Palavras, ditados, expressões entram e saem de moda com frequência. Da simples prosa ao documento especializado, a linguagem assume significados semelhantes a um dialeto: politiquês, juridiquês, economês, futebolês, o atualíssimo digitalês. Misturam pedantismo, falsa erudição e, muitas vezes, sincero esforço de se fazer entendido. No limite, encontra-se “a frase feita” como conteúdo do discurso empolado e vazio, conselho do pai de Janjão, personagem da suprema ironia de Machado de Assis, em “Teoria do Medalhão” que consiste em “falar bonito” e impressionar sem dizer absolutamente nada.
Compreendo o vaivém das ondas. A língua é um patrimônio vivo e mutante. Mais: (com a vênia de Zé Paulinho) “Minha pátria é a língua portuguesa”, afirmou Fernando Pessoa; para Olavo Bilac “A pátria (…) é o idioma criado e herdado pelo povo”. Toda minha rebeldia se manifestou contra a praga de uma expressão contagiosa “a nível de”. Sem preconceitos (evito e tento usar o mais simples), seguem algumas “novidades”, repetidas à exaustão: empoderamento, narrativa, disrupção, resiliência, governança, problemática, incumbente, sinergia, etc…
De outra parte, palavras usuais podem ser ressignificadas (psicanalês) e ajudar na compreensão do que se deseja explicar. O exemplo mais expressivo decorreu do longo e intenso debate sobre a reforma da previdência, quando o Ministro Paulo Guedes usou, reiteradamente, o conceito de potência para traduzir o sentido da economia fiscal trilionária de que necessita o Brasil para, em uma década, obter o ajuste orçamentário e assegurar um crescimento econômico sustentável.
Trata-se de conceito consagrado em diversos ramos do conhecimento humano. Minha rasa incursão pelo vasto campo da filosofia estaciona em duas referências notáveis à potência nas densas obras de Aristóteles e Nietzsche; na matemática e na física, sobrevivem as esmaecidas lembranças da abnegada paciência dos mestres do inesquecível Colégio Padre Félix em colocar ideias de enorme complexidade na cabeça oca do adolescente.
Para enfrentar a aspereza política do tema, o esforço de convencimento do ministro buscou identificar, na potência do trilhão de reais, a força e o vigor capazes de transformar em ato, em realidade futura o equilíbrio saudável das contas públicas.
De fato, o processo avançou muito. Mas o jogo não terminou. O exercício da política não se mede com a exatidão do desejável. Há sempre riscos, inclusive, do imponderável. E para este tipo de potência, não há fórmula química disponível, senão a solução tradicional de somar os votos suficientes que atendam ao ritual e ao quórum estabelecidos pela Constituição Federal para aprovação da emenda proposta.
Gustavo Krause é ex-ministro da Economia