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Por Coluna
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Reino Unido busca seu próprio caminho

Difícil consenso

Por Marcos Magalhães
Atualizado em 30 jul 2020, 19h14 - Publicado em 21 dez 2019, 10h00

Por Marcos Magalhães, de Londres

No road movie distópico Até o fim do mundo, lançado pelo diretor alemão Wim Wenders em 1991, três anos antes da inauguração do túnel que ligou a Grã-Bretanha ao continente, a protagonista Claire Tourneur acorda assustada após uma festa na Itália, sem saber bem onde está, e tenta voltar de carro para a sua França natal. Era o ano de 1999.

No caminho de volta ela se vê presa em um longo engarrafamento. Milhares de pessoas foram às estradas para tentar escapar da ameaça de queda sobre a Terra de um satélite nuclear indiano fora de controle. Claire decide sair da estrada principal e seguir por um atalho no meio da floresta. Desnorteado, o GPS de seu carro avisa: “Claire, você está por sua conta!”

O aviso do GPS se parece com a advertência feita ao Reino Unido nesta semana pela negociadora chefe da União Europeia, Sabine Weyand. Ela recordou aos negociadores britânicos que o tempo é curto para estabelecer as bases de uma nova parceria entre as duas partes, após o Brexit. Por isso, o foco deveria estar em objetivos básicos, como o de se estabelecer um acordo para isentar de tarifas o comércio de bens.

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“Temos que olhar bem para esses assuntos porque uma falha na tentativa de se chegar a um acordo até o fim de 2020 poderia levar a um precipício”, advertiu Sabine.

Eleições

Os eleitores britânicos confirmaram na semana passada, de certa forma, a sua opção majoritária pelo Brexit, tomada inicialmente em 2016, por meio de um plebiscito. Até agora, nenhum governo havia sido capaz de colocar em prática a decisão. O Parlamento havia rejeitado todas as propostas apresentadas pelo Poder Executivo.

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A vitória dos conservadores garantiu ao primeiro-ministro Boris Johnson a maioria necessária para aprovar internamente os termos do divórcio com a União Europeia, o que deve acontecer em breve. A próxima tarefa de Johnson parece ainda mais difícil: chegar a um entendimento com a UE sobre o relacionamento após o divórcio.

O comércio de bens é apenas um dos itens sobre a mesa. Pouca gente questiona a sua importância, até por causa da ameaça de desabastecimento de alimentos e remédios. Mas também devem ser negociados tópicos importantes como as regras de transporte aéreo e a cooperação na luta contra o terrorismo.

Como ressalta o jornal inglês Financial Times, mesmo um acordo básico para o relacionamento futuro pode ser difícil. Negociadores de Bruxelas ouvidos pelo jornal acreditam que o prazo de negociação pode ser de apenas seis meses. O novo acordo precisaria ser encaminhado até novembro, no máximo, ao Parlamento Europeu.

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Difícil consenso

O tempo curto acrescenta um novo ingrediente ao já conturbado debate político na Grã-Bretanha. O Brexit sempre esteve longe da unanimidade. Foi aprovado por estreita maioria em 2016. Mas nunca teve boa acolhida em Londres e no sul da Inglaterra. A Escócia também não está satisfeita com o divórcio com os europeus e ameaça promover um novo plebiscito sobre a sua possível separação do Reino Unido.

Johnson quer pressa para cumprir a promessa de garantir o Brexit. Conduzindo seu país por um atalho, como a personagem Claire Tourneur, ele pretende liderar os britânicos em um voo solo. No filme, Claire – interpretada pela atriz francesa Solveig Dommartin, morta em 2007 após um ataque cardíaco – bate no carro de ladrões de banco franceses e acaba envolvida em uma série de aventuras em três continentes.

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Johnson ainda pode evitar um choque direto com os negociadores europeus, mas também terá uma longa estrada pela frente para colocar em prática o sonho conservador de uma Global Britain. Após o divórcio negociado com os demais europeus, o primeiro-ministro quer firmar inicialmente um acordo com os Estados Unidos. As duras posições assumidas pelo presidente Donald Trump em suas negociações não estimulam, porém, previsões de um final feliz.

Após as eleições que deram a Johnson o mandato de que precisava, uma questão permanece em aberto: que força terão os britânicos em suas novas negociações com o resto do mundo? Isto não apenas em comércio de bens, mas em negociações mais amplas.

Isolamento

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Segundo o professor de Relações Internacionais Tony Evans, que durante muitos anos lecionou na Universidade de Southampton e agora acompanha o debate como intelectual independente, o Reino Unido, sozinho, terá mais dificuldades em negociar não somente acordos comerciais, como também regras de regulação de importantes setores da economia.

“Juntamente com a União Europeia teríamos muito mais força para negociar itens regulatórios em áreas dominadas por grandes empresas internacionais”, alertou Evans, em conversa com o Capital Político.

Segundo o professor, o descontentamento que havia no país antes do plebiscito de 2016 acabou sendo usado pelos defensores do Brexit. Os políticos que defenderam o divórcio com os europeus, na sua opinião, levaram muitos eleitores a acreditar que o Brexit seria a novidade de que eles precisavam. “Agora a Grã-Bretanha está escoando pelo ralo”, lamenta Evans.

Se o divórcio com os europeus causa preocupações no arquipélago, ele também é visto com cautela por intelectuais do continente. Poucos se arriscam, no momento, a prever como, no final das contas, se dará na prática a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

Uma conclusão, porém, já parece consensual. As dificuldades enfrentadas durante as negociações do Brexit parecem ter desestimulado outros países a seguir a Grã-Bretanha e buscar o próprio caminho.

“Hoje não se vê mais ninguém anunciando a intenção de deixar a União Europeia”, disse poucos dias antes das eleições britânicas o professor de Relações Internacionais Bertrand Badie, da Sciences Po, de Paris.

Marcos Magalhães é jornalista. https://capitalpolitico.com/

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