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Grande novidade: Arábia Saudita vai permitir venda de bebida alcoólica

Só para diplomatas estrangeiros, mas é um prelúdio para mais aberturas, no grande plano do príncipe para transformar o país ultrafundamentalista

Por Vilma Gryzinski 26 jan 2024, 08h17

“Arábia Maldita”, brincavam diplomatas quando eram enviados para missões num país em que se proibia tudo – e, claro, dava para conseguir tudo, inclusive bebidas, proibidíssimas pela religião muçulmana, por um preço alto, claro.

A Arábia Saudita do príncipe Mohammed bin Salman quer deixar o adjetivo derrogatório para trás. Aliás, quer superar também o petróleo, que lhe dá dinheiro, influência e poder. O príncipe que é na prática o governante absoluto, embora precise do consenso das elites, imagina um futuro com projetos ambiciosíssimos, de novos centros urbanos futuristas que atraiam visitantes estrangeiros, por turismo e para morar, como uma espécie de Dubai ultraturbinada.

Para estrangeiros como os jogadores de futebol famosos cujas famílias estão demorando a se adaptar ao choque cultural e ao clima desértico, ainda é um país difícil, muito religioso e estranho.

Para os sauditas, as mudanças são impressionantes: as mulheres não precisam mais cobrir o rosto para sair à rua e podem dirigir, a polícia religiosa que vigiava de varas na mão o cumprimento das regras extremas, inclusive o fechamento de todas as atividades para as cinco preces diárias durante o horário comercial, sumiu das ruas. Homens e mulheres podem se misturar em shows e festas, impensáveis até não muito tempo atrás.

REI ASSASSINADO

A loja de bebidas agora anunciada vai ser restrita a diplomatas residentes em Riad, com visitas antecipadamente registradas via aplicativo e vendas por um sistema de cotas. Ou seja, as bebidas não precisarão mais chegar clandestinamente aos bairros fechados onde vivem os estrangeiros e é possível ter acesso a tudo, embora sempre haja a sensação de frio na barriga.

Todos concordam que é um protótipo, uma experiência para abrir caminho aos futuros enclaves turísticos e ver como os mais conservadores reagem – os mais religiosos reclamam até dos bares com coquetéis não alcoólicos que viraram moda. Beber em público, para eles, só café.

Qualquer abertura vinda de cima na Arábia Saudita sempre evoca o assassinato do rei Faissal, em 1975, baleado durante uma audiência por um sobrinho, seja por distúrbios mentais seja por rejeição a modernidades como a televisão (qualquer que tenha sido o motivo, o assassino nunca vai esclarecer: foi executado por decapitação).

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A pena de morte continua a ser aplicada na Arábia Saudita, com 172 execuções no ano passado, O número aumentou desde que o príncipe Bin Salman, conhecido como MBS, se tornou o monarca reinante de fato, com seu pai praticamente inválido.

SANGUE FRIO

Abrir uma loja de bebidas não deixa de ser mais uma manifestação da ousadia de MBS, num momento em que o Oriente Médio está em surto por causa da guerra em Gaza e a diplomacia saudita tem que apostar num acordo sobre um futuro Estado palestino para poder seguir seus projetos de normalização com Israel em troca de um tratado de segurança com os Estados Unidos.

Como todos os outros regimes árabes, o saudita tem pavor do Hamas e de sua ideologia islamita, inspirada pela Irmandade Muçulmana. E abomina também o regime iraniano, financiador do Hamas e aspirante à hegemonia regional. Ao mesmo tempo, não pode parecer condescendente com Israel. É um jogo de equilíbrio que exige sangue frio e capacidade de pressão.

Em todos os projetos de um acordo abrangente, a Arábia Saudita aparece como a financiadora da reconstrução de Gaza – contra a garantia de que tudo não vai ser destruído de novo, dentro de cinco ou dez anos.

Há, como se vê, muito mais coisas envolvidas do que uns drinques liberados para estrangeiros.

Os locais continuam sujeitos, se flagrados, a penas de prisão e chibatadas.

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O MAIOR VÍCIO

A proibição de bebidas alcoólicas tem um histórico curioso: foi decretada em 1951 pelo rei Abdul Aziz Ibn Saud depois que um de seus filhos, embalado por uns drinques, deu vexame na casa do vice-cônsul inglês Cyril Ousman, a quem acabou matando.

O rei ofereceu à viúva executar o filho de qualquer forma que ela decidisse e espetar sua cabeça na entrada da embaixada britânica. Ela declinou e o rei acabou concluindo que a culpa era do álcool introduzido no país pelos estrangeiros maus.

Àquela altura, o maior vício do país já era o petróleo.

É dele que Mohammed bin Salman quer descolar o país com seus projetos visionários, transformando a “Arábia Maldita” num polo futurista aberto a estrangeiros. O maior projeto é o da cidade horizontal à beira do Mar Vermelho chamada Neon. Está prevista até uma estação de esqui em pleno deserto. Talvez com uns drinques para esquentar depois daquele gelo todo.

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