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Vergonha internacional

A demora do presidente Jair Bolsonaro em reconhecer a vitória do democrata Joe Biden ameaça ampliar o isolamento do Brasil

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 19h44 - Publicado em 10 nov 2020, 14h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (10/11/2020)

A demora do presidente Jair Bolsonaro em reconhecer a vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial dos Estados Unidos ameaça ampliar o isolamento do Brasil, já bastante acentuado em razão do comportamento irresponsável do governo em relação a temas caros à comunidade internacional, como o meio ambiente.

O argumento do governo para que Bolsonaro não se juntasse a chefes de Estado de quase todo o mundo, que cumprimentaram Biden assim que ficou claro o triunfo do candidato democrata, é que ainda cabem contestações ao resultado, por meio de recursos interpostos pelo presidente Donald Trump, que tentava a reeleição.

De fato, é direito do presidente Trump, bem como de qualquer outro derrotado, ingressar na Justiça para questionar o desfecho da eleição, se considerar que houve irregularidades. Dito isso, quase ninguém nos Estados Unidos parece levar a sério as alegações de fraude.

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Mas Bolsonaro, que nada tem a ver com as atribulações de Trump, decidiu levar o caso a sério. Certamente aconselhado por seu chanceler, Ernesto Araújo, para quem Trump é nada menos que o “salvador do Ocidente”, o presidente brasileiro dá a entender que acredita na possibilidade de uma reviravolta a favor de seu guru norte-americano.

A hipótese benevolente é que se trata de uma estratégia para que Bolsonaro tenha tempo de encontrar um discurso que não o indisponha com Trump nem com os fanáticos bolsonaristas que, nas redes sociais, insistem que seu ídolo venceu a eleição e é vítima de um golpe dos democratas, em conluio com a imprensa e com as autoridades eleitorais dos Estados Unidos.

A hipótese mais plausível, contudo, é que Bolsonaro realmente acredita nas patranhas inventadas por Trump e pela extrema direita norte-americana. Vê nisso a narrativa ideal para seu próprio projeto eleitoral, como já ficou claro desde a campanha de 2018.

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Pouco importa que, na eleição presidencial de 2016, Trump não tenha esperado o fim da apuração para se declarar vencedor, dado que seu triunfo foi atestado pelas projeções da mesma imprensa que ele hoje acusa de mentir; também pouco importa que, naquela mesma eleição, assim que a imprensa norte-americana prognosticou a vitória de Trump, um dia depois da votação, o então deputado Jair Bolsonaro parabenizou o ídolo, chamando-o de “o melhor, o patriota, aquele que lutou contra tudo e contra todos”. Coerência, como se sabe, nunca foi o forte desses vândalos da democracia.

O problema é que, de um jeito ou de outro, quem perde é o Brasil. Bolsonaro elevou à categoria de política externa as relações pessoais que julga ter com Trump – e que jamais foram recíprocas. Estimulado por seus estrategistas lunáticos, Bolsonaro alimentou a fantasia segundo a qual seu servilismo em relação ao presidente norte-americano tornaria o Brasil um país privilegiado pelos Estados Unidos. Isso nunca aconteceu e, para piorar, o alinhamento automático do Brasil com a irresponsabilidade de Trump ameaça converter o País de vez em pária mundial.

Não se misturam preferências pessoais com interesses de Estado. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mostrou como se faz: embora muito chegado a Trump, não hesitou em reconhecer a vitória de Joe Biden, pois sabe que depende de boas relações com o governo norte-americano – qualquer governo.

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O Brasil de Bolsonaro acredita que pode se dar ao luxo de hostilizar o futuro governante dos Estados Unidos desde já. Alinha-se assim à Rússia e à China, que também demoram a reconhecer a eleição de Biden sob o pretexto de que ainda não é “oficial”. A diferença é que Rússia e China são países autoritários com amplo histórico de desavenças com os Estados Unidos e não se importam de alimentar mais uma; já o Brasil, potência apenas média e bastante dependente de investimentos externos, construiu seu bom status internacional sem se alinhar preferencialmente a nenhum país e sem hostilizar gratuitamente qualquer governo. É esse patrimônio que Bolsonaro joga fora, graças a um capricho pessoal, pelo qual o Brasil pagará caro.

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