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Adiós, amigos: democratas perdem eleitores de origem latino-americana

De serem chamados de 'latinxs' às perdas causadas pelo aumento do custo de vida, vai-se uma fatia importante de um eleitorado de 34 milhões

Por Vilma Gryzinski 4 nov 2022, 08h01

“Por que estamos usando uma palavra que é apoiada por apenas 2%, mas ofende até 40% dos eleitores que estamos tentando atrair?”, exasperou-se um pesquisador do Partido Democrata, Fernand Amand, no site Politico.

Pessoas de origem latino-americana não querem, na maioria, ser chamadas de “latinxs”, a versão alucinadamente “correta” que procura neutralizar uma língua que, como o português, tem gêneros.

Usar a forma falsamente neutra é uma das maneiras mais garantidas de irritar um eleitorado imensamente variado – um exilado de classe média venezuelano tem pouco a ver com um trabalhador rural mexicano –, mas unido, historicamente, pelo conceito de que os democratas eram mais inclusivos e os republicanos mais fechados no bloco branco, protestante e menos dependente do Estado.

Outro fator irritante: fingir afinidade com a cultura latina, mesmo que seja para exaltar sua diversidade, como fez a primeira-dama Jill Biden. Encarregada de salvar o marido de suas próprias encrencas, ela também se enrolou ao exaltar as “bogidas” do Bronx – queria dizer bodegas, as lojinhas tocadas geralmente por porto-riquenhos. E ainda por cima se referiu aos “tacos no café da manhã”, dando a impressão de que comparava pessoas, e ainda por cima as pessoas que queria agradar, com a tradicional comida mexicana.

O “voto latino” é discutido intensamente desde que Donald Trump começou a atrair uma fatia desse eleitorado, dando um nó mental nos que o consideravam eternamente acorrentado ao Partido Democrata.

O conservadorismo cultural é um dos fatores mais mencionados. Quanto mais o Partido Democrata se compromete com causas avançadas, quando não discutíveis, como defender tratamentos médicos para crianças consideradas trans, mais se afasta de um eleitorado predominantemente católico – de catolicismo pré-Teologia da Libertação – e também evangélico.

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Outro motivo que os democratas convencionais consideram mais duro de engolir do que o taco mal colocado de Jill Biden (culpa do autor do discurso, claro): eleitores latinos dos estados americanos mais afetados pela imigração irregular abominam a política de, na prática, fronteiras abertas.

A eleição da deputada Mayra Flores, em junho passado (para preencher uma vaga excepcionalmente aberta), foi um caso exemplar disso. Chamada de “Miss Frijoles” ou “Miss Enchilada” – imaginem a hipótese contrária –, ela foi uma das latinas que protagonizaram uma “revolução no sul do Texas” por defender posições tradicionais do Partido Republicano.

Falar em “Deus, família e pátria” pode dar cadeia em Washington, mas fez sucesso no habitat de Mayra, que também é casada com um policial da Patrulha de Fronteira – testemunha direta do que virou a linha divisória entre Estados Unidos e México.

Em 2002, o cientista político Ruy Teixeira, de óbvia ascendência portuguesa, foi um dos autores de um livro que previa um avanço inexorável do Partido Democrata, movido por eleitores latinos, jovens progressistas, mulheres de classe média e outros estratos que aparentemente condenavam os republicanos à extinção.

Hoje ele escreve no Substack, considera-se um analista realista da bolha em que vive a maioria dos quadros do Partido Democrata e se define como “liberal herético”. Dá como um dos vários exemplos do pensamento da bolha propostas como “fronteiras abertas, ou vamos descriminalizar as fronteiras. Qualquer pessoa que conheça o mínimo sobre imigração e opinião pública nos Estados Unidos sabe que isso não vai pegar bem”.

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A eleição da próxima terça-feira é considerada, por motivos óbvios, um plebiscito em relação ao governo Biden. Custo de vida é o tema mais premente e as tentativas das lideranças democratas de virar o jogo, levantando como bandeira a defesa do aborto, depois da decisão da Suprema Corte de devolver aos estados a autoridade para definir a legislação a respeito, não tem dado resultados brilhantes.

“O assunto principal é a inflação. Todo mundo está extremamente louco da vida com o governo Biden por causa do preço da gasolina, da comida e dos remédios. E ainda tem a crise na fronteira, que acontece bem nos nossos quintais. Ninguém precisa ver isso no noticiário da televisão”, diz Mayra Flores, que foi para os Estados Unidos aos seis anos, com os pais e com eles trabalhou na colheita de algodão – uma atividade especialmente dolorosa por causa dos espinhos da planta que entram debaixo das unhas.

Existem 62,4 milhões de pessoas enquadradas na categoria hispânica nos Estados Unidos (o 1,7 milhão brasileiros não entram na conta), das quais 34,5 milhões aptas a votar. Em 2018, o Partido Democrata tinha uma vantagem de 40 pontos. Atualmente, está na faixa dos 27. Cerca de 50% pretendem votar em candidatos democratas à Câmara e 28% em republicanos.

Se o partido perder a maioria na Câmara e, talvez, refluir no Senado, vai ser dureza para Biden aprovar projetos importantes. A agressividade da campanha americana daria apoplexia coletiva nas autoridades eleitorais brasileiras. As inserções dirigidas ao eleitorado latino são mais equilibradas e, diante do prejuízo, estão focando nos assuntos que aparecem no topo da lista de suas preocupações.

E ninguém mais está falando em “latinx”.

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