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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

Os erros da história do 7 de setembro – entrevista com Lilia Schwarcz 

A Rodolfo Capler, a historiadora falou sobre a data da Independência, Bolsonaro e respondeu perguntas sobre o movimento evangélico

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 set 2022, 16h28 - Publicado em 7 set 2022, 08h38

A data da Independência do Brasil cristalizou-se na memória nacional por meio de uma narrativa harmoniosa e imponente, construída sobretudo durante o Segundo Reinado. Se formos nos fiar na famosa tela de Pedro Américo, “Independência ou morte”, 1888, a ruptura do Brasil com Portugal foi um evento aventuroso que se deu na colina do Ipiranga. Segundo relato feito pelo alferes Canto e Melo, o príncipe regente D. Pedro, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, às margens do riacho do Ipiranga – montado em seu fogoso alazão – bradou diante de sua guarda de honra: “É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal!”. O relato do alferes foi registrado bem mais tarde e conquistou um lugar especial no panteão dos momentos épicos nacionais. O mesmo ocorreu com a pintura de Pedro Américo: o que era obra de imaginação do pintor, virou imaginário e realidade nacional.

Contestando essa versão oficial do 7 de setembro, Lilia Schwarcz, historiadora, antropóloga e professora titular no Departamento de Antropologia da USP, publicou a sua mais recente obra “O sequestro da Independência”, com Lúcia Stumpf e Carlos Lima. Lilia que é autora de inúmeros livros importantíssimos para a nossa historiografia, como “Brasil: uma biografia”; “Lima Barreto: triste visionário” e; “Pelas barbas do Imperador”, defende em seu mais novo trabalho, que o brado do Ipiranga – assim como a versão oficial em torno dele – não passa de um mito construído. Sobre a Independência, a historiadora afirma: “É processo, não apenas uma efeméride – tampouco, foi um ato militar”. 

Para lançar luz sobre o processo histórico que culminou na Independência do Brasil, que hoje completa 200 anos, entrevistei Lilia Schwarcz. Em nossa conversa, Lilia apontou a indolência do atual governo em relação aos preparativos do bicentenário, afirmando enfaticamente que a única coisa que veremos neste 7 de setembro é “Bolsonaro tentando projetar uma imagem de um novo D. Pedro I”. Schwarcz também expressou sua preocupação com o autoritarismo que permeia o país e comentou a ascensão política dos evangélicos, interpretada por ela como a formação de uma espécie de novo “centrão”.

A seguir, a entrevista completa:

 

Rodolfo Capler – Estamos comemorando hoje o bicentenário da Independência do Brasil. O que esta data comemorativa representa para o país?

