Carcereiro de Cabral não é jovem hostilizado por ele em 2010
Notícia falsa que circula sobretudo no WhatsApp diz que rapaz chamado de "otário" e "sacana" pelo peemedebista se tornou agente penitenciário em Bangu
De tão escandalosa, a coletânea de crimes atribuídos pela Operação Lava Jato ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) até parece produto da indústria de notícias falsas brasileira.
Cabral é réu em seis ações penais, acusado de 352 crimes de lavagem de dinheiro, além de corrupção passiva e formação de quadrilha. O Ministério Público Federal (MPF) mapeou, até agora, nada menos que 318,5 milhões de reais escondidos pelo peemedebista e seus aliados no exterior, valor dividido em dinheiro, ouro e diamantes. Cabral mantinha um guarda roupa com ternos italianos avaliados em 258.945 reais e pagou, com dinheiro de propina, de contas de gás de seu apartamento a suprimento de cachorro quente no aniversário de um filho.
Para infelicidade de Cabral, preso desde novembro em Bangu 8, todas essas acusações lhe foram feitas oficialmente e ele responderá a elas na Justiça Federal, diante dos juízes Marcelo Bretas e Sergio Moro.
Apesar da dificuldade em criar lorotas mais espetaculares do que a realidade cabralina, a fantástica fábrica de notícias falsas da internet brasileira se esforçou e não deixou passar batido o inferno astral do hóspede mais ilustre de Bangu.
Um texto que tem pipocado no WhatsApp nas últimas semanas diz o que se segue:
“Um vídeo que circula na internet há mais de seis anos, que teve milhares de acessos e que provocou, inclusive, ameaças de morte ao autor das imagens mostra quem era Sérgio Cabral já na época em que ele ainda governava o Estado do Rio de Janeiro.
Ao visitar um Complexo Esportivo, Cabral ouve de um adolescente de 16 anos, identificado como Sergio Sandro Sorayo Sarmento da Silva Souza Seabra, algumas reivindicações para melhorar o funcionamento do local para os moradores. O então governador, ao lado de seu vice Luiz Fernando Pezão, hoje governador do estado, hostiliza o adolescente.
Humilhado seis anos atrás pelo governador por reivindicar melhorias sociais, o adolescente daquela época tem hoje 22 anos e se tornou agente penitenciário da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Recentemente, Sergio Sandro foi designado para trabalhar no pavilhão onde Sérgio Cabral está preso desde novembro por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha”.
Embora parta de uma história verdadeira, a suposta lição de moral em Cabral não passa de mentira.
O episódio narrado pela notícia falsa realmente aconteceu e veio à tona em agosto de 2010. Em um vídeo publicado no YouTube, Sérgio Cabral aparece discutindo e xingando de “otário” e “sacana” um rapaz que interrompeu uma visita do ex-presidente Lula a um complexo esportivo em Manguinhos, comunidade da Zona Norte carioca, para fazer reclamações.
Conforme mostra o vídeo, o jovem, de fato, pediu ao presidente diante do peemedebista melhorias no local e reclamou a Lula que moradores da comunidade acordavam “com o caveirão na porta”. Ele acabou atacado pelo então governador, ladeado pelo atual mandatário fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
O fundo verdadeiro da notícia falsa termina aqui.
Ao contrário do que diz a lorota, o rapaz não se chama Sergio Sandro Sorayo Sarmento da Silva Souza Seabra, mas Leandro, conforme ele próprio diz ao final do vídeo. “Leandro, vai estudar, p…”, recomendou a ele muito educadamente o governador.
Segundo reportagens publicadas à época, seu nome completo é Leandro dos Santos de Paula, que tinha 18 anos quando ficou diante de Cabral e Lula e é morador da região conhecida como “Faixa de Gaza”, uma das mais violentas do Rio.
Ademais, uma simples consulta nesta página do governo do Rio de Janeiro mostra que nem Sergio Sandro Sorayo Sarmento da Silva Souza Seabra nem Leandro dos Santos de Paula são servidores da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap)
Não procede, portanto, a notícia de que o agente penitenciário responsável pelo pavilhão onde Sérgio Cabral está preso seja o jovem hostilizado por ele.
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