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‘Hilda Pede Contato’ mostra busca de poeta por seu lugar no mundo, e além

Documentário de Gabriela Greeb esmiúça lado de Hilst pouco conhecido: de muitos amigos, a autora homenageada pela Flip 2018 também queria contatos no além

Por Luísa Costa Atualizado em 29 jul 2018, 00h54 - Publicado em 27 jul 2018, 10h34

“Eu gostaria que hoje desse certo.” Este é o apelo que a escritora Hilda Hilst faz a autores da outra dimensão, por meio do rádio, na tentativa de conseguir uma resposta que confirme a vida após a morte. A cena abre o filme Hilda Hilst Pede Contato, de Gabriela Greeb, que faz uma visita à trajetória da poeta brasileira a partir de gravações inéditas deixadas pela própria escritora.

Com estreia na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o filme chega ao circuito comercial na próxima quinta, dia 2. O cenário é a Casa do Sol, chácara em Campinas em que morou até o fim de sua vida e onde hoje funciona o Instituto Hilda Hilst. Muitas das gravações são de arquivo, guardadas por seu antigo herdeiro, o escritor e artista plástico José Luis Mora Fuentes, morto em 2009.

Lembrada por colegas como alguém que não se interessou por sexo durante a maior parte da vida e como alguém que falava de maneira a tocar o coração do interlocutor, com uma preocupação e cuidado indistintos com tudo o que fosse vivo (dos amigos aos seus nove cachorros), Hilda queria chocar, prender a atenção. Logo após uma cena em que uma amiga faz um elogio a esse lado humano de Hilst, outra imagem de arquivo a mostra debochada, fazendo um gesto obsceno. E rindo muito.

A mistura do material de arquivo inédito — são cinquenta rolos de super 8 e mais de 100 horas de gravações — com cenas em que a atriz Luciana Domschke interpreta a autora, além de depoimentos e conversas de amigos íntimos resgatando a personalidade de Hilst, formam um mosaico curioso.

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Concatenado com seus escritos (em especial trechos da obra Tu Não Te Moves De Ti), a imagem que se forma é de uma mulher bem diferente, por exemplo, da cronista intempestiva do Correio Popular ou da poeta que resolveu chutar o balde e virar pornógrafa em dado momento da carreira, já que não tinha mesmo leitores.

“Ela era completamente desprovida de qualquer preconceito”, lembra uma amiga. Isso também se dava no ramo intelectual. O filme — um documentário que foge ao padrão convencional, viajandão e poético — mostra como uma pessoa cultivada, como ela era, transitava entre a razão e o misticismo sem se dar a necessidade de explicações. Como alguém que ama o conhecimento, como aos humanos, sem preconceito algum.

Em um momento de suas gravações, ela diz tentar contato com poetas mortos porque o mundo precisa saber que não há o que temer na morte. Hilda mudou sua literatura para “vender mais”. Gravava vozes para conversar com notáveis do passado, como Kafka ou Clarice. O fio condutor do documentário, literal e estendido pelos jardins da chácara, apresenta a busca de Hilda por contato: com leitores, com ídolos, com a vida após a morte. E os mesmos fios desembocam no mesmo lugar: sua própria literatura.

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