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Lilia Schwarcz – Eu acabo de publicar, junto com dois colegas, um livro que se chama “O sequestro da Independência”. Neste trabalho eu chamo a atenção sobre o que esta data era e no que ela se converteu. A data da Independência sempre foi um grande momento de celebração da liberdade da sociedade brasileira. Desde o período republicano a data foi sendo convertida numa festa civil, de celebração dos caminhos e descaminhos do país. Era comum avistar, por exemplo, os estudantes passeando pelas ruas em festa, bandas de quarteirões, balões e até piqueniques. No fundo, a Independência deveria ser um pacto; o que a sociedade faz com o Estado e vice-versa. A partir de 1972 a festa da Independência passou a ser sequestrada pelos militares. De lá para cá, eles vêm transformando D. Pedro numa espécie de general que combatia pela soberania, quando na verdade, nunca se tratou disso. A Independência – na minha concepção – é processo, não apenas uma efeméride – tampouco, foi um ato militar. No período da ditadura civil-militar no Brasil, os militares trouxeram para o país o corpo de D. Pedro I – numa visão muito macabra que expressava uma necropolítica, pois estavam matando e torturando os opositores do regime. Eles queriam emplacar uma sensação de festa, porém de um ritual controlado e ordenado. Na minha opinião, agora em 2022, está ocorrendo um fenômeno paralelo. Se a ditadura militar trouxe o corpo de D. Pedro, o presidente Bolsonaro, por sua vez, traz emprestado o coração do príncipe regente, numa atitude muito mais necrófila. Ou seja, trata-se de um coração que não pulsa, mantido em formol. A metáfora “manter em formol” já diz muito do que é. Quando alguém utiliza essa expressão, pretende que algo tornou-se, de alguma maneira, obsoleto e insignificante… O presidente da República está aproveitando para fazer da efeméride uma ocasião para turbinar a sua reeleição. Além disso, enseja fazer da festa uma forma de suavização da crise financeira que o país enfrenta e, também, está valendo-se da festa para sequestrá-la (eu utilizo a palavra sequestro para me referir a um deslocamento de significado). O objetivo de Bolsonaro é posar como um D. Pedro contemporâneo. A ideia é mais ou menos a seguinte: se D. Pedro rompeu com o seu pai (a pátria) para garantir a soberania dos seus e da sua geração, então ele [Bolsonaro] – que gosta muito de ser chamado de mito – é uma espécie de D. Pedro upload para 2022. Com isso, o chefe do Executivo quer encampar a ideia de que vai se opor às instituições (como o Supremo Tribunal Federal), porque ele é aquele que garantirá a legalidade e a soberania da nação. A bem da verdade, o que temos visto são vários sequestros. Há um sequestro da data da Independência, assim como há um sequestro dos nossos símbolos (o uso do verde e o amarelo, por exemplo) e dos conceitos, como soberania e liberdade de pensamento. Por último, gostaria de dizer que há um sequestro imaginário. Em meu livro “O sequestro da Independência”, no apêndice, são mostradas várias fotos do Bolsonaro, seja numa motociata ou montado num cavalo, nas quais ele faz a mesma pose imponente de D. Pedro, retratada na tela “Independência ou morte” de Pedro Américo. Quando isso acontece uma vez, pode ser uma coincidência. Quando sucede duas vezes, é possível que seja muita coincidência. Agora, quando ocorre três ou mais vezes aí tem coisa…  

Rodolfo Capler – Nos 200 anos da Revolução Francesa a França fez grandes debates sobre o passado, o presente e o futuro. Já os americanos comemoraram os 200 anos da Independência, em 1976, organizando centenas ou até milhares de iniciativas no país inteiro. O que o governo brasileiro está fazendo para que esta data não passe em branco?  

Lilia Schwarcz – Em primeiro lugar ele está querendo que a data seja em branco. Digo isso, porque, naquele manual criado pelo governo (documento oficial aberto ao público) ele tem o modelo de um Brasil mestiçado, cheio de harmonia racial. Ou seja, ele quer mesmo que a data passe em branco e como branco. O manual de plano de governo do Bolsonaro possui em sua capa a imagem da tela “Independência ou morte” de Pedro Américo, porém sem autoria. Eles fazem uma confusão entre D. Pedro I e D. Pedro II. Há um momento em que eles passam a falar do D. Pedro II, talvez por que seja mais conveniente… O que me chama muito a atenção no referido manual é o simbolismo. Eles utilizam apenas a empunhadura da tela “Independência ou morte” de Pedro Américo e, ao fazê-lo, eles dão um caráter militar ao 7 de setembro. Isso é problemático, pois, muitas nações se imaginam a partir de uma pintura, que por sua vez, é imaginada. Por exemplo, a França e os Estados Unidos, se pensam a partir de telas que foram imaginadas. O que tem acontecido conosco no Brasil é que estamos nos pensando por meio de uma tela que está sendo destituída do seu sentido original. Se analisarmos o programa de atividades do governo para este 7 de setembro – me refiro ao documento oficial – veremos que não há nenhum seminário, muito menos alguma programação de atividades de conteúdo como aconteceu no bicentenário dos Estados Unidos. Não há sequer, um festival. O que há é o empréstimo do coração de D. Pedro e duas passeatas militares, uma em Brasília e outra em Copacabana. Ou seja, preparativo nenhum. Em contrapartida, até mesmo a ditadura militar – da qual eu tenho ojeriza -, botou todos os alunos de escolas públicas para assistirem o filme  “Independência ou morte”, do Carlos Coimbra, estrelado por Tarcísio Meira e Glória Menezes. À época, o general Garrastazu Médici recebeu o Tarcísio e a Glória. Havia uma ideia de continuidade e de lastro histórico. No centenário da Independência, em 1922, São Paulo e Rio de Janeiro fizeram imensas festas. O Rio inaugurou o Museu Histórico Nacional e fez seminários e exposições com imagens que até hoje nós usamos. São Paulo reinaugurou o Museu Paulista (no qual Bolsonaro está tentando tomar carona). Muitas ações foram feitas no passado, e o que nós teremos neste 7 de setembro? Apenas Bolsonaro tentando projetar uma imagem de um novo D. Pedro I.

