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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Falta de visão do MEC sobre EAD pode atrasar gerações, diz entidade

Elizabeth Guedes, presidente da Anup, afirma que Ministério definiu novas regras para educação a distância sem diagnóstico do setor

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2024, 21h40 - Publicado em 31 jan 2024, 21h14

O futuro modelo da educação do país foi debatido em Brasília, nesta semana, durante a Conferência Nacional de Educação (Conae). A expectativa do setor está nos parâmetros que serão consolidados pelo governo federal para os próximos dez anos, durante a vigência do novo Plano Nacional de Educação (PNE). Para o segmento de ensino superior, uma preocupação paira sobre as próximas decisões do Ministério da Educação (MEC) quando o assunto é educação a distância.

Desde a suspensão dos cursos, em 16 áreas de graduação, entidades que integram o movimento EAD Inclui estão se posicionando contrária à visão do MEC sobre a modalidade. Entre as queixas, está a falta de entendimento sobre as diferenciações que existem nas metodologias de ensino-aprendizagem praticadas em cada uma das modalidades – presencial e a distância. O grupo defende que, antes da concepção de novas regras, sejam estabelecidos critérios que impulsionem a qualidade dos cursos e o amplo acesso ao ensino superior a população, e não o que chamam de supressão de oportunidades.

Segundo as entidades, o entendimento de que a expansão da EAD oferece riscos para qualificação dos alunos é um grande equívoco. Entrevistada pela coluna, a presidente da Associação Brasileira de Universidades Particulares (Anup), Elizabeth Guedes, diz que esse pensamento, além de não condizer com realidade, poderá restringir o acesso aos cursos em mais de 2 mil cidades do país. 

Para Elizabeth Guedes, a modernização dos processos educacionais e uso de inovações e tecnologias também passam pela utilização de plataformas EAD e isso deve ser considerado pelo MEC. “Em vez de retroceder 20 anos na história da EAD, com riscos de gaps geracionais na educação superior dos brasileiros, temos que considerar a evolução tecnológica que nos permitiu desenvolver soluções pedagógicas avançadas para além das salas de aula. A integração de recursos multimídia, interatividade online e acompanhamento personalizado são exemplos de práticas que podem assegurar a excelência no processo de aprendizagem, tanto presencial quanto a distância”, destaca. Leia abaixo a entrevista.

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Em sua avaliação, por que o MEC decidiu restringir os cursos EAD?

Elizabeth Guedes – Os cursos a distância tiveram um crescimento espantoso nos últimos anos. Foi um aumento de 700%, catalisado, especialmente, pelo período da pandemia. Cabe ao MEC observar o setor, com escrutínio, para conhecer as demandas e as ofertas, antes de colocar de pé novas regras que podem limitar o acesso acadêmico de muita gente. Infelizmente, não foi o que o MEC fez. Esse diagnóstico ainda não foi feito. Estamos sob o risco de retroceder 20 anos na história da EAD, por conta de interpretações equivocadas sobre a modalidade, em vez de avançarmos no debate sobre os critérios qualificadores desses cursos.

Não concorda que há um excesso na oferta e que isso pode prejudicar a qualidade na formação profissional desses estudantes?

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Elizabeth Guedes – Somos mais de 200 milhões de brasileiros, mas apenas 21% de estudantes, na faixa de 24 a 35 anos, alcançam um diploma universitário. A média da OCDE é de 44%. Precisamos olhar para a expansão com naturalidade, desde que não percamos de vista, friso, a boa qualidade desses cursos. A regulação não deve ser simplesmente para eliminar as ofertas que já existem. Isso não pode ser feito sem que haja um amplo diagnóstico, para que se reconheça, inclusive, os resultados positivos trazidos pela modalidade EAD, para as novas gerações, em todas as regiões do país. O Brasil é imenso e tem como desafio levar a educação para todos os segmentos sociais, considerando todas as vivências humanas que, muitas vezes, diz respeito a rotina de pessoas que não poderiam estar em sala de aula todos os dias da semana. São jovens mães, trabalhadores noturnos, pessoas que desejam uma segunda formação e por aí vai. São muitas e distintas realidades a serem consideradas.

