar, especialmente agora que Bolsonaro saiu da presidência. Minha memória principal é que, quando primeiro visitei o país, minha mãe estava doente em decorrência do câncer, mas passou por uma onda de calma, então a levei junto a mim e minha irmã. Foram duas das semanas mais gloriosas da minha vida. Fizemos tudo por completo: saímos todas as noites, conhecemos todo tipo de pessoa incrível e ouvimos muita música. Não quero dizer que ela estava pronta para partir, mas quando voltamos para casa, sentimos que a viagem definitivamente havia sido um presente e que ela havia vivido algo realmente profundo.

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