Aprendendo a perder com ‘Games of Thrones’
E outros casos de derrotados famosos que preservaram a dignidade e a capacidade de pensar em momentos difíceis
A maioria dos personagens despachados para o além na série Game of Thrones teve fim violento. Foram decapitados, apunhalados, flechados, envenenados, destroçados por cães ferozes e outras formas de manter os espectadores mesmerizados. No último episódio, Alliser Thorne, interpretado pelo ator Owen Teale, teve uma oportunidade rara: dizer as famosas últimas palavras.
Fez bonito. “Eu tive uma escolha”, disse ele, dirigindo-se ao recém-ressuscitado Jon Snow. “Eu lutei e eu perdi. Agora, estou em paz… mas você vai lutar nessas batalhas para sempre.” Depois de passar metade de um episódio sendo lavado como um Cristo renascentista ou um Che Guevara em Vallegrande, o novo morto-vivo não parece muito feliz.
Perder, mas pelo menos plantar uma dúvida na cabeça do inimigo ou frear sua euforia, mesmo por um momento, ao dar um exemplo superior de dignidade, não é, definitivamente, para todos. Mas não faltam história e literatura para dar uma força nessas horas. A seguir, alguns exemplos.
“Uma batalha perdida é uma batalha que pensamos ter perdido”. Mestre da auto-análise sem complacência, Jean-Paul Sartre deixou essa portinha aberta para os momentos de desespero, mas o resto da obra não é recomendado aos depressivos.
“É preciso ter mais coragem para sofrer do que para morrer”. Napoleão foi daqueles gênios que deixam frases para qualquer situação. Até para novos governos: “Se quiser ter sucesso nesse mundo, prometa tudo, não dê nada”.
“Combatemos por essa causa por tanto tempo e tão bem quanto fomos capazes. Fomos derrotados. Como cristãos, só nos resta um caminho a seguir. Temos que aceitar a situação”. Num tempo em que existiam cavalheiros, Robert E. Lee, o comandante do sul rebelado na Guerra Civil americana, foi o mais cavalheiresco de todos ao aceitar a derrota, mesmo que preferisse “sofrer mil mortes”.
“As mulheres nunca são tão fortes quanto na hora da derrota”. Através de Alexandre Dumas, a ficcionalizada rainha Margot foi tão forte quanto a de verdade, que passou dezoito anos presa, por ordens do irmão e, depois, do marido. Aproveitou para escrever suas escandalosas memórias.
“O sucesso não é definitivo, o fracasso não é fatal: é a coragem para continuar que conta”. Nenhuma seleção de frases, sobre qualquer assunto, pode deixar de fora Winston Churchill.
“Lutei contra a lei e a lei ganhou. Acabou a farra e perdi meu amor”. Uma maneira de traduzir a música do The Clash escrita por Sonny Curtis.
“Todo mundo mentiu para mim, todo mundo me enganou, ninguém me contou a verdade. O povo alemão não lutou heroicamente, merece ser dizimado. Não fui eu quem perdeu a guerra, foi o povo alemão”. Não é preciso dizer quem disse. Mas definitivamente é o melhor exemplo de falta de dignidade na derrota.