Esvaziar instituições é prática de todo o governo, afirma Marina Silva
Para a ex-ministra, a conduta de Sérgio Camargo, excluindo seu nome da lista de personalidades negras da Fundação Palmares, não é isolada
A conduta de integrantes do governo Jair Bolsonaro, esvaziando instituições ligadas aos direitos humanos e à proteção das minorias, é um padrão. Essa é a visão da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Ela avalia que enfraquecer instituições fundamentais para a sociedade e negar a história é uma prática da gestão como um todo.
“Para esse governo, defender direitos humanos, saúde, educação de qualidade para todas as pessoas, não compactuar com nenhuma forma de preconceito e racismo, é irrelevante”, afirma Marina.
Como a coluna mostrou, o último caso envolvendo o desmonte de órgãos históricos aconteceu dentro da Fundação Palmares. Numa conduta que vem se repetindo em várias áreas, o presidente da fundação, Sérgio Camargo, ofendeu nomes relevantes para ganhar alguma notoriedade.
Sérgio Camargo excluiu Marina Silva da lista de personalidades negras da fundação. “Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição”, escreveu o presidente da Fundação Palmares em sua rede social.
Para Marina Silva, a conduta de Sérgio não é isolada e mostra a forma de funcionamento do atual governo. Segundo ela, quem atesta a relevância de uma pessoa para a sociedade “é a própria sociedade e a história”.
A ex-ministra defende a relevância da deputada Benedita da Silva, por exemplo, na luta contra o racismo, no combate às desigualdades raciais e contra o preconceito. Segundo ela, negar a importância dessas pessoas é uma tentativa do governo de “reescrever a história ou de anular a história quando ela ainda está em curso”.
“Quando eles negam essas causas, eles estão desidratando a própria fundação, porque a razão precípua, institucional, política e simbólica da Fundação é exatamente a relevância dessas causas. Quando aqueles que simbolicamente representam essas causas são excluídos, eles estão desidratando a própria relevância antológica da instituição”, enfatiza.
A ex-ministra ressalta que isso não tem acontecido apenas na Fundação Palmares. “Eles pensam que estão fazendo ataques a pessoas, mas é um ataque à própria instituição. Aliás, isso é uma prática. Eles atacam a instituição que defende o meio ambiente esvaziando do seu conteúdo precípuo, eles esvaziam a instituição que defende os índios tirando aquilo que é a sua função precípua, eles esvaziam as instituições que estão associadas a causas que são típicas das civilizações modernas”.