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A ostentação e as polêmicas do trap, ritmo que invadiu o Brasil

A variação mais melódica do rap forja uma leva peculiar de ídolos que celebram a maconha e o consumismo

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 out 2023, 16h23 - Publicado em 7 jul 2023, 06h00

Semanas atrás, o adolescente Kauê de Queiroz Benevides Menezes, de 15 anos, foi às compras na loja da Prada no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. Por um par de sapatos da grife italiana desembolsou, à vista, 25 000 reais — como é menor de idade, usou o cartão black do irmão mais velho, Kaique, de 23. Com o troféu nos pés, desfilou pelo shopping ostentando também seus mais de 100 000 reais em cordões de ouro no pescoço. Fosse Kauê um menino branco e de classe média alta, sua atitude poderia ser vista como extravagância de playboy endinheirado.

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O gesto, porém, vem carregado de superação. Negro e pobre, ele viu o barraco onde morava com a família em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, ser demolido numa reintegração de posse, há quatro anos. “Disseram que derrubariam com a gente dentro, e nos levariam presos se tentássemos impedir”, lembra Kauê, que hoje vive num condomínio de luxo na região. A situação o inspirou a compor, ao lado do irmão, Favelado Também Pode, com uma letra que se mostraria profética: “Um dia dou uma casa para a minha mãe / Sem precisar segurar no revólver / Fazer 2 000 em compras lá em casa / 10 000 de compras lá no shopping”.

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Com o nome artístico de MC Caverinha, Kauê e o irmão, o MC Kayblack, são hoje astros nacionais do gênero conhecido como trap — variação mais melódica e radiofônica do rap. Ambos foram incluídos em 2022 na lista da Forbes Under 30, que elencou jovens que se destacaram no mercado por seu faturamento e impacto social. Não à toa: desde o início do ano, o trap tomou os primeiros lugares das paradas, despontando como o único estilo musical capaz de desafiar o domínio de décadas do sertanejo nas paradas. Agora, as duplas sertanejas estão sendo substituídas por nomes como Matuê, Veigh, Filipe Ret, Ryu the Runner, Sidoka e Tasha & Tracie. “O trap chega para competir pelo topo”, diz Diana Bouth, gerente da gravadora Som Livre.

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EMERGENTES - Cabelinho e a noiva, Bella Campos(à esq.), e o paulista Caverinha: ascensão radical
EMERGENTES – Cabelinho e a noiva, Bella Campos(à esq.), e o paulista Caverinha: ascensão radical (Paulo Belote/TV Globo/Reprodução/Instagram)

Saídos da periferia, os ídolos do trap ainda se encontram fora do radar de muita gente. Mas não se engane: eles hoje são cultuados por milhões, especialmente entre os adolescentes de classe média. O sucesso é visível em shows — o cachê das principais estrelas pode bater nos 250 000 reais. Os irmãos Caverinha e Kayblack chegam a fazer dez apresentações por semana e assinaram recentemente contratos de publicidade com as marcas de luxo Lacoste — a mais amada pelos trappers — e Hugo, antiga Hugo Boss.

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Ambos foram descobertos pela produtora GR6, fundada pelo pernambucano Rodrigo Oliveira, de 38 anos. Ele investiu 50 milhões de reais em um complexo de estúdios na Zona Norte de São Paulo, onde seus 120 artistas chegam a gravar sessenta videoclipes por mês. O trap já chegou até ao horário nobre: o carioca Victor Hugo Oliveira do Nascimento, o MC Cabelinho, 27, criado numa favela do Rio, atraiu a atenção da Globo — e atualmente interpreta um galãzinho na novela Vai na Fé. Nos bastidores, conheceu sua noiva, a atriz Bella Campos.

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Nascido no Sul dos Estados Unidos, o trap tem letras que versam sobre ostentação, superação e problemas sociais — ainda que, assim como o funk, não dispensem menções nada sutis ao sexo. O fenômeno que sintetiza a receita é o cearense Matheus Brasileiro Aguiar — o Matuê. O trapper de 29 anos acumula vinte músicas com mais de 100 milhões de reproduções — o que faz dele um dos artistas mais ouvidos no país hoje. No ano passado, seus shows no Lollapalooza e no Rock in Rio arrastaram multidões. Neste ano, ele será uma das principais atrações do The Town, versão paulistana do Rock in Rio.

Em versos, fotos e clipes, o trap também celebra de modo ostensivo o consumo de maconha. As letras de Matuê falam com naturalidade sobre a Cannabis — interesse partilhado por outro trapper, o carioca Filipe Ret, 38. Em meados do ano passado, Ret foi detido por supostamente ter distribuído maconha numa festa. Enquanto isso, ironicamente, ele fatura com uma marca de Cannabis legalizada nos Estados Unidos. Das grifes à erva proibida, a ostentação do trap segue em ritmo forte.

Publicado em VEJA de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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