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Cristina Kirchner quer ser Lula: receber uma condenação e virar o jogo

É um “pelotão de fuzilamento”, já antecipou ela, sabendo que não vai escapar, mas protegida pela imunidade e pelas incertezas latino-americanas

Por Vilma Gryzinski 6 dez 2022, 06h16
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  • Sacolas com milhões de dólares encostadas no muro de um convento, enriquecimento de mais de 12 000% e 51 obras públicas concedidas a um ex-bancário que virou grande empreiteiro – ou quase, considerando-se que não fez muitas delas.

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    Como no Brasil, a corrupção argentina tem cenas de pastelão. Tem também um cinismo tão formidável que leva a população honesta a reagir da mesma forma: “Ainda por cima, riem da nossa cara”. E tem o fator incerteza. O que parece ser acusações de roubalheira inacreditável e irrefutável, amparadas num trabalho consistente de promotores e juízes, pode ser manipulado conforme simpatias políticas. O que era sólido desmancha-se no vício insuperável da América Latina pelo populismo.

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    Cristina Kirchner sabe disso e já preparou bem o terreno para fazer o papel de vítima na condenação esperada para hoje de um dos três processos que correm contra ela, o das obras públicas superfaturadas na província de Santa Cruz, o berço onde foram gestadas as carreiras – e a fortuna – dela e do marido, Néstor.

    Sem precisar estabelecer nenhum vaso conectante com a realidade ou algo remotamente parecido com a verdade, Cristina é uma força da natureza, uma agente política que provoca, em doses maiores ainda do que Lula, adoração e repúdio.

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    Como ela é também vice-presidente e presidente do Senado, a eventual condenação, por pelo menos um dos crimes de que é acusada – chefiar associação ilícita e administração fraudulenta, o que daria uma pena de doze anos -, está protegida pela imunidade.

    Quanto ao tribunal da opinião pública, os resultados já são conhecidos: entre 20% e 25% dos argentinos são cristinistas incondicionais, aconteça o que acontecer, e mais ainda depois que ela sofreu, em setembro, uma tentativa de assassinato. Mais de 50% dos argentinos têm horror a ela e nenhuma dúvida sobre o assalto organizado aos cofres públicos.

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    Por causa dessa rejeição, ela convocou Alberto Fernández para ser presidente, colocando-se “humildemente” como vice. Agora, fala mal dele – como defender um dirigente que comanda um quadro de inflação anual de 100% e o aumento acelerado dos níveis de pobreza?

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    Também conduz seus problemas com a justiça como se fossem questões existenciais para a Argentina – a famosa confusão entre o ego exacerbado dos populistas e os destinos da nação.

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    “Néstor Kirchener e depois sua esposa, Cristina Fernández, instalaram e mantiveram no seio da administração nacional uma das matrizes de corrupção mais extraordinárias que se registraram no país”, diz a denúncia do promotor Diego Luciani.

    Essa “associação ilícita de características singulares” foi tão bem delineada que “criaram uma empresa construtora que daria continuidade à manobra”. À frente dela, o ex-bancário Lázaro Baez, “amigo íntimo e sócio comercial” de Néstor Kirchner. Foi ele quem enriqueceu mais de 12 000% com as 51 obras públicas cujas concorrências, miraculosamente, ganhou – nessa os argentinos ficaram bem atrás do Brasil, que diversificou a dinheirama entre um consórcio de empreiteiras.

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    Só uma das 51 obras manteve o preço original. Vinte quatro foram abandonadas. “Em 39 casos, Báez conseguiu 700 meses de prorrogação, algo como 63 anos”, diz a acusação. 

    O promotor também acusa Cristina de ter armado um esquema para “limpar tudo”, com a colaboração de José López, secretário de Obras Públicas nos governos do casal Kirchner.

    López protagonizou o inesquecível episódio em que foi filmado de madrugada com cinco sacolas de mão contendo nove milhões de dólares, seis relógios de luxo e um fuzil, levadas para o Mosteiro Nossa Senhora de Fátima. Um vizinho de nome Jesús viu a cena e chamou a polícia.

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    Ele tinha ido ao mosteiro por ter contato com as freiras e achar que seria um bom lugar para esconder o dinheiro. Foi condenado a sete anos por enriquecimento ilícito e libertado depois de quatro anos e dez meses.

    Um estado permanente de corrupção que envolve até freiras consagradas a Nossa Senhora de Fátima praticamente diz tudo sobre as pragas que nos assolam.

    Sindicatos peronistas já ameaçaram “parar o país” se Cristina for condenada. Claro que seus partidários dizem que ela está sendo “perseguida” porque quer ajudar os pobres. Quem já não viu esse filme?

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    Dramaticamente, Alberto Fernández anunciou ontem em cadeia nacional que pediu a “investigação penal” de um grupo de juízes que viajou com diretores do Clarín, o jornal que não dá sossego ao governo, para um fim de semana na Patagonia.

    “A Argentina precisa de uma vez por todas de funcionários honestos, juízes probos e empresários que obtenham seus lucros sem corromper os outros”, disse, com formidável cara de pau.

    Detalhe: as mensagens no Telegram dos envolvidos foram hackeadas. 

    Quem já não viu esse filme?

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