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De Bill Gates a Noam Chomsky, ricos e influentes caíram na teia de Epstein

O milionário condenado por explorar sexualmente menores se aproximava dos homens mais importantes do mundo — e poucos resistiam

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 23 Maio 2023, 09h01 - Publicado em 23 Maio 2023, 07h34

Os muito ricos queriam prestígio. Os muito inteligentes queriam dinheiro. Os muito poderosos queriam mais poder. É possível que todos quisessem também as garotas lindas e muito jovens com que Jeffrey Epstein fazia sexo pago e oferecia aos “amigos”.

O multimilionário americano se suicidou — ou foi suicidado — depois de preso pela segunda vez, em 2019, mas os escândalos continuam aparecendo.

Os mais recentes estão numa série de reportagens do Wall Street Journal. A última diz que Epstein tentou chantagear ninguém menos do que Bill Gates (fortuna de 114 bilhões de dólares). Motivo: como um senhor feudal, queria ser ressarcido pelo “investimento” feito em  Mila Antonova, uma jovem russa brilhante no jogo de bridge para quem ele havia pago um curso de programação.

O bilionário da Microsoft, que também joga bridge, estava tendo um caso com Mila, então na casa dos 20 anos. Mila também queria o que todo mundo pedia a Epstein: dinheiro. No caso dela, para financiar um projeto de “tutoriais de alto nível” pela internet para interessados no jogo de cartas. Não conseguia, mas acabou ganhando o direito de uso a um apartamento em Nova York e o pagamento de um curso de programação.

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“Ele disse que era rico e queria ajudar as pessoas”, afirmou Mila ao garantir que não houve troca de favores sexuais — o que não é impossível, considerando-se que Epstein só se relacionava com meninas na faixa dos 15 anos, chegando no máximo até os 18.

Gates disse que o ex-amigo “tentou usar um relacionamento passado para ameaçá-lo”, mas que que só discutia assuntos filantrópicos nos encontros com Epstein, dos quais se arrependeu publicamente. Segundo a reportagem, Epstein estava aborrecido com Gates porque ele não havia entrado num milionário projeto filantrópico que ele coordenava junto ao JP Morgan.

Por que um dos gênios high tech mais ricos do mundo se encontraria com um homem que já havia cumprido pena por tráfico de menores e que não fazia o menor esforço para esconder seu harém de adolescentes?

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Epstein certamente era esperto para fazer amigos e influenciar pessoas, desde o príncipe Andrew, que caiu em desgraça e foi tirado dos compromissos oficiais da família real por causa da “amizade” com ele, até o intelectual esquerdista Noam Chomsky.

Quase inacreditavelmente, Chomsky era um frequentador assíduo da teia de Epstein e pediu ajuda dele para “transferir” 270 mil dólares enrolados numa conta bancária de sua falecida esposa. Sim, o linguista brilhantemente pioneiro e esquerdista irreversivelmente ultrapassado tinha um relacionamento próximo com Epstein, a ponto de pedir intervenção em assuntos pessoais a um pervertido comprovado e explorador contumaz de menores que se cercava de intelectuais e prêmios Nobel em jantares nos quais, volta e meia, lançava ideias estapafúrdias e perguntava: “Mas o que isso tem a ver com ******?”. A palavra irreproduzível se referia aos genitais femininos.

Ironicamente, o dissecador dos mecanismos linguísticos e comportamentais que criam uma quantidade infinita de combinações alegou que procurou ajuda apenas para resolver uma “questão técnica”, expressão banal usada pelos mentirosos que até dói ver na boca de um homem como Chomsky, e nunca recebeu nada de Epstein.

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Outro intelectual exposto na série de reportagens do Wall Street Journal: Leon Botstein, presidente do Bard College, uma das universidades mais chiques dos Estados Unidos, aceitou uma doação de 150 mil dólares.

Larry Summers, presidente emérito de Harvard e secretário do Tesouro no governo Clinton, justificou as dezenas de encontros com Epstein alegando, meigamente, que só queria um dinheirinho para financiar uma série de televisão sobre poesia sonhada por sua mulher, Eliza New, professora de literatura na mesma e venerada universidade. Ah, sim, eles também discutiam “assuntos econômicos globais”.

A lista de pessoas influentes que frequentava Epstein tem revelado nomes inacreditáveis. Entre elas, William Burns, que foi diretor da CIA — aumentando as suspeitas de que o milionário condenado usava ou era usado por serviços de inteligência —, e Kathryn Ruemmler, que foi advogada da Casa Branca no governo Obama.

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Ehud Barak, o ex-primeiro-ministro de Israel com QI de gênio, mostrou enorme burrice social: frequentou Epstein à razão de trinta encontros entre 2013 e 2017. Numa viagem no infame “Lolita Express”, como foi apelidado o avião de Epstein por causa da pouca idade das passageiras, estava com a “mulher e agentes de segurança”, garantiu, como se fosse um argumento razoável.

Barak aparece na agenda descoberta pelo Wall Street Journal, mas sua proximidade com Epstein já era conhecida, assim como a de Woody Allen,  o diretor que fazia fotos nuas da afilhada com quem depois se casou. Novo detalhe: Allen jantou com o milionário uma vez por mês ao longo de 2014 e 2015.

O “livro negro”, ou caderno de endereços de Epstein sempre foi considerado, pelos adeptos de teorias conspiratórias, como o motivo pelo qual ele apareceu morto numa cela em que deveria estar sob vigilância por 24 horas, tendo feito uma tentativa anterior de suicídio. William Barr, secretário da Justiça no governo Trump, disse que desconfiava da versão para a morte de Epstein, mas acabou convencido pela investigação de que havia sido resultado de “uma tempestade perfeita de erros” cometidos na que deveria ser uma das cadeias mais seguras dos Estados Unidos.

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Claro que os conspiracionistas não acreditam nisso — inclusive porque existem impressionantes perguntas sem resposta na vida real. Por exemplo, o que explica o fato de que Epstein tenha visitado a Casa Branca de Bill Clinton dezessete vezes? E que tenha levado pelo menos oito mulheres com ele, conforme mostram os registros do livro de entrada da sede do governo americano? E que, fora da presidência, Clinton tenha viajado para a África no avião de Epstein?

A mulher que sabe tudo da vida de Epstein, Ghislaine Maxwell, está cumprindo pena de vinte anos por ter participado de aliciamento e tráfico de menores. Dá aulas de comportamento em sociedade para colegas de prisão, na Flórida, e não conta nada.

Escavando agenda, e-mails, registros de passageiros do “Lolita Express” e outras montanhas de informação, muitas escondidas nos processos criminais, jornalistas que cumprem o mais importante mandamento da profissão — vasculhar tudo que se refira aos poderosos — estão lentamente trazendo ao conhecimento público dados que permaneceriam sepultados, para alívio dos ricos e influentes que caíram sem pudor na teia do tarado.

É impossível não terminar perguntando: até tu, Chomsky?

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