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Pergunta de William Waack tem a ver com o futuro da democracia

Ex-apresentador do 'Jornal da Globo' pede desculpas e lança questionamento sobre como estamos enfrentando a nova realidade das comunicaçoes

Por Maicon Tenfen Atualizado em 17 jan 2018, 15h06 - Publicado em 17 jan 2018, 08h08
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  • Dois meses e alguns dias depois de ver divulgada a piada racista que lhe custou o emprego na TV Globo, William Waack finalmente veio a público para dar a sua palavra sobre o episódio. Além do artigo publicado na Folha de S. Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva a Augusto Nunes, colunista da VEJA.

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    — Entre amigos — disse Waack ao olhar para a câmera — quem é que não fala merda?

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    Era esperado que o pedido de desculpas — totalmente necessário — viesse acompanhado de uma subentendida reivindicação ao “direito de errar”. É justo que uma carreira de meio século seja atirada na lama por causa de cinco segundos de bobeira? “Não sou racista”, escreveu Waack em seu artigo. “Tenho como prova a minha obra.”

    Até aqui, por assim dizer, temos os aspectos mais novelísticos do caso. Um figurão da TV é flagrado em pleno ato de escrotice e as coisas se desdobram com o alarde furioso das redes sociais.

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    Fim da história?

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    Negativo.

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    O drama de um jornalista solitário e de um país que se descobre racista é apenas um exemplo do que realmente está em jogo: a convivência entre os opostos num CENÁRIO altamente conectado em que a “mídia tradicional”, nas palavras de Waack, dá provas contundentes de rendição a grupos organizados a partir da internet.

    Em novembro, na ocasião em que o vídeo foi divulgado, perguntei aqui se a Globo é “visceralmente contra o racismo”, conforme o comunicado da emissora, ou se estava apenas amarelando diante da fúria inquisitorial das redes sociais. O artigo e a entrevista de Waack sugerem — com conhecimento de causa — que a segunda opção é a mais provável.

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    Alguém há de dizer que tudo isso é muito bom, que as empresas e o governo têm mais é que ouvir o clamor das redes e que assim o mundo vai se transformar num lugar melhor. A lógica é verdadeira, mas só até certo ponto. Quem garante que as gritarias do Facebook são infalíveis? O que dizer dos linchamentos virtuais? Quais são os limites entre o ódio e a justiça?

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    Não me refiro apenas a celebridades como William Waack, mas a todas as pessoas que de alguma forma habitam o mundo virtual. Num artigo sobre Humilhado, livro do jornalista inglês Jon Ronson, tentei lembrar que basta um tropeço para tomar pedradas na internet — a menos que você seja um desses covardes anônimos que vivem de acender as fogueiras virtuais.

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    A expressão “ditadura da maioria” sempre foi válida em sentido histórico, mas nunca houve necessidade mais urgente de lidar com o problema do que nos dias de hoje. Combater essa forma de ditadura parece ser o legado dos veículos “tradicionais” de comunicação. Se os jornais e as emissoras de TV dançarem conforme a música das redes sociais, a quem o público vai recorrer para dirimir as suas dúvidas?

    Nunca é demais dizer que William Waack errou feio, mas o pedido de desculpas não seria o mesmo sem o lembrete de que estamos vivendo num caos comunicativo irrefreável. O que fazer quando as regras do jogo mudam da noite para o dia? Cruzar os braços, resignados, ou “demonstrar se temos ou não coragem de enfrentar a realidade”?

    O futuro das comunicações — e da democracia — depende da resposta que dermos a essa pergunta.

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