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Por Vilma Gryzinski
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Apesar do ridículo resultado de 87,29% dos votos, russos aprovam Putin

O país funciona mesmo em guerra, o dinheiro não virou pó, funcionários e aposentados recebem direito e o petróleo contornou sanções

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 19 mar 2024, 06h33 - Publicado em 19 mar 2024, 06h26

Seria bom acreditar que os resultados da eleição presidencial na Rússia foram inteiramente fraudados e que a oposição conseguiu avanços importantes. Mas o fato é que a maioria dos russos gosta de Vladimir Putin – mesmo com o resultado “soviético” de quase 90% dos votos num panorama eleitoral inteiramente controlado por ele.

Por quê? São pelo menos 80 mil russos que perderam a vida na Ucrânia, numa guerra inteiramente desnecessária, altos níveis de desconexão com o mundo ocidental, cerca de um milhão dos mais promissores profissionais jovens emigrados assim que o conflito começou e quase 25 anos de poder.

Outros políticos estariam profundamente desgastados. E outros políticos, mesmo dispondo de grandes recursos em petróleo, afundaram seus países, como a Venezuela.

É preciso ressaltar que Putin não é um Hugo Chávez ou um Nicolás Maduro, capazes de lançar a Venezuela na desgraça mesmo com a riqueza do petróleo. Putin usa bem o seu grande recurso natural. Não construiu um sistema “socialista” à la bolivarianos, mas tampouco o que existe na Rússia é o capitalismo ancorado na livre iniciativa e na igualdade de condições. A selvageria ocorrida imediatamente no começo do período pós-soviético foi o grande desastre que consolidou Putin como um salvador da pátria, um “paizinho” como os czares eram chamados na época do império.

MASSA CRÍTICA

Mais de 3,5 milhões de funcionários e integrantes das diferentes forças de segurança e aposentados recebem proventos que não são devorados pela inflação – 7,7%, muito razoável para um país em guerra. A guerra, aliás, aumentou o número de empregos na indústria bélica. E as famílias de cada morto na Ucrânia recebem o equivalente a quase 70 mil dólares, uma fortuna impensável para a maioria da população.

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Os desastres do início da invasão foram revertidos e a Rússia de Putin hoje está não só consolidada nos territórios roubados da Ucrânia, como virando o jogo em alguns pontos da frente de combates. China e Índia substituíram os mercados ocidentais perdidos. A presidente do Banco Central, Elvira Nabiullina fez algum tipo de feitiçaria e a economia, em plena guerra, cresceu 3,6% no ano passado. A morte no cárcere de Alexei Navalny eliminou a única figura de vulto da oposição. Putin parece confiante e até triunfante.

“O segredo de seu sucesso como líder é que não é um ditador que se mantém no poder somente pela repressão e pela propaganda”, escreveu Owen Matthews na Spectator. “Na verdade é como Recep Tayyp Erdogan na Turquia, um dos populistas mais implacavelmente bem sucedidos do mundo. Putin exerce o poder muito mais por consenso do que por coerção”.

“Putin continua a desfrutar do apoio de uma massa crítica de seu povo, com o qual compartilha a visão da Rússia como um país forte e poderoso que o Ocidente quer destruir”.

Qual teria sido a votação em Putin numa eleição legítima? É difícil arriscar, mas um levantamento feito no início do ano pelo Centro Nacional de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago mostrou um resultado impressionante: 66% disseram-se dispostos a votar em Putin, 64% declararam apoio à guerra na Ucrânia em alguma medida e 64% concordaram que o conflito “representa um combate civilizacional entre a Rússia e o Ocidente”.

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Uma maioria significativa de 55% declarou-se muito ou extremamente preocupada com a economia, mas ao mesmo tempo 48% disseram que sua vida nesse campo não havia mudado desde a guerra (19% declararam-se melhor e 32%, pior).

POSTO DE GASOLINA

Putin projeta uma imagem de total controle e poder que, frequentemente, obscurece a realidade da Rússia. Em 2023, o PIB russo foi de 1,8 trilhão de dólares, menor do que o do Brasil. A expectativa de vida dos homens, de 71 anos, também é menor.

O maior arsenal nuclear do planeta, com 5,5 mil armamentos, confere um peso desproporcional à Rússia de Putin. Muitos analistas ainda consideram o maior país do mundo como um posto de gasolina com armas nucleares. Ao convencer a maioria de que a Rússia tem uma grandeza muito maior, e encarná-la como líder, Putin garantiu um apoio majoritário e constante, não submetido aos crivos democráticos.

Seu maior adversário é uma história de guinadas quase inacreditáveis. Quem imaginaria a primeira revolução russa, a de 1905? A mudança total de regime em 1917? A consolidação do poder dos minoritários bolcheviques? A resistência ao nazismo na II Guerra? O surgimento de um certo Mikhail Gorbachev entre os apagados quadros do partido? O descolamento dos países da Europa Oriental? O desmoronamento da União Soviética em 1991?

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Nem a CIA, com seus batalhões de sovietólogos, previu isso nem ninguém mais. Que outras surpresas futuras terá reservado a eterna matriochka russa?

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