As fotos de um menininho sírio afogado numa praia da Turquia, das crianças separadas das mães que as levaram para atravessar clandestinamente a fronteira com os Estados Unidos ou das multidões de venezuelanos famélicos provocam uma reação humana, automática e profunda, em quem está longe do problema.
Em quem está perto, as imagens de sofrimento individual não são desassociadas de todo o resto. E o resto é um mar de problemas que acompanha grandes deslocamentos humanos, indo da exaustão de recursos públicos ao aumento da criminalidade.
Só o custo direto dos imigrantes ilegais que moram nos Estados Unidos, entre 10,8 e 12,5 milhões, dependendo do cálculo, é de 113 bilhões de dólares por ano – 8 075 dólares por pessoa. Bancados, evidentemente, pelo contribuinte americano.
As criancinhas que causaram tanta comoção, uma vez que é insuportável ver filhos separados das mães, em quaisquer circunstâncias, custam 670 dólares por dia, em gastos que vão desde as estruturas de alojamento até a aulas de ioga em espanhol.
Ficaram no passado distante os tempos dos imigrantes que chegavam da Alemanha, da Irlanda ou do México, entre uma infinidade de outros, sem um dólar no bolso e nenhum gasto para os cofres públicos, construindo a grandeza da América com trabalho duro e conquistando aos poucos benefícios sociais.
O custo, material e político, de refugiados ou quaisquer outros que chegam já desfrutando de generosos benefícios nos países avançados é tamanho que a União Europeia fez um acordo no ano passado com a Turquia.
Contra uma “mesada” de três bilhões de euros, o governo turco se comprometeu a segurar no país os 2,2 milhões de refugiados da guerra civil na Síria. Fora as verbas do ACNUR, o órgão da ONU para refugiados, bancadas especialmente pelos Estados Unidos.
Numa situação já sensível, com a obrigação de bancar e integrar centenas de milhares de pessoas se culturas diferentes, os atos de terrorismo cometidos por estrangeiros, a bala, faca ou veículos, causam espanto e horror.
‘SUPOSTOS VENEZUELANOS”
No ano passado, a Finlândia teve o primeiro ato terrorista da sua história. Um marroquino de 23 anos saiu esfaqueando transeuntes numa rua de Turku. Deixou gravado um vídeo declarando-se um soldado do Estado Islâmico
Matou duas mulheres e riu sem parar ao ouvir a sentença.
Por que a Finlândia? Por que um marroquino? Por que visar mulheres que estavam simplesmente andando na rua? Como explicar que um país distante do circuito internacional de problemas tenha aberto as portas para refugiados e levado facadas de volta?
Associar terrorismo e criminalidade comum aos refugiados é reprimido como manifestação de racismo em países como a Alemanha, o que contribuiu para uma votação sem precedentes num partido da direita antiimigração.
Se a relação entre nacionalidade e esfaqueamentos, estupros e homicídios cometidos por estrangeiros não pode ser sequer mencionada nos relatórios policiais, os cidadãos comuns, que querem ajudar os necessitados, mas não ver sua generosidade retribuída com violência e ódio, ficam perdidos.
Como as informações sempre acabam vazando, existe uma compilação da taxa de homicídio por 100 mil habitantes dividida por nacionalidades. Nos seis primeiros lugares: Líbano (23), Tunísia (14), Argélia (12), Afeganistão (9), Albânia (8), Iraque (7). Não é difícil ver o que têm em comum.
Imigrantes do Brasil aparecem com 2,6. A taxa entre os próprios alemães é de 0,8, maior do que os quatro últimos colocados, com 0: Holanda, Índia, Tailândia e China.
Se cidadãos de Berlim (renda per capita 38 mil euros) ficam horrorizados quando um tunisiano joga um caminhão carga pesada contra uma feirinha de Natal (12 mortos, 70 feridos), qual pode ser a reação em Paracaima diante de atos de violência antologicamente atribuídos a “supostos venezuelanos”?
Participar de um debate da ONU? Escrever um artigo no Guardian sobre as obrigações de solidariedade internacional?
Os países que acolheram os refugiados do monumental desastre da Venezuela – um pesadelo que não acaba – estão vendo que solidariedade não sai de graça e pode provocar reações fortes entre populações que já têm problemas enormes. Imaginem o que é , de repente, passar a disputar os eficientes e espetaculares recursos do SUS.
O Equador determinou no último dia 18 que só podem cruzar a fronteira venezuelanos munidos de passaporte. Atenção: o presidente equatoriano é Lenin Moreno, que foi vice do bolivariano Rafael Correa.
O mesmo passa a valer no Peru a partir do próximo sábado. Na Colômbia, destino do grosso da massa de venezuelanos esfaimados (870 mil) até as estatísticas de crescimento econômico estão sendo revistas.
O novo presidente, Ivan Duque, que assumiu no começo do mês, não tem nada do exibicionismo politicamente correto do antecessor, Juan Manuel Santos, que propiciou a vitória do candidato de direita com as concessões excessivas e até inexplicáveis aos guerrilheiros das Farc.
CRIPTOECONOMIA
A crise na Venezuela tem sido chamada de “desastre humanitário” como se o país tivesse sido atingido por um terremoto ou tsunami, e não a catástrofe cuidadosamente produzida pelos 19 aos de chavismo.
Já transportado há tempos para o campo do delírio, o regime bolivariano sob a mais desastrosa ainda direção de Nicolás Maduro produziu na última semana os seguintes acontecimentos:
- A criação de uma nova moeda, o bolívar soberano, uma farsa cruel. A diferença entre o câmbio oficial e o real foi para 2 584%.
- O novo bolívar, uma porcaria tão grande quanto o velho, é “ancorado” numa criptomoeda, o Petro. Só vale, evidentemente, a parte do “cripto”.
- Os cinco zeros cortados significam que 100 mil bolívares antigos valem 1,5 centavo de dólar.
- O salário mínimo, “aumentado” para 1 800 bolívares soberanos, equivale no mundo real a 1,6 dólar.
- Além das iniciativas que vão “mudar de forma radical a vida econômica” do país, Maduro visitou cadetes feridos no ataque de drones durante um desfile militar. Os feridos tinham curativos do tipo adesivo no rosto. Como ninguém acredita em absolutamente nada que venha do governo, até o atentado frustrado, captado em vídeo com reações perfeitamente reais, é visto com total desconfiança.
Ajudar os refugiados do cataclismo bolivariano é um dever ético cheio de dilemas.
Uma coisa é garantida: não pode dar certo despejar em cidades fronteiriças gente que estava revirando lixo para ter o que comer, ou fazendo o que mais fosse necessário para a sobrevivência. Sem contar is inevitáveis criminosos que acompanham as massas de desvalidos .
No mundo de verdade, os supostos brasileiros já têm bandidos de sobra.