O anúncio de que Ciro Nogueira (PP-PI) aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro para chefiar a Casa Civil inicia uma nova fase no governo. Ainda que o Centrão já estivesse dentro da estrutura, a presença de Ciro modifica pontos importantes da gestão até aqui.
Desde que tomou posse, Bolsonaro escolheu pessoas íntimas para serem chefes da Casa Civil. O primeiro foi Onyx Lorenzoni, totalmente alinhado ao presidente. Depois, entrou o general Walter Braga Netto e, no início de 2021, o general Luiz Eduardo Ramos assumiu o posto.
Em três anos de mandato, Ciro Nogueira será o quarto chefe da Casa Civil, o que mostra a instabilidade do governo. E, dessa vez, não se trata de alguém íntimo do presidente, mas alguém que ele traz para dentro porque acredita que receberá algo em troca.
Ao “contratar” Ciro, um político que se adaptou a todos os governos anteriores, Bolsonaro acha que vai conseguir três coisas: estabilidade, aprovação dos seus projetos no Congresso, blindagem contra o impeachment e força para 2022, inclusive com uma possível filiação ao PP.
Bolsonaro acha que está comprando tudo isso ao colocar Ciro Nogueira em um dos cargos chave do governo, mas a verdade é que ele não conseguirá isso.
Uma das questões é que não está garantido que ele vá conseguir espaço no PP já que ele quer, ao entrar no partido, ter todo o controle. É impossível comprar um partido tão capilarizado como o PP, que tem alianças diferentes em cada parte do Brasil – inclusive com o PT – então a legenda não vai dar espaço para Bolsonaro principalmente se o presidente continuar com baixa popularidade.
O presidente está mudando a natureza de seu governo, mas ao mesmo tempo o que ele está comprando não vai poder ser entregue.
Outra coisa que Bolsonaro quer e que não vai conseguir é uma blindagem contra o impeachment, já que o processo depende da dinâmica da economia, da política e da popularidade que aumenta sua vulnerabilidade. A chegada de Ciro também não garante maioria estável para aprovação de projetos tão conflitantes entre si como o governo defende.
Bolsonaro está apostando alto com a entrada de um integrante importante do Centrão. Resta saber se essa estratégia vai ajudá-lo em seus planos ou atrapalhar de vez o seu governo.