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Bruxaria: Argentina retoma seu destino; até quando vai durar?

A vitória de A a Z do peronismo é a situação habitual; o diferente é que a líder, Cristina Kirchner, esteja como vice e isso não é bom para Fernández

Por Vilma Gryzinski 28 out 2019, 05h56

Em qualquer país normal, uma vitória como a da Frente Todos seria saudada com comemorações dos vencedores, euforia dos eleitos e tristeza dos derrotados.

Como a Argentina é tudo, menos um país normal, tudo isso aconteceu, mas sobrepujado por questões alucinantes.

A mais imediata: até onde o dólar vai bater?

A de médio e longo prazo: até quando Cristina Kirchner vai resistir disciplinadamente no cargo de vice-presidente, cujo pressuposto é a discrição, antes de jogar na cara de Alberto Fernández que só foi eleito por causa dela?

A explosão do dólar, com a consequente implosão da economia, abre outras dúvidas. Mauricio Macri aguenta até a transmissão do poder, como nos países normais, o que o tornaria uma exceção entre os presidentes não peronistas?

Pode ter que antecipar o fIm do próprio mandato, como aconteceu em 1989 com o sóbrio e respeitado Raúl Alfonsín, reduzido a um alfajor esmagado pelo descontrole econômico.

Ou fugir de helicóptero da Casa Rosada como Fernando De la Rúa, em 2001, com apenas dois anos de mandato, quando saques e confrontos já tinham deixado 30 mortos e não demorariam a chegar à Casa Rosada.

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Macri quer, evidendentemente, deixar um exemplo de civilidade e estabilidade na alternância de nopoder para o país. 

O único problema são os fatos. Quando assumiu, em 2015, numa vitória que parecia impossível contra a muralha peronista, o dólar esta a 13 pesos. A cotação bateu em 65, 80 no paralelo, na véspera da eleição. 

Todo mundo sabia que hoje vivia mais do mesmo: tentativas desesperadas de controlar o desmoronamento.

O teto para a compra da moeda, por cidadãos comuns, foi estabelecido em 200 dólares. Na prática, significa que não dá para recorrer ao único instrumento de preservação do derretimento das economias de quem consegue poupar alguma coisa.

Nada de novo, infelizmente, para os argentinos.

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A novidade é a composição do poder, com uma vice-presidente poderosa e um presidente que tenta fazer de conta que que manda é ele e ponto final.

O pessoal do entorno tanto de Cristina Kirchner quanto de  Alberto Fernández tenta passar a segunda imagem, claro.

“Vão ter uma surpresa com Cristina. Está todo mundo fazendo todo tipo de especulações”, disse ao salte Infobae”, Oscar Parrilli. Ele foi diretor do serviço de inteligência durante o governo dela, com mais de um choque profissional (“Me deixa muito fula que você seja tão idiota. Tchau”, dizia um telefonema vazado, esse karma dos poderosos.)

“Foi ela que ofereceu a candidatura a Alberto e foi a primeira a perceber o que estava acontecendo, e sabe perfeitamente qual é o seu papel.”

Geralmente, tudo o que um sujeito como Parrilli declara é exatamente o oposto da vida real. Mas o simples esforço de desmentir um futuro confronto indica a preocupação evidente.

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Assessores do presidente eleito também dizem que Cristina teve “zero influência” na formação do gabinete, o que não significa que não terá “gente sua”.

Mais importante: além de se falar “dezenas” de vezes por telefone todo dia com Cristina, Fernández mantém um bom relacionamento com o principal operador dela, o filho, Máximo Kirchner, líder da corrente La Cámpora.

Esta é justamente a corrente à mais esquerda do peronismo atual. Alberto Fernández tenta passar uma imagem mais centrista e equilibrada, principalmente em termos econômicos.

LÍDER ESPIRITUAL

A Argentina já teve duas mulheres na vice-presidência e uma quase.

A menos conhecida é a que vai deixar o governo com Macri, Gabriela Michetti. Ex-deputada e senadora do mesmo partido que ele, o PRO, paraplégica desde 1994 por causa de um acidente de carro, enrolou-se no roubo de várias sacolas com dinheiro, em peso e dólares, furtados de sua casa por um ex-segurança.

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Não eram grandes quantias – nem remotamente comparáveis às centenas de milhões de dólares que circularam em malas  durante o governo de Néstor Kirchner e, depois, de sua mulher, Cristina, fruto de subornos pagos por empresas beneficiadas com grandes contatos. O movimento foi criteriosamente anotado, durante anos, pelo motorista que acompanhava os intermediários.

Como todos os argentinos que conseguem, Gabriela guardava dinheiro em dólares, em espécie, mas pegou mal.

Incomparavelmente mais dramática foi a atuação de Isabelita Perón, a ex-dançarina de cabaré que se casou com o general exilado, voltou com ele à  Argentina em 1973, foi colocada como vice na chapa do marido e acabou por substituí-lo quando morreu.

Antes, completou a total e absoluta destruição da Argentina, orientada por José López Rega, ou O Bruxo, um astrólogo e ocultista que havia se tornado a eminência parda de Juan Perón.

As batalhas entre peronistas de direita, chefiado pelo Bruxo, e de esquerda, os atentados contra civis e militares,a anomia de Isabelita, a dissolução institucional  e outros males conhecidos levaram ao golpe militar de 1976.

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A outra mulher que foi “quase” vice-presidente tem a mais conhecida, embora excessivamente mistificada, história: Eva Perón.

Ex-atriz de rádio, com incursões no ramo do entretenimento noturno, como Isabelita, Eva tornou-se uma revelação política, uma populista por direito próprio, estrela que usava Dior e Cartier para visitar os descamisados que a tratavam como mãe dos pobres, uma espécie de princesa Diana louca pelo poder que tocava leprosos e açulava a luta de classes.

Ao contrário do marido, mas hábil em “acomodar” interesses diversos, Evita, chamada de “égua” ou simplesmente de “ela” por oficiais que tentavam seguidamente derrubar o peronismo, foi impedida, pela oposição dos militares, de se candidatar a vice-presidente.

O precoce câncer de ovário a levou do mundo dos vivos para a esfera dos mitos no ano seguinte, em 1952. Ganhou o título de Líder Espiritual da Nação.

Perón a substituiu, entre as paredes da Casa Rosada, por uma menina de quinze anos que venerava Eva.

“Voltarei e serei milhões”, é a herança mais conhecida, em termos de frases, que deixou para os argentinos – o filme ruim e equivocado de Madonna não conta.

Cristina Kirchner está, muito provavelmente, sentindo isso: ela voltou e está sendo saudada por milhões.

Ai de ti, Argentina.

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