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Filhinho de papai: Hunter Biden foi favorecido pela justiça americana?

Outrora, seria impensável imaginar que um judiciário de imparcialidade indubitável beneficiasse um réu por ser filho do presidente; hoje…

Por Vilma Gryzinski 22 jun 2023, 06h45

Hunter Biden poderia ser um conservador: gosta de mulheres bonitas e detesta pagar impostos.

É uma brincadeira, claro. O filho do presidente Joe Biden é praticamente um reator nuclear em constante derretimento. Por sorte, o presidente tem a seu lado a maioria esmagadora da mídia, tão disposta a relevar o grau de encrencas do filho que o New York Times classificou seu caso como “politicamente problemático”.

Pode concorrer ao prêmio de um dos maiores eufemismos da história da imprensa ao envolver um homem que foi viciado em crack em grau extremo, teve um caso com a viúva do irmão morto de câncer (e talvez com a irmã dela) e deixou para conserto, sem ir buscar de volta, um laptop com informações explosivas, indicando inclusive favorecimento criminoso do pai quando era vice-presidente.

A imprensa não tem que ser imparcial, mas sim correta em seus métodos. Quem tem que ser imparcial é a justiça e aí também a questão é “problemática”. Se Hunter fosse um cidadão anônimo, conseguiria fazer um acordo com a justiça no qual ressarce dois anos de impostos que simplesmente não declarou, em 2017 e 2018, (e não pela primeira vez), paga uma multa modesta e se livra de um processo por posse de arma que, como viciado em drogas, não poderia ter?

Fazer acordos reconhecendo crimes menores, para evitar longos processos e punir os culpados, mesmo que com penas mais lenientes, é uma prática da justiça americana. Aqueles julgamentos de filme, com advogado de defesa e promotor se digladiando diante de um juiz severo, são raros: 90% dos acusados de crimes na esfera federal fazem acordos em que admitem pelo menos uma parte deles (8% dos processos são arquivados e só 2% vão a julgamento).

“O Papai Noel é mais real do que a integridade do FBI e do Departamento de Justiça no governo de Joe Biden”, comentou, amargamente, Michael Goodwin, no New York Post, ao comparar a leniência com o filho do presidente e a dureza das 37 acusações contra Donald Trump.

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É claro que o comentarista pende para o lado conservador. Mas é difícil deixar de ver a mão pesada contra Trump no caso dos documentos sigilosos, com acusações tão fortes que poderiam render 400 anos de prisão. Também contou pontos contra a constante divulgação de fotos de caixas e mais caixas com papéis – “até no banheiro”, “até no salão de baile” –, sem o devido esclarecimento de que aquilo tudo não eram os materiais que o ex-presidente não deveria ter tirado da Casa Branca. Os papéis foram encontrados lá, mas as pilhas de caixas não estavam cheias de segredos.

É claro que Trump errou, e ainda por cima tentou encobrir o erro, mas não é preciso ter simpatias por ele para deixar de lembrar que Hillary Clinton destruiu mais de 30 mil emails, com discos rígidos estilhaçados a marteladas, para não deixar pistas do uso de um servidor “clandestino”, instalado no banheiro de sua casa, quando era secretária de Estado. E Joe Biden também tinha suas próprias pilhas de documentos sigilosos, guardados até numa garagem.

Os casos de Trump e de Hunter Biden convergem não apenas por indicarem procedimentos diferentes de uma justiça que sempre foi considerada acima de qualquer suspeita, mas também porque todo o establishment, incluindo vários dos nomes do topo dos serviços de inteligência, garantiram na véspera da última eleição que o computador do filho de Biden fazia parte de uma operação russa para beneficiar o republicano.

Os fatos, mesmo à época, já desmentiam isso. O conteúdo do laptop, com todos os detalhes constrangedores sobre Hunter, que gostava de filmar a si mesmo nu, usando drogas, em companhia de prostitutas e se exibindo com o Colt Cobra .38 cujo uso ilegal reconheceu no acordo com a justiça, está sendo vasculhado pelos republicanos desde que conseguiram maioria na Câmara.

O objetivo é provar que Hunter fez negócios em que usou o nome do pai, como vice-presidente no governo Obama, com o conhecimento de Biden. A ligação mais conhecida é com a Burisma, a empresa ucraniana de exploração de gás que contratou Hunter para seu conselho por 50 mil dólares por mês sem precisar nada tão vulgar quanto trabalhar.

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A aparência de ilegalidade é, obviamente, diferente da comprovação de que tenha realmente tenha ocorrido algum crime. Os investigadores republicanos se esforçam em powerpoints para mostrar a rede de empresas offshore através da qual membros da família Biden foram beneficiados com uma quantia de 10 milhões de dólares, mas o “revólver fumegante”, aquela prova que convence, mais do que a justiça, a opinião pública, está muito longe de aparecer. Corrupção não passa recibo, como sabemos.

“Tenho muito orgulho do meu filho”, disse o presidente depois do último acordo de Hunter com a justiça. E com razão: o filho é um caso raro de viciado em grau extremo que conseguiu deixar a maldição do crack e reconstruir a vida, com uma nova, embora ridicularizada, carreira como artista plástico, além de uma nova esposa e um filhinho – embora ainda esteja para ser resolvido o caso da filha que teve com uma ex-stripper, na época da loucura, à qual se recusava a pagar pensão ou até dar o seu nome.

Não é errado fazer acordos em que acusados de crimes não violentos, como sonegação, evitam penas de prisão. Aliás, grassa nos Estados Unidos uma visão de justiça militante em que responsáveis por crimes violentos e tráfico de drogas devem ter as penas canceladas, abarcando-os na categoria “vítimas da sociedade”.

Mas é diferente a possibilidade de que Hunter Biden tenha usado o nome e a influência do pai para fazer negócios e beneficiado vários membros da família, o que abriria a porta para que o presidente seja acusado de nepotismo e peculato. Corrupção, resumidamente.

Essa história está longe do fim.

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