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A triste farsa da visita de Obama a Cuba

Foi chamada, por americanos, de Cubama; um neologismo certo para definir a viagem

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h19 - Publicado em 24 mar 2016, 08h31
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  • Homem certo no lugar errado: Obama reconforta Raúl

    Homem certo no lugar errado: Obama reconforta Raúl

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    Como saber se um acontecimento é ou não histórico? Primeira dica: se o principal envolvido começar a classificar um determinado ato seu de histórico, ele definitivamente não é. Na verdade, é apenas propaganda. Foi isso que fez Barack Obama em sua visita a Cuba, ensombrecida pela tepidez com que falou a e sobre os pobres dissidentes cubanos e confraternizou entusiasticamente com o ditador Raúl Castro.

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    Como Napoleão exibia de seus generais e Margaret Thatcher de seus ministros, políticos não precisam ser apenas bons no que fazem. É preciso que também tenham sorte. Tão bafejado pelos fados no início de sua carreira política, Obama ultimamente tem dado azar. Americanos e cidadãos de outros países foram estraçalhados em vários pedaços pelos terroristas que atacaram em Bruxelas num dos vários momentos em que ele demonstrava afeto e consideração pelo octogenário Raúl, exultante em pegar carona na popularidade do visitante.

    Deve ser um plano do Estado Islâmico para aborrecer o presidente americano. Ele estava num jogo de golfe quando o vídeo do primeiro jornalista americano decapitado pelos terroristas foi divulgado. Entediado, interrompeu o jogo para falar rapidamente e voltou ao que interessava. Em Cuba, reservou exatamente 50 segundos para falar da atrocidade praticada pelos muçulmanos radicais na Bélgica.

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    Reatar relações com Cuba pode vir a se comprovar como uma boa manobra diplomática do ponto de vista dos interesses americanos. Para o regime cubano, é vital. Com a perda do petróleo e da proteção dos padrinhos bolivarianos da Venezuela, Cuba, como uma das tantas jineteras que seduzem turistas, precisa procurar outro senhor que a ajude. Em termos regionais, também interessa aos Estados Unidos preparar e estabilizar o catastrófico fim  do regime venezuelano que se avizinha.

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    Não é impossível que o tratamento brutal reservado aos poucos dissidentes cubanos se abrande, pelo menos por algum tempo, embora a corajosas integrantes do grupo Damas de Branco tenham levado pancada com Obama já em Cuba. O encontro do presidente com dissidentes, que estavam emocionados, foi morno e, da parte dele, covarde.

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    O jornal inglês The Guardian acompanhou dois dissidentes que assistiam pela televisão o principal discurso de Obama em Havana. Ailer González e Claudio Fuentes ficaram estarrecidos. Ao final do palavrório cheio de vento sobre o futuro, Fuentes, que havia apanhado da polícia no dia anterior, perguntou: “Quem ele pensa que é? Um guru? Esse discurso é um presente para Raúl Castro.”

    Obama já havia criticado os Estados Unidos – atenção, o país que ele preside – por não ter sido mais bonzinho com Cuba e exaltado a farsa da saúde e da educação que o regime comunista provê aos cubanos. Enquanto ele falava, a maioria da população provavelmente sonhava com frangos.

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    Outro fato falsamente “histórico” foi a entrevista coletiva de Obama e Raúl Castro. Um jornalista americano perguntou se existiam presos políticos em Cuba. Adivinhem o que o ditador respondeu. Ele também disse que se o entrevistador desse os nomes dos presos, seriam libertados. O jornalista deveria então apresentar a lista com 89 nomes elaborada pela Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação. Dos 89, onze estão em liberdade vigiada e um em prisão domiciliar. Adivinhem se o jornalista ficou calado, achando que já tinha feito sua pergunta “histórica”.

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    Obama poderia ter feito toda a política de abertura a Cuba sem precisar aparecer ao lado do ditador, com o grafite gigante de Che Guevara ao fundo. Poderia até ter viajado a Cuba, para contrabalançar a visita muito mais importante à Argentina sob a presidência de Mauricio Macri, ao qual os Estados Unidos estão dando excepcionais manifestações de apoio. Não precisava levar a Cuba a mulher e as filhas, sempre uma prova de consideração além do script nas visitas de estado, mas Michelle provavelmente quis usar seu guarda-roupa novo, ao estilo tropical chique, cheio de vestidos estampados e decotados.

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    Obama não deveria, acima de tudo, ter ido ao jogo de beisebol que estava na agenda, mas deu  o azar de ser precedido pelos atentados na Bélgica. Obama foi assim mesmo, todo saltitante de camisa branca e óculos escuros, imitando o homem que talvez gostaria de ser, Jay Z, o ex-traficante que virou milionário da música e se casou com Beyoncé. O casal Obama praticamente surrupiou o estilo de Jay Z e Beyoncé quando visitaram Cuba. Só faltou o charuto, que Obama deve ter fumando escondido da mulher.

    Na Argentina, o presidente americano deu outra coletiva, respondendo a perguntas sobre terrorismo e Estado Islâmico. Reiterou que sua prioridade é combater os radicais muçulmanos – só o fato de ter que reiterar isso já indica a tibieza com que trata o assunto. E criticou, sem dizer os nomes, as propostas dos pré-candidatos republicanos Donald Trump e Ted Cruz, que já falaram em suspender a entrada de refugiados vindos da Síria e outros países muçulmanos, para prevenir a infiltração de terroristas como os que atacaram na Bélgica, ou fazer terra arrasada nos territórios sob controle do Estado Islâmico.

    Ambas as propostas podem ser realmente autodestrutivas. Mas ressalte-se o fato de que depois das atrocidades de Bruxelas, com uma dezena de vítimas americanas, Obama falou mal de adversários políticos internos. Foi outra prova de confusão política, falta de iniciativa e inapetência para enfrentar o enorme problema representado hoje pelo terrorismo islâmico. O que os dissidentes cubanos, tão poucos e tão acossados, poderiam esperar que viesse daí?

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    A visita de Obama a Cuba foi chamada pelos sicofantas de hábito de Cubama, um neologismo em inglês que não tem as mesmas conotações em português. Mesmo sem querer, criaram o nome certo para o homem certo no lugar errado.

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