Circula em redes sociais e sites especializados em propagar boatos a notícia falsa de que que um deputado federal foi preso em flagrante por dirigir bêbado e, colocado em uma cela comum por engano, acabou agredido por outros detentos.
A lorota foi criada pelo notório Sociedade Oculta, blog já conhecido do leitor do Me engana que eu posto pela frequência com que inventa notícias (leia aqui, aqui, aqui e aqui). Leia abaixo a “reportagem”, já compartilhada cerca de 5.400 vezes por meio de Facebook, WhatsApp e Twitter:
Deputado apanha na cadeia ao ser preso por engano em cela comum
Um homem foi preso essa manha [sic.] em Brasilia [sic.], autuado em flagrante bebado [sic.] ao volante, feito o bafómetro [sic.], foi direcionado a [sic.] delegacia onde ficou preso por um período de 16 horas [sic.]
O que ninguém imaginava é que o cidadão nada mais era que o Deputado Federal, [sic.] Luiz Alado, embora ele tentou [sic.] se identificar como deputado, devido ao alto indice [sic.] de embriagues [sic.] os policias acharam que o Homem [sic.] estava dizendo aquilo sob o efeito do álcool [sic.]
[sic.] Ele falou que não podíamos lhe prender, que ele era alguém muito importante, Deputado Federal, porém como ele não portava documentos e estava em estado de embriaguez, não levamos em conta suas palavras, antes demos sequencia [sic.] no procedimento da prisão ,Diz [sic.] o policial Anderson Gerer
O Homem , [sic.] que até então não havia sido identificado como deputado, foi levado para a delegacia para ser ouvido , [sic.] porém apos ofender o delegado, ele ficou trancado em uma cela comum , [sic.] até que o efeito do alcool [sic.] passasse , [sic.] ele estava totalmente fora de si [sic.], disse o delegado de plantão .
Apos o deputado entrar na cela, houve desentendimento com alguns presos, que o reconheceram como parlamentar e começaram a bater no homem, que teve um olho roxo, escoriações pelo corpo e a camisa rasgada.
Dudu, detento que esta preso na mesma cela que o deputado ficou ,diz [sic.] que apoiou o espancamento porque ta [sic.] cansado de ver o povo brasileiro levar a pior na mãos desses politicos, [sic.] Dizem que nós somos bandidos, mas bandidos é esse políticos [sic.] sem vergonha, nós não fizemos nada de mais , [sic.] só realizamos o sonho dos brasileiros que é dar um pau em politico safado, [sic.] finaliza o detento.
O delegado, [sic.] diz que socorreu o deputado das agressões, porém só pode comprovar a identidade do homem, apos [sic.] o efeito do álcool passar.
[sic.] Se eu soubesse que o preso na questão era mesmo um deputado, até queria ter dado ums [sic.] tapa nele , [sic.] acrescentou um agente penitenciário.
O caso esta [sic.] sendo investigado em sigilo de justiça [sic.].
A notícia falsa do Sociedade Oculta não sobrevive a uma singela pesquisa sobre o nome do suposto deputado preso e agredido. Simplesmente não existe, entre os 513 deputados com mandato na Câmara e seus suplentes, nenhum Luiz Alado. O nome foi inventado.
Não há, além disso, nem sinal da notícia sobre o episódio envolvendo o deputado em veículos de imprensa confiáveis – que, certamente, não cometeriam tantos erros de grafia e pontuação quanto o criador deste boato (são 34 erros em 29 linhas).
Para inventar o enredo fictício do deputado federal embriagado, preso e agredido na cadeia, o Sociedade Oculta se baseou em uma história real e totalmente distinta: as agressões sofridas pelo deputado estadual de São Paulo Antonio de Souza Ramalho, o Ramalho da Construção (PSDB), em uma casa de shows, em fevereiro de 2011. É Ramalho quem aparece na foto usada para ilustrar a notícia falsa, com ferimentos no rosto e a camisa rasgada.
Na imagem abaixo, reproduzida a partir de uma reportagem da TV Bandeirantes, é possível ver que o homem retratado na lorota como o deputado Luiz Alado é, na verdade, Ramalho da Construção:
À época das agressões, Ramalho era suplente na Assembleia Legislativa paulista. Em entrevista ao portal G1 na ocasião, ele relatou o episódio, que aconteceu após um rapaz tentar se aproximar da mulher dele. Dois dos três agressores eram policiais civis.
“Minha mulher queria assistir ao show e fomos. Depois, fiquei na mesa e Viviane foi dançar com uma amiga. Em seguida, minha mulher foi abordada por esse policial civil [Pedro]. Ela então mostrou a aliança no dedo, disse que era casada e que eu estava no local. Mesmo assim, ele insistiu. Então fui pegá-la para dançar. O rapaz ainda se desculpou pelo que fez. Eu disse que tudo bem. Quando me virei, levei um soco do amigo dele, o outro policial [Otávio]. Aí não vi mais nada. Só sei que me contaram que, mesmo caído, me chutaram e chutaram minha mulher, que tentou me defender. Só pararam com a intervenção dos seguranças da casa. Eles pareciam estar bêbados”, afirmou o deputado estadual.
A “reportagem” sobre o deputado federal preso e agredido na cadeia é, portanto, apenas mais um boato criado na internet.
Agora você também pode colaborar com o Me engana que eu posto no combate às notícias mentirosas da internet. Recebeu alguma informação que suspeita – ou tem certeza – ser falsa? Envie para o blog via WhatsApp, no número (11) 9 9967-9374.