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Cameron está com a faca no pescoço

Rebelião interna por causa do referendo europeu ameaça o primeiro-ministro

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h21 - Publicado em 29 fev 2016, 11h11
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  • Susto do establishment: Cameron corre atrás do prejuízo

    Susto do establishment: Cameron corre atrás do prejuízo

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    Há pouco mais de 25 anos, em 22 de novembro de 1990, o impossível aconteceu na Grã-Bretanha: Margaret Thatcher foi esfaqueada pelas costas, metaforicamente, por seu próprio Partido Conservador. Teve que renunciar como primeira-ministra jamais derrotada nas urnas e personalidade política mais importante e incendiária do país desde Winston Churchill. Bem, David Cameron não é nenhuma Thatcher, mas pode estar a caminho de um destino parecido. Curiosamente, o motivo principal, como aconteceu com a dama de ferro (e laquê no penteado inamovível) é a participação britânica na União Europeia.

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    Em má hora, Cameron prometeu um referendo sobre a questão e agora, não só tem que cumprir, como corre o risco de uma rebelião interna que pode levar à sua queda . No sistema parlamentarista, o chefe de governo pode ser submetido a um voto de confiança e perder, com participação de seus próprios correligionários. Nada que o PMDB nunca tenha visto, mas de consequências econômicas potencialmente enormes, para o país e o mundo. Se o voto pela saída ganhar e Cameron cair, a conjunção de instabilidades é de arrepiar.

    Iain Duncan Smith, secretário do Trabalho e de Aposentadorias, é um dos seis ministros de Cameron em estado de motim. Eurocético desde sempre, ele está uma fera com Cameron, a quem desafia por não respeitar a promessa de liberar os integrantes do governo para fazer a campanha que quisessem na questão do referendo. Acusa Cameron e seu ministro da Economia, George Osborne, ambos totalmente empenhados em que a Grã-Bretanha continue a integrar a União Europeia, de demonstrarem um conceito negativo sobre o próprio país quando falam em “salto no escuro” “choques profundos” que o voto pela saída provocariam. “Falam que somos incapazes, pequenos demais”, disse ele. “Eu tenho uma opinião diferente, acha que a Grã-Bretanha é um grande país, o povo é inventivo, inovador, e vai encontrar um jeito de ter um bom pacto.”

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    Cameron é um pitbull com cara de poodle e teve gente que comentou que o carpete da câmara ficou encharcado de sangue depois que pulou na jugular de  Boris Johnson, o prefeito de Londres e aspirante a um dia chefiar o governo, por ter passado a apoiar o  voto pela saída. A gana foi tanta que até prometeu pegar mais leve. Mas se nem Margaret Thatcher resistiu a uma conspiração interna, sempre as mais violentas, não será ele quem defenderá o forte.

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    A integração à União Europeia é mais um dos cenários, dos vários que se desenrolam hoje no mundo, no qual o establishment se descobre surpreendido por aquilo que os bem-pensantes consideram um povinho burro que não entende o que é melhor para ele – sem usar publicamente, claro, palavras tão rudes. Nove entre dez economistas acham que sair do mercado comum seria desastroso e toda a imprensa, da direita à esquerda, quase que unanimemente está boquiaberta com a força da opinião pela saída. Até Jeremy Corbyn, o  parlamentar ultra-esquerdista eleito para liderar o Partido Trabalhista, diz que vai trabalhar contra o Brexit, como eles chamam. Como Corbyn nunca perde uma chance de perder uma chance, dá para desconfiar da causa santa.

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    Até pouco tempo atrás, os eurocéticos tinham se reduzido ao que era visto como excentricidade fruto da ignorância, com o Ukip, o Partido pela Independência do Reino Unido, à frente. Nigel Farage e seus brucutus tiveram 3,8 milhões de votos na eleição de maio do ano passado, mas devido a peculiaridades do sistema eleitoral, conseguiram somente um parlamentar. Cameron, em compensação saiu consagrado, com uma vitória que as pesquisas davam por muito difícil e uma economia  com sinais de grande vitalidade, um espanto no marasmo europeu.

    O rio da política é mais mutante do que o de Heráclito. O dia em que Margaret Thatcher  pegou sua bolsa – da marca Launer, como as da rainha, e tão legendária que originou até um novo verbo em inglês, to handbag, ou dar bolsada nos adversários –  e foi para casa, estarrecida mas de cabeça erguida, não pode ser esquecido por nenhum político britânico que se dedique à mais nobre das artes da categoria, a sobrevivência. Se cuida, Cameron.

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