Rodolfo Capler – Quais os balanços e reparações históricos o Brasil pode fazer a partir do bicentenário?

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Lilia Schwarcz – São muitos. A nossa historiografia ainda é muito colonial, masculina e sudestina. A versão que nós conhecemos da Independência, lançou luz sobre um episódio de meada – que era o 7 de setembro nos riachos do Ipiranga – mas não clarificou o processo que gerou a Independência. O processo da Independência começou com a Conjuração Mineira (1789) e com a Conjuração dos Alfaiates (1798). Precisamos nos lembrar também da chamada Revolução Pernambucana (1817), da Confederação do Equador (1824) e da Revolta dos Malês (1835). Penso que é necessário fazermos reparações aos outros participantes da Independência. Até hoje a gente fala assim: “D. Pedro I está sepultado no Ipiranga ao lado de suas esposas.” Como assim? Leopoldina e Dona Amélia viraram categoria de esposa, apenas? Leopoldina, por exemplo, foi uma artífice super importante da Independência. Ela era naturalista, havia estudado português para vir ao Brasil e trouxe uma missão científica. Ela teve um papel importantíssimo no processo da Independência. Em 1922, no centenário da Independência, a artista Georgina de Albuquerque desenhou uma Leopoldina assinando os documentos da Independência. Isso, porque quando D. Pedro viajava, a Leopoldina era a princesa regente. Por exemplo, no 2 de setembro – quando vem as notícias da corte – era ela quem estava no poder. Precisamos também fazer reparações para pessoas como Maria Quitéria, que foi uma soldada que lutou contra os portugueses na Bahia, ou para a Sóror Joana Angélica, que foi uma religiosa que impediu a entrada dos portugueses no seu convento e morreu pela repressão. Devemos reparar as histórias com o Nordeste. Até hoje na Bahia a Independência não é comemorada no 7 de setembro. Lá eles comemoram no dia 2 de julho. O Maranhão só reconheceu a Independência do Brasil em 1825. Ou seja, devemos fazer uma reparação regional e uma reparação nos nossos protagonismos. Carecemos de protagonistas negros, indígenas e mulheres. Estamos falando de reparações na memória ou do direito à memória. Devemos refletir sobre isso neste 7 de setembro e não tanto sobre o empréstimo do coração de D. Pedro I mantido em formol.

Rodolfo Capler – Em seu mais recente livro “O sequestro da Independência” você defende a tese de que a data do 7 de setembro é um mito construído. A quem mais interessa a conservação deste mito?