Mas como garantir a formação plena desses alunos com tutoriais, apostilas, aulas gravadas…

Elizabeth Guedes – EAD não é isso. Isso não condiz com realidade de milhares de professores, tutores, conteudistas, designers que dedicam suas expertises para produzir os materiais acadêmicos e as aulas que serão ministradas nos cursos a distância. Bem como não traduz as experiências dos milhões de alunos que cursam graduação pela modalidade EAD. Claro que há momentos assíncronos, como chamamos, que são aulas previamente gravadas. Mas também há aulas síncronas, atendimento ao aluno, tutorias, referencial bibliográfico e toda a estrutura necessária para garantir a implementação de soluções embasadas em metodologias de ensino-aprendizagem, direcionadas pelas diretrizes nacionais curriculares de cada curso.

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Há amparo legal para a digitalização do processo educacional?

Elizabeth Guedes – No ano passado, o Congresso aprovou a Lei 14.533/2023, que trata, justamente, da política de educação digital. Nosso trabalho busca ampliar as possibilidades de aprendizagem e de avaliação da qualidade dos meios digitais empregados no trabalho da docência. E isso tem sido feito. ⁠Temos instrumentos robustos de apoio à aprendizagem e à docência, disponíveis através das plataformas de ensino, onde o professor conta com o auxílio adicional de conteudistas para realização das atividades.

EAD não pressupõe virtualidade? Esses cursos são realizados em plataformas online, não é isso?

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Elizabeth Guedes – Não há cursos superiores no Brasil que sejam exclusivamente virtuais, contrariando a interpretação equivocada que vem sendo disseminada. Precisamos levar esse entendimento à população. A EAD pode ser uma ferramenta complementar, integrada aos currículos, e não uma substituição completa do ensino presencial. Aliás, o conceito do “presencial” precisa ser repensado à luz das inovações da tecnologia. Afinal, um aluno participando por meio remoto, em aulas síncronas, seria por acaso o mesmo que ausência? Portanto, afirmar que cursos de áreas críticas como saúde, incluindo enfermagem, seriam 100% virtuais, é uma distorção dos fatos que prejudica a compreensão real da modalidade. 

Então, qual é a principal questão quando se fala em modalidade presencial ou a distância?

Elizabeth Guedes – A principal preocupação ao abordar a educação deve ser a qualidade do ensino, independentemente da modalidade. Em vez de retroceder 20 anos na história da EAD, com riscos de gaps geracionais na educação superior dos brasileiros, temos que considerar a evolução tecnológica que nos permitiu desenvolver soluções pedagógicas avançadas para além das salas de aula. A integração de recursos multimídia, interatividade online e acompanhamento personalizado são exemplos de práticas que podem assegurar a excelência no processo de aprendizagem, tanto presencial quanto a distância. 

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Como fica o processo coletivo, a interatividade? Na EAD, isso não se perde?

Elizabeth Guedes – É imperativo compreender que a EAD não significa a ausência total de interação presencial, mas sim a utilização de tecnologias que permitem a transferência eficaz de conteúdo aos alunos. Um dos pontos mais notáveis em defesa da EAD é a sua natureza inclusiva. Ao oferecer flexibilidade de horários e eliminar barreiras geográficas, a EAD amplia o acesso à educação superior para diversos públicos e segmentos da sociedade. Pessoas que, de outra forma, enfrentariam desafios logísticos para frequentar aulas presenciais podem agora buscar formação profissional de maneira mais acessível. Na verdade, há uma expansão de fronteiras, com mais possibilidades de acesso a professores renomados, contato com grandes  lideranças para inspiração, um universo a ser explorado.

Então, a modalidade EAD tem sido incompreendida em sua percepção…

Elizabeth Guedes – Pelo que observamos, sim. É essencial desmistificar a visão deturpada que tem sido propagada sobre a EAD no ensino superior brasileiro. A modalidade não representa uma regressão na qualidade do ensino, mas sim uma evolução que pode ser moldada para atender às exigências contemporâneas. A imprensa desempenha um papel muito importante junto à sociedade ao transmitir informações precisas sobre a EAD, abandonando interpretações superficiais que prejudicam a compreensão da riqueza e diversidade dessa abordagem educacional no Brasil. É hora de focar na qualidade, na inclusividade e no potencial transformador da EAD no cenário educacional do país.

* Fazem parte do EAD Inclui, além da Anup, a Associação Brasileia de Educação a Distância (ABED), a Associação Brasileira dos Estudantes (ABE) e a Associação Nacional de Procuradores e Pesquisadores Institucionais das IES Privadas (Anpi)

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