Repetiu-se neste episódio da internação de Jair Bolsonaro, após o feriado do Ano Novo, a mesma estratégia política que acontece em cada problema de saúde do presidente.
Independentemente de ele ter se sentido mal – e acredito que ele, sim, passou mal -, a sua internação acabou sendo usada dentro de uma estratégia política de tentar atenuar a péssima imagem que ficou do presidente no final do ano.
Bolsonaro estava de férias enquanto o país enfrentava um problema grave com as enchentes e o presidente acabou cobrado na internet, inclusive por seguidores de direita. Ele exibiu durante dias cenas de divertimento – que seria aceitável em qualquer época – mas não em mais um período de tragédias no país, com a Bahia tendo mortes e destruição por causa das chuvas torrenciais.
Bolsonaro teve alta nesta quarta-feira, 5, e a coluna esperou este fato para formar sua avaliação sobre o que está acontecendo. Repetiu-se o mesmo esquema.
Toda vez, a partir do momento que ele é internado, os filhos e assessores diretos, começam a dar tons mais dramáticos ao caso, mesmo que não tenha essa dramaticidade. Agora, por exemplo, não foi sério. Foi uma obstrução resolvida de forma clínica, sem necessidade de qualquer intervenção cirúrgica.
Mas, mesmo assim, o filho Zero Um, Flávio Bolsonaro, fez uma postagem dizendo que as pessoas queriam que ele morresse, e o general Ramos, seu fiel seguidor, fez outra dizendo que as pessoas deviam orar pela saúde dele.
Recorre-se à religião, à doença, lembra-se da facada que ele sofreu – tudo para tentar reavivar o sentimento de solidariedade das pessoas em relação a ele, a mesma solidariedade que ele não tem em relação aos outros que sofrem (e temos muitos exemplos disso, principalmente na pandemia)
O script é sempre o mesmo. Desta vez, Bolsonaro postou no Tik Tok, por exemplo, imagem dele sendo atendido pelos médicos com uma música triste ao fundo.
O entorno do presidente, então, voltou a fazer indiretas dizendo que a esquerda realizou um atentado contra ele, quando todas as investigações da Polícia Federal não comprovaram isso.
Ao contrário, dois inquéritos confirmaram que o Adélio Bispo, o agressor, agiu sozinho. O presidente não se conforma com esse resultado das investigações e sempre pede outra para alimentar a teoria conspiratória.
O governo acabou de transferir para fora do Brasil o delegado que chefiou a última investigação do caso da facada. Apuração essa que deixou claro que não houve uma conspiração da esquerda, e sim um ato isolado de uma pessoa sem domínio de suas faculdades mentais.
Ou seja, nunca houve uma conspiração. Duas investigações da PF disseram isso, mas o presidente e o entorno dele – filhos e ministros – usam o novo problema de saúde politicamente para angariar simpatia, alimentar fake news contra adversários políticos.
Insinuações, postagens, recorrência à Deus, pedidos de oração, o uso do aparato do Estado, gasto público para trazer o médico das Bahamas, que chegou apenas para dizer que estava tudo bem.
Em meio a isso, os filhos postam, ministros mais próximos postam, tudo para reduzir o desgaste da imagem ou uma tentativa de trazer a simpatia, a empatia do público, a qual, repito, Bolsonaro não demonstra ter em relação aos outros.
Que a saúde do presidente melhore, é o desejo desta coluna, mas que ele saiba que o Brasil não é feito de idiotas.