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O incômodo assunto que as empresas ESG precisam enfrentar

Daniel Lança analisa o comportamento do capitalismo nos dias atuais e o desafio do consumo consciente 

Por Daniel Lança
15 nov 2021, 13h11
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  • Já escrevi à exaustão que as organizações baseadas no antigo modelo de capitalismo selvagem – cuja visão só enxerga o lucro e desinteressada no relacionamento com suas diversas partes interessadas – não sobreviverá à nova realidade imposta pelo mercado financeiro e consumidor. Mas se a cultura ESG (environmental, social and governance) vem mesmo pra valer, é preciso coerência para colocar o dedo numa ferida difícil de enfrentar: ao defender sustentabilidade de fato, estamos mesmo dispostos a incentivar o consumo consciente? 

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    Reportagem dessa semana na Rádio França Internacional (RFI) mostrou um lado sombrio de um capitalismo ainda muito forte: um deserto do Atacama, no Chile, se tornou um grande lixão tóxico da moda descartável do primeiro mundo. No cerne da questão está o modelo nuclear de negócios de algumas das principais marcas de roupas de luxo do mundo. Ao investir fortemente na concepção de fast fashion, cria-se uma necessidade paranoica de consumo ciclicamente excessivo com novas roupas a cada temporada. 

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    Esse modelo de negócios obviamente não se sustenta a longo prazo. Com algumas marcas lançando mais de 50 temporadas diferentes num único ano, é evidente que o desperdício é um problema sério, e não só do ponto de vista financeiro ou de estoque. Para se ter uma ideia do tamanho desse lixão no Chile, anualmente são despejadas cerca de 60 mil toneladas por ano apenas pela zona franca de Iquique, a quase dois quilômetros de Santiago, e que demoram em média 200 anos para desintegrar.

    Ainda que se a indústria da moda se utilizasse apenas de materiais biodegradáveis nas confecções – o que está longe de ser uma realidade – o problema continuaria existindo. O cerne da questão passa pelo enfrentamento da própria ideia de capitalismo antiquadamente selvagem que só visa o lucro a despeito de todas as outras variáveis de um negócio consciente. 

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    É preciso desconstruir a noção de que precisamos todos os anos de novas roupas da moda – o mesmo vale para quem troca de celular ou de carro todos os anos, mesmo abrindo mão de um produto ainda novo e em bom estado de uso. É óbvio que as indústrias têxtil, automobilística ou de eletrônicos se beneficiam consideravelmente da ideia de consumo excessivo. Assim, investir em ESG sob essa concepção pode ser uma sádica forma de greenwashing.

    Enquanto o consumo consciente não estiver centrado no modelo de negócios das empresas engajadas com as temáticas ESG, esta será mais uma estratégia de marketing do que coerência de discurso e ação. Aprendemos na escola que sustentabilidade é um conceito baseado em reduzir, reutilizar e reciclar – não apenas em reciclar. Quem sabe um dia ainda veremos uma propaganda na TV que diga algo como: “compre nossa nova coleção, mas apenas se as suas roupas atuais não estiverem mais em condições de uso. Valorize o consumo consciente”. Um sonho ainda distante.

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    * Daniel Lança é advogado, Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa e sócio da SG Compliance. É Professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC) e foi um dos especialistas a escrever as Novas Medidas contra a Corrupção (FGV/Transparência Internacional)

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