Lilia Schwarcz – Eu exponho no livro, como no contexto de 1822, ninguém falava em 7 de setembro e no brado do Ipiranga. A data que era mencionada era 10 de outubro, dia da aclamação e da coroação de D. Pedro I no Rio de Janeiro. Isso, pois, em primeiro lugar, o Rio era a capital do Império e fazia todo o sentido que o local daquela data magna, da separação com a metrópole, fosse o Rio de Janeiro. Em segundo lugar, a coroação é uma cerimonia coletiva. Sobretudo nas monarquias constitucionais – como era o caso do Brasil, que experimentava uma pressão para que o monarca jurasse a constituição de Cádis – a aclamação era um contrato do povo para com o seu rei ou imperador. Já a versão que foi ficando vitoriosa a partir de 1828 e que foi sedimentada no Segundo Reinado é uma versão do protagonismo de D. Pedro. O príncipe regente lança essa versão num momento específico da história, em que ele tinha imposto a constituição em 1824, havia debelado movimentos da sociedade civil e era conhecido como “o açougueiro dos Braganças”. A sua popularidade estava caindo e por essa razão ele lança mão dessa versão para destacar o seu protagonismo. Tal versão tornou-se muito defendida pelo Segundo Reinado com o objetivo de fortalecer a monarquia. Voltando à segunda parte da questão, a permanência desse mito interessa a governos autoritários como este que temos hoje. Toda a mensagem de Jair Bolsonaro é autoritária. Há sempre explicita a ideia de um pai severo que repreende às mulheres que se opõe a ele ou as pessoas que questionam o seu governo. Ele emplaca a ideia de um pai severo que alimenta teorias de conspiração (que vitimizam, mas que ao mesmo tempo empoderam) e que pensa a democracia como um jogo de forças. A Bolsonaro interessa muito a permanência do mito do 7 de setembro, pois, ele se sente como um D. Pedro, isolado em seu castelo. Para ele, não existe nada melhor que contar essa lenda dourada, de um período em que não havia nenhuma contestação ou conturbação, na qual o real governante não era questionado. Não é toa que o Bolsonaro gosta de ser chamado de mito. O mito é aquele que não dialoga com as pessoas…

Rodolfo Capler – Você é autora de “Sobre o autoritarismo brasileiro”, obra que revela as raízes do autoritarismo que nos atravessa como nação. Há algum antídoto para o nosso autoritarismo? 

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Lilia Schwarcz – Este livro é bem interessante, pois ele saiu em maio de 2019. Á época, ele foi considerado o primeiro livro a denunciar o autoritarismo do governo Bolsonaro. Por incrível que pareça, o Bolsonaro é mencionado na obra somente uma vez, quando eu abordo o coronelismo. Lá eu explico que o coronelismo não é apenas um fenômeno rural, mas também urbano. O exemplo que dou para corroborar isso é o da família Bolsonaro. Eu não quis fazer um livro de determinismo histórico. Apenas desejei mostrar como “o nosso presente está contaminado pelo passado”. Existe antídoto para o nosso autoritarismo? Sim e são muitos. Primeiro, vivemos num momento histórico que pede uma cidadania ativa. Ou seja, uma cidadania vigilante. O Bolsonaro foi eleito na onda dos candidatos “anti-sistema”. Volta e meia vemos candidatos políticos utilizarem a prerrogativa de serem outsiders, para atrair votos. A família de Bolsonaro nunca foi de fora da política. O próprio Jair Bolsonaro era deputado do baixo clero há mais de 20 anos e seus filhos também exerciam cargos públicos. Precisamos de uma cidadania ativa, pois os brasileiros votam e na semana seguinte se esquecem dos candidatos nos quais votaram ou se arrependem e passam a falar mal deles. O voto é apenas o primeiro passo da nossa cidadania, porque ninguém delega representação para sempre. A gente vota, vigia e cobra. Outro antídoto para o nosso autoritarismo é o tripé que sustenta uma república, a saber, saúde, educação e segurança pública. Infelizmente, estamos vivendo o oposto disso. O Brasil nunca proporcionou uma parte substancial do seu PIB à educação. Neste quesito eu não preciso comparar o Brasil com o Japão ou com a Coréia do Sul. É só nos compararmos com o Chile e com os nossos vizinhos, que veremos que não temos uma política educacional. Não me refiro somente ao atual governo, mas aos anteriores também. Em relação à saúde vimos como foi catastrófica a política de Bolsonaro. Já o tema da segurança é uma das bandeiras do atual governo. Eu não acho que seja uma bandeira errada, apenas discordo do método de armar a população, proposto por ele. Agora, é inegável que o Brasil precisa de condições infra-estruturais para que as pessoas possam andar tranquilamente nas ruas sem medo. Enfim, se exercermos uma cidadania vigilante e tivermos isso tudo, não cairemos no canto da sereia dos governos autoritários. 

