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No caminho de Biden: um Kennedy diferente, antivacina, quase sem voz

Algumas pesquisas dão até 20% das preferências dos democratas para o filho de Bobby Kennedy, mesmo com suas ideias conspiracionistas

Por Vilma Gryzinski 9 jun 2023, 07h20

Em matéria de candidato original, poucos políticos poderiam ser comparados a Robert Kennedy Jr., um ex-viciado em heroína que mal consegue usar o instrumento mais básico da categoria — a voz — e pratica a arte de adestrar falcões desde a infância, marcada, evidentemente, pelo assassinato de seu tio e de seu pai — ambos, segundo acredita, vítimas de conspirações que ocultaram os verdadeiros culpados.

Conspirações são com ele mesmo. Com sua voz quase inaudível — “Odeio me ouvir” —, por causa de uma rara disfonia espasmódica, um distúrbio nas cordas vocais, ele já havia precocemente abraçado a tese de que a vacinação infantil pode provocar autismo por causa do mercúrio em sua composição, não obstante o elemento tenha sido tirado há vinte anos da vacina tríplice, quando aconteceu a pandemia de covid. 

Deu uma química tremenda: ele passou a ter uma militância muito mais visível e muito além dos círculos de defensores de medicamentos naturais, o ambiente onde vicejou originalmente o movimento antivacinação.

A projeção, embora provoque surtos de ódio entre lideranças tradicionais do Partido Democrata, o levou a se candidatar a disputar a eleição presidencial do ano que vem. A aura de seu nome ou talvez a simpatia natural por um candidato que parece irremediavelmente fora da curva, ou uma combinação de ambos, o levaram a ter, segundo pesquisas, até 20% das preferências dos democratas nas eleições primárias. Nem de longe chega perto dos 60% de Joe Biden, mas incomoda e leva a imprensa majoritariamente pró-democrata a tentar desconstruí-lo de todas as maneiras. A televisão ABC chegou a cortar uma parte inteira de uma entrevista que ele deu.

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O esporte mais praticado hoje entre os jornalões americanos é ver quem bate mais em Kennedy ou em Ron DeSantis, ambos, teoricamente, sem chances — embora nunca se saiba o que vai acontecer numa campanha em que o republicano mais votado, Donald Trump, foi tornado réu no caso dos documentos sigilosos levados para sua casa, e os 80 anos de Joe Biden podem pesar irremediavelmente.

O fato de que, tendo toda a herança liberal e posteriormente mais inclinada à esquerda de sua família, Kennedy agora abrace causas identificadas com a direita populista, deixa as elites surtadas. Mais ainda depois que ele deu uma longa entrevista a Elon Musk, transformado em besta fera da esquerda (com participação do surfista Kelly Slater, um militante da antivacinação), e recebeu o apoio de sua antítese, Jack Dorsey, de quem o, de novo, homem mais rico do mundo comprou o Twitter.

“O zumbido constante da paranoia popular aumentou de volume nas últimas décadas”, escreveu o Washington Post numa reportagem em que trata longamente do conspiracionismo de Kennedy- sem atentar para a ironia de que o jornal esteve na linha de frente, e até recebeu um Pulitzer, pela extensa cobertura sobre a associação de Trump com a Rússia, agora oficialmente desmentida por um inquérito oficial.

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Mas certamente Kennedy tem uma coleção de posições bizarras. Talvez a mais estranha delas seja a convicção de que o palestino jordaniano Sirhan Bishara Sirhan não matou seu pai, um crime praticado diante de dezenas de testemunhas na cozinha do hotel Ambassador, em Los Angeles, em 5 de junho de 1968, num momento em que Bobby fazia uma fulgurante pré-campanha presidencial.

Kennedy filho, que tinha nove anos quando o pai foi assassinado, chegou a visitar Sirhan na cadeia, durante a pandemia, enquanto sua mulher, Cheryl Hines, esperava no carro. A atriz ficou conhecida por interpretar, simbioticamente, a mulher de Larry David em Curb Your Enthusiasm. O comediante é uma das estrelas da mais mimada  esquerda caviar do mundo, a de Hollywood, e Kennedy Jr. diz que Cheryl perdeu trabalhos por ser associada a ele, hoje considerado um traidor que abraçou causas da direita populista. 

Cheryl Hines é a terceira mulher dele – a segunda, mãe de quatro de seus seis filhos, se suicidou logo depois do pedido de divórcio feito pelo marido, uma das muitas tragédias das vidas altamente conturbadas do clã.

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O próprio Kennedy Jr. não seguiu a carreira programada para sua estirpe — tornar-se promotor em Manhattan e daí preparar uma plataforma política — ao ser preso por posse de heroína. Diz que até hoje segue o programa do Narcóticos Anônimos, “com nove reuniões por semana”. Também é devoto de São Francisco de Assis e costumava ir à missa todos os dias.

Por causa do escândalo de drogas, ele abandonou os planos de uma carreira política tradicional e abraçou ardorosamente causas ligadas à preservação do meio ambiente e direitos das populações indígenas. Nunca foi eleito para nada e é o primeiro a dizer que a família não vai apoiar sua campanha. A prima Caroline Kennedy, por exemplo, foi recompensada pelo apoio a Joe Biden com a embaixada na Austrália — ela é filha sobrevivente de Jacqueline e John Kennedy.

Ser contra a Big Pharma, a grande indústria farmacêutica, era uma causa da esquerda que virou de direita e isso é o que mais causa repúdio a Kennedy Jr. Além de ser antivacinação, ele acha que o uso excessivo de remédios psiquiátricos provoca os pavorosos assassinatos em massa em escolas, praticados por jovens desequilibrados (e muitos reconheça-se, tomando medicação).

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Ele também acredita que “a flor da juventude ucraniana” está sendo sacrificada aos interesses belicistas dos neoconservadores — parece até Tucker Carlson falando. Aliás, elogiou Carlson na entrevista promovida por Elon Musk. Disse também que pretende visitar a fronteira com o México para fechar uma posição sobre a imigração clandestina que já deixou de ser clandestina, com um fluxo de nada menos que 5,5 milhões de pessoas desde que Joe Biden assumiu a Casa Branca.

Só o fato de Kennedy Jr. entrar na campanha já reaviva o eterno interesse da opinião pública sobre os assassinatos dos dois irmãos, Jack e Bobby que ele atribui, evidentemente, à CIA. Nisso, a maioria dos americanos concorda com o novo candidato: as pesquisas sempre indicam dúvidas e rejeição à versão oficial, principalmente sobre o assassinato do presidente, em 1963, atribuído a um ato isolado de Lee Harvey Oswald.

“A decolagem dele foi vertical”, definiu seu diretor de campanha, Dennis Kucinich, ele próprio um aspirante presidencial sem nenhum chance, em 2008.

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Em toda campanha política sem manipulação existe sempre o fator “vai que”, um elemento impoderável que só fica claro depois que acontece. Os profissionais do ramo, dos dois partidos, descobriram muito bem qual foi o resultado de menosprezar e ridicularizar um certo empresário de cabeleira espantosa chamado Donald Trump. 

Além dos 20% que o apoiariam nas primárias, segundo a última pesquisa da CNN, mais 44% dos consultados disseram que considerariam o nome de Kennedy Jr. 

Vai que…

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