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Por Vilma Gryzinski
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Macron, o mal bem menor, terá sua chance e irá aproveitá-la?

Favorito sai da eleição com menos estatura do que entrou. Em princípio, vitória sempre zera tudo, mas até a pecha de mentiroso e sonegador paira sobre ele

Por Da redação
Atualizado em 7 Maio 2017, 17h35 - Publicado em 7 Maio 2017, 11h07

“Você é odiado”, “você é odiado”, “você é odiado”. A frase demolidora foi repetida muitas vezes na “Carta aberta a um presidente já odiado”, a melhor coisa escrita durante a campanha presidencial francesa.

O alvo, evidentemente, é Emmanuel Macron. O atirador, François Ruffin, jornalista e candidato a deputado pela França Insubmissa, a frente de extrema-esquerda que se saiu muito bem no primeiro turno, com Jean-Luc Mélenchon.

Ruffin fez uma mistura de manifesto, desabafo, reportagem de uma força visceral, publicado na última quinta-feira. Contou como andou pelas quebradas de Amiens, a cidade dele e de Macron, distribuindo material de sua campanha. “Discuti com centenas de pessoas e deu para respirar no ar: você é odiado”, escreveu – francês, claro, usando o pronome “vous”.

“Isto me deixou chocado, realmente impressionado, estupefato: você é odiado”, disse ele. Os motivos são sempre os mesmos: Macron é um jovem representante da elite sem a menor conexão com as necessidades, medos e anseios da população periférica, que vive longe das metrópoles e se sente simplesmente abandonada.

IDIOTAS SEM FRONTEIRAS

Sofre de “surdez social”, definiu Ruffin, ao defender mudanças nas regras de aposentadoria, abono doença, salário desemprego e outros benefícios. Parece até o presidente de um certo país que nunca chegou ao estado de bem-estar social da França, mas já precisa aumentar o mal estar social.

Ruffin, claro, não diz que estas reformas, desde que feitas de forma inteligente, são vitais para salvar um sistema insustentável, tentar dinamizar a economia e diminuir o gigantismo de um Estado que tem um número espantoso: responde por 56% das atividades económicas.

Ruffin é contra tudo isso. Mas, ao contrário dos informadores baseados nos princípios dos Idiotas Sem Fronteiras, que repetem sempre as mesmas ideias feitas, ele foi ver o que acontece no mundo fora da bolha das elites, incluindo dos meios de comunicação, e abriu os olhos.

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Macron, se eleito presidente, tem várias qualidades ignoradas no manifesto de Ruffin. Conheceu bem as entranhas do Leviatã quando foi ministro da Economia.

Antes disso, ganhou dinheiro, e relativamente bastante para os padrões franceses – coisa de uns 3 milhões de euros -, trabalhando num banco de investimentos, o Rothschild. Isso foi apontado como um defeito pelos adversários durante a campanha, mas tem um valor enorme para um líder político.

ÉTICA UTILITARISTA

Só será de um efeito devastador se sua assinatura num documento de uma companhia chamada LLC Providence, que opera nas Ilhas Cayman, vier a demonstrar que ganhou e não declarou.

O documento faz parte do tsunami de emails hackeados de funcionários da campanha de Macron revelados explosivamente na sexta-feira, pouco antes do embargo noticioso pré-eleitoral.

Marine Le Pen insinuou, no espetacular embora muitas vezes angustiantes debate de quarta-feira, que algo do gênero poderia aparecer. Macron disse que ia processar. Começar um governo com a pecha de sonegador, mentiroso e desonesto não seria nada bom para nenhum presidente.

“Macron como presidente francês seria horrível para a Grã-Bretanha, mas não tão ruim quanto Marine Le Pen”, escreveu no Telegraph outro político e jornalista de alto nível, Daniel Hannan. Ele é parlamentar pelo Partido Conservador – no lado oposto, portanto, de François Ruffin, numa prova de que, felizmente, existe também a Inteligência Sem Fronteiras.

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“Nenhum dos candidatos é entusiasmante do ponto de vista britânico”, analisou Hannan, um dia antes da eleição francesa. “Para os macronistas, Marine Le Pen é da pior laia do populismo, prometendo dinheiro que ela não tem, usando imigrantes como bodes expiatórios, cantando a Marselhesa enquanto recebe dinheiro dos russos”.

“Os militantes de Le Pen retrucam que Macron é um internacionalista sem raízes, um enarca super-privilegiado que nunca se dignou antes a disputar nenhuma eleição, um profissional do mercado financeiro   que ficou rico manipulando dinheiro em vez de fazer coisas”.

Enarca é como os franceses chamam a elite da elite da disse dirigente, formada na excelente Escola Nacional de Administração. Tomara que para um Macron presidente isso seja uma vantagem a mais e não a menos.

Seguindo os princípios da ética utilitarista, David Hannan acha que ele fará menos estragos do que Marine. Se o pequeno gênio de 39 anos, que fez uma carreira brilhante em vários campos, sempre obedecendo as instruções da mulher e ex-professora, Brigitte, surpreender a França e o mundo com alguma coisa um pouco menos inspiradora do que fazer o mal menor, será uma vitória para todos.

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