Nesse mesmo 27 de outubro, no longínquo ano de 2014, Taylor Swift consolidou de vez sua transição para o pop com o lançamento do álbum 1989. Agora, nove anos depois, uma regravação do disco que rendeu à ela o seu segundo Grammy de álbum do ano chegou às plataformas de streaming alçando o nome de Taylor aos assuntos mais comentados do Twitter. Batizado de 1989 (Taylor’s Version), o disco é o quarto de uma série regravações que nasceu de uma disputa da americana com a ex-gravadora pela posse de seus primeiros álbuns.
Para entender o caso, é preciso voltar no tempo: em 2005, Taylor Swift, então com 15 anos de idade, assinou um contrato longevo com a Big Machine Records que, assim como ela, estava começando na indústria. Entre as cláusulas do documento estava descrito que a gravadora do empresário Scott Borchetta seria dona dos “masters” da cantora — ou seja, deteria o direito comercial sobre as músicas gravadas por ela nesse período. Mas quando a vigência chegou ao fim, em 2018, Taylor não era mais uma adolescente anônima: com 29 anos e seis álbuns gravados, ela já era um dos nomes mais rentáveis da indústria musical, e deixou a antiga gravadora para assinar com a Republic Records. Daí em diante, os problemas começaram.
Em 2019, Scott Borchetta anunciou a venda da Big Machine para Scooter Braun. Empresário de Justin Bieber e desafeto declarado de Taylor, Braun passou a deter a propriedade do catálogo da cantora (que revendeu em 2020). Incomodada com a venda, Taylor publicou uma carta aberta alegando que tentou comprar seus masters, mas que a Big Machine só permitiria a transação caso ela aceitasse assinar um novo contrato com cláusulas desfavoráveis. A artista disse ainda que sabia que a gravadora estava à venda, mas que não foi informada de que o comprador seria Braun. “Essencialmente, meu legado musical está prestes a ficar nas mãos de alguém que tentou destruí-lo”, escreveu ela na ocasião.
Pouco depois, ainda em 2019, Taylor acusou a gravadora de impedi-la de usar as próprias músicas em uma apresentação televisiva e de lançar um disco de apresentações antigas sem informá-la. Com a confusão, ela anunciou que regravaria todos os seis álbuns que estavam sob a posse da antiga gravadora. O primeiro foi o Fearless (Taylor’s Version), lançado em abril de 2021. Desde então, RED, Speak Now e 1989 também ganharam suas respectivas “Taylor’s Version“. Faltam ainda o autointitulado Taylor Swift, primeiro disco lançado por ela, e o Reputation, o último gravado sob o selo da Big Machine.
O projeto ambicioso, no entanto, só é possível porque está sendo feito pelas mãos poderosas de um dos nomes mais rentáveis e inteligentes da indústria musical. Apesar de não ser dona dos masters de seu catálogo, Taylor é compositora de todas as suas músicas, algo não tão comum atualmente. Com isso, ela detém os direitos autorais das canções e pode regravá-las sem maiores problemas. A produção frenética da “loirinha” e, é claro, sua fortuna bilionária, também permitem que ela trabalhe nas regravações ao mesmo tempo em que produz projetos inéditos e roda o mundo em turnê.
O maior trunfo da cantora, no entanto, é a fidelidade dos fãs: ciente da influência que exerce, ela pediu para que os chamados “swifties” parassem de ouvir as versões antigas e abraçassem as regravações — e foi prontamente atendida. Uma sacada inteligente de marketing amarra a estratégia: além das músicas antigas levemente repaginadas, as regravações também trazem canções inéditas que foram descartadas dos álbuns originais, o que alimenta a curiosidade do público.