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Por Vilma Gryzinski
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Cinco pontos para lembrar durante o que deve ser uma guerra longa

Quem quer ter uma posição equilibrada, levando em conta os múltiplos dilemas da guerra Israel-Hamas, precisa ter em mente algumas considerações

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 out 2023, 08h35 - Publicado em 20 out 2023, 08h21

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e Benny Gantz, o homem que chamou para compartilhar o governo de emergência — e a quem a maioria dos israelenses gostaria de ver em seu lugar — já avisaram que a guerra vai ser longa. Obviamente, com vítimas múltiplas e desdobramentos ainda insondáveis. A iminência do ataque por terra torna a situação mais crucial.

Quem almeja operar fora da “chave única” e compreender como são complexos os fatores envolvidos, cheios de decisões que a maioria das pessoas jamais se verá obrigada a tomar, precisa de cabeça fria para navegar nesse mar de chamas, literais e metafóricas.

Algumas considerações podem ajudar:

Direito à autodefesa. Um cessar-fogo interromperia a legítima defesa do povo de Israel, direito e obrigação do governo. É fácil criticar os Estados Unidos por vetarem o projeto de resolução proposto pelo Brasil à Assembleia Geral da ONU por propugnar o cessar-fogo. Muitos países votaram a favor já sabendo que os Estados Unidos iam ser contra.

O que aconteceria se houvesse um cessar-fogo? O Hamas cantaria vitória e seus principais integrantes, responsáveis por mandar torturar, mutilar, incinerar, sequestrar e matar 1 600 israelenses (na esmagadora maioria, havia alguns trabalhadores rurais tailandeses) escapariam ilesos para planejar novas matanças.

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Todo mundo vê que a legítima reação de Israel é complexa e provoca vítimas inocentes porque o Hamas opera numa rede subterrânea, com a população civil por cima.

Israel deveria desistir de reagir por causa disso? Seria, obviamente, pedir uma contenção que jamais foi praticada em outros cenários. Por exemplo, para eliminar o Isis de Mosul, a cidade iraquiana onde os ultrafundamentalistas haviam se entrincheirado, foram mortas em bombardeios entre 9 000 e 11 000 pessoas. O objetivo vital de acabar com o Estado Islâmico justifica isso? Ou seria melhor não fazer nada para poupar os civis? O que seria hoje um mundo com jihadistas decapitadores ocupando território iraquiano?

Depois do desembarque na Normandia, em junho de 1944, a campanha para expulsar os alemães da França ainda levou dois meses. Cerca de 60 mil franceses — repetindo, franceses, as pessoas que iriam ser libertadas da ocupação — morreram nos bombardeios em massa de americanos e ingleses. Os alvos eram os alemães, mas havia civis inocentes no caminho.

É por isso que guerra, na sua definição mais sucinta, é o inferno.

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2. Os jornalistas honestos querem acertar, mas podem errar, inclusive quando são levados por suas próprias ideias pré-concebidas. O mais célebre jornal do mundo, o New York Times, foi mudando sucessivamente suas manchetes depois da explosão no hospital em Gaza. “Ataque israelense mata centenas em hospital, dizem palestinos”, foi a primeira. A segunda: “Pelo menos 500 mortos em ataque em hospital de Gaza, dizem palestinos”. Terceira: “Pelo menos 500 mortos em explosão em hospital de Gaza, dizem palestinos”.

Quando o Exército de Israel e as fontes dos serviços de inteligência americana que têm tanto trânsito no Times começaram a apresentar uma versão completamente diferente, inclusive com imagens mostrando um foguete que é disparado de uma área atrás do hospital e, por acidente, cai e explode em seu estacionamento, os títulos foram ficando cada vez menos assertivos. O Times fez uma reportagem a respeito.

Uma fonte de inteligência da União Europeia disse que “não houve 200 nem 500 mortos, mas algumas dezenas, entre dez e 50”.

A veneranda BBC, envolta numa discussão grotesca sobre não chamar o Hamas de terrorista, disse que foi um “erro” de seu correspondente, Jon Donnison, afirmar ao vivo que não via outra possibilidade sobre a tragédia no hospital a não ser a de um ataque israelense.

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Outra atitude precipitada: muitos órgãos publicaram uma foto de dimensões indescritíveis, com médicos do hospital Al Ahli dando uma entrevista num pódio, cercados de pais segurando seus filhos mortos, envoltos em mortalhas branca. A foto foi obviamente armada, os pais não estavam ali esperando os médicos falar, com as pequenas vítimas nos braços. Foram chamados e colocados para criar o cenário trágico. Isso não é ético.

Se até jornalistas formados para distinguir — ou tentar distinguir — o que é fato do que é versão ou encenação se enganam, imaginem o que acontece nas redes sociais.

3. “Generais de poltrona” é como são chamados analistas e comentaristas que dizem aos generais de verdade, envolvidos com questões imediatas de vida ou morte, o que devem fazer.

Thomas Friedman é um especialista em dizer o que Israel deve e não deve fazer — sendo infinitamente replicado. Suas colunas são interessantes e refletem uma carreira profissional riquíssima, mas não são as pedras da lei. Numa das mais reproduzidas, ele diz que seria um grande erro para Israel entrar por terra em Gaza.

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Se Israel fizer isso, “vai detonar os Acordos Abraâmicos, desestabilizar mais ainda os dois aliados mais importantes da América (Egito e Jordânia) e impossibilitar a normalização com a Arábia Saudita — grandes reveses estratégicos”.

E o que fazer para garantir que o Hamas não volte a se infiltrar em Israel e matar homens, mulheres, crianças e jovens que estavam numa rave?

“Eu não sei no momento”.

Ou seja, ele sabe o que não fazer, mas não sabe o que fazer. Qual deveria ser a reação dos líderes políticos e militares de Israel. Esperar pela próxima coluna?

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Leiam os bons colunistas com atenção, principalmente os que tiveram um histórico de credibilidade, mas não esperem respostas para os dilemas atuais dos generais de poltrona.

4. Tudo o que começar com “não é antissemitismo criticar Israel” vai terminar incorrendo exatamente nisso.

Ninguém mais do que os israelenses está criticando seus líderes, e enormes consequências ainda virão pela frente. São críticas merecidas devido ao incompreensível estado de despreparo que permitiu a infiltração em massa do Hamas. Muitas outras críticas são feitas aos supremacistas com que Netanyahu se aliou para ter maioria no parlamento. Miraculosamente, eles estão calados nessas horas de eventos existenciais.

Isso é muito diferente de colocar Israel na mesma categoria do Hamas e, mais, condenar o próprio conceito da existência de Israel. Termina em chamar de idiotas quem não nega o direito à existência de sete milhões de judeus em sua nação reconstituída.

5. A escritora americana Lionel Shriver sugere no Spectator que o mais sensato é seguir uma linha política à la carte, não de menu fechado. “Ser ‘progressista’ não o obriga a justificar a carnificina e a tomada de crianças como reféns. Você pode continuar simpatizando com os palestinos, continuar criticando a política israelense nos assentamentos da Cisjordânia, e ao mesmo tempo condenar que o Hamas chacine inocentes. Somos todos agentes morais independentes capazes de ver incidentes isolados como realmente são e não nos beneficiamos se fechamos nossos olhos à realidade só porque o que aconteceu não marca um ponto para o nosso time”.

É difícil, mas vale a pena tentar.

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