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Para onde vamos depois da morte? Aceite a resposta ou viva como escravo

Ainda que seja fácil desconfiar do consolo oferecido pelas religiões, é muito difícil botar essa desconfiança em prática

Por Maicon Tenfen 5 jun 2018, 07h41
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  • Quando Stanley Kubrick convidou Jack Nicholson para fazer o papel principal de O Iluminado, Nicholson imediatamente quis saber do que tratava o filme.

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    — Ao contrário do que fiz até agora — respondeu Stanley — é uma história bastante otimista.

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    — Como assim, otimista?

    — É sobre um hotel mal-assombrado.

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    — Você quer dizer… mal-assombrado por… fantasmas?

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    — É, fantasmas.

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    — Mas, Stan, o que tem isso de otimista?

    — Qualquer filme sobre fantasmas pressupõe a existência de vida após a morte. E isso só pode ser o máximo do otimismo.

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    ***

    A razão de existir das religiões é inventar teorias para explicar um dos maiores enigmas da humanidade: o que acontecerá depois que fecharmos os olhos pela última vez? Escuridão simples e absoluta, como a lâmpada que simplesmente se apaga?

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    — Nada disso! — dizem os padres, os pastores, os monges e os rabinos. — Todos iremos para o céu, onde encontraremos o Pai. Ou então: reencarnaremos quantas vezes forem necessárias até atingirmos a Luz. Ou ainda: jamais morreremos porque, como parte do Cosmos, estamos “condenados” a viver eternamente.

    São formas piedosas e, convenhamos, um tanto infantis de atenuar o medo que sentimos do desconhecido, mas sua engenhosidade alimenta o mais poderoso dos mecanismos de controle. Mesmo os cultos mais “prafrentex” não descartam o preço que precisa ser pago por quem busca a eternidade. Se você não usar esta vida para se preparar adequadamente, corre o risco de perder o último bonde para as estrelas.

    Mas como, ó Mestre, devo me preparar? Simples: seja cordato, manso e puro de coração. Respeitar as autoridades é tão importante quanto respeitar os seus semelhantes. E, é claro, nunca se esqueça de pagar o dízimo no fim do mês.

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    ***

    Ainda que seja fácil desconfiar do consolo oferecido pelas religiões, é muito difícil botar essa desconfiança em prática.

    Filósofos que construíram catedrais de pensamento tão perfeitas quanto o cristianismo, o budismo e o islamismo fracassaram em seu intuito de abrir os olhos da humanidade.

    “A religião é o ópio do povo”, disse Marx, e no entanto os templos se fortalecem a cada dia.

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    “Deus está morto”, disse Nietzsche, e no entanto queremos que Ele viva em nossas mentes e corações.

    “O inferno são os outros”, disse Sartre, e no entanto acalentamos a utopia meio hipócrita de amar o próximo como a nós mesmos.

    Conclusão: pode até ser racional, mas é muito chato duvidar da existência de uma vida — qualquer tipo de vida — depois da morte.

    ***

    É preciso ser muito corajoso para cultivar o ceticismo total, principalmente se estivermos no cenário de uma doença, de uma catástrofe climática ou do completo desamparo familiar.

    “Deus não existe, pronto, agora estou livre de cogitações inúteis sobre o futuro da minha alma”. Você tem essa coragem? Ou, por outra, existe personalidade capaz de manter um comportamento ético sem a necessidade de cabrestinhos doutrinários? A crença certamente ingênua de todos os filósofos que criticam as religiões é a autonomia do ser humano. Somos capazes de fazer o que é certo pelo simples fato de que seja certo? Se sim, é desnecessário crer numa vida após a morte. Se não, precisamos continuar crédulos e obedientes a tudo, tudo mesmo.

    ***

    É óbvio que ninguém tem condições de responder para onde vamos depois da morte, se é que vamos a algum lugar. Mesmo sentindo que não existe nada no outro lado, a maioria se recusa a abandonar as esperanças. Agora, se for para virar um daqueles fantasminhas bizarros do Kubrick, então é preferível abaixar a cabeça e aceitar a escuridão absoluta, como a lâmpada que simplesmente se apaga.

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