Rodolfo Capler – De que forma o autoritarismo e a religião emergem na história política do Brasil? Há pontos de cruzamento entre essas duas perspectivas em governos brasileiros passados?

Lilia Schwarcz – Sobre a questão do autoritarismo, sim.  Se voltarmos ao momento do golpe da República (1889), veremos que o Brasil foi dirigido em estado de sítio, por um governo extremamente autoritário. Me refiro ao governo de Floriano Peixoto. Ele foi tão autoritário, a ponto de Lima Barreto – que em sua obra, nunca permitiu que a ficção se esbarrasse com a história – citá-lo. Foi a única vez que Lima Barreto menciona uma personagem histórica em toda a sua obra. Floriano aparece como um ditador. Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (1937-1945) também foi um ditador. Tivemos a ditadura miliar com dezessete atos institucionais que tiraram os direitos dos brasileiros. Agora, quanto a este casamento entre autoritarismo e religião, eu como historiadora, não encontro precedentes na história do Brasil. Penso que nós (acadêmicos e intelectuais) precisamos estudar o crescimento das religiões evangélicas e devemos procurar compreender quais são os papéis deste segmento, no mundo em que nós vivemos – faço aqui um mea-culpa, pois não tratei deste tema em “Sobre o autoritarismo brasileiro”. De maneira alguma quero caricaturar as igrejas evangélicas, por essa razão as menciono no plural. Por exemplo, apesar de boa parte das igrejas evangélicas serem conservadoras, há igrejas progressistas. Sabemos que o segmento evangélico está ocupando um espaço na política e, daqui a pouco, competirá com o “centrão”. Isto é, assim como o “centrão” é um partido de conveniência (que vai na maré de quem está vencendo), os evangélicos com a bancada da Bíblia vão tomando tal força. 

Rodolfo Capler – Como você vê essa aproximação do bolsonarismo com o evangelicalismo?

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Lilia Schwarcz – Nós sabemos que há uma aliança entre os dois segmentos. O Bolsonaro preparou a sua eleição. Durante muito tempo os progressistas não perceberam isso. O casamento de Bolsonaro com Michelle (que é evangélica), o seu batismo e a sua própria “conversão”, foram todos passos para sedimentar essa forte aliança com as igrejas evangélicas. O resultado desse casamento se revela na entrada de representantes evangélicos dentro do Palácio do Planalto, como ficou evidenciado pela participação do ex-ministro da educação Milton Ribeiro, que é pastor presbiteriano.

Rodolfo Capler – Qual mensagem você gostaria de deixar para os brasileiros e brasileiras neste 7 de setembro?

Lilia Schwarcz – Sejam independentes! Não desistam do espaço da política. O meu desejo é que os brasileiros e brasileiras entendam que o espaço da política é o espaço da democracia. Gostaria muito que todos entendessem que a democracia é por definição um regime incompleto. Na Grécia já era incompleto, pois lá, quem votava eram aqueles que não eram mulheres, escravizados e estrageiros. Portanto, uma minoria. Hoje podemos votar. A democracia é feita dessas conquistas. Eu queria que todos e todas votassem com muita consciência, pensando no presente e projetando no futuro.

* Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP 

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