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Censura: Arquivo Nacional modifica documento para tirar menções à ditadura

Supressão de trechos mostra que órgão tem censurado expressões sobre o tema, como havia denunciado esta coluna

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 nov 2021, 17h01 - Publicado em 5 nov 2021, 16h54
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  • As denúncias feitas nas últimas semanas sobre a censura que estaria sendo praticada pelo Arquivo Nacional em relação a documentos e citações sobre a ditadura militar no Brasil ganharam mais uma prova.

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    Nos últimos dias, esta coluna teve acesso exclusivo a um documento sobre a celebração do Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual 2021 que foi alterado após “sugestões” feitas por dirigentes do Arquivo Nacional e mostram a troca ou exclusão de expressões ligadas à ditadura militar.

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    A primeira versão do documento, assinada em 6 de outubro, afirma que atualmente “registros audiovisuais podem ser feitos por qualquer um que tenha um celular nas mãos” e facilitam documentar casos de violações de direitos e abusos de autoridade.

    “Há toda uma gama de documentos audiovisuais que se relacionam ao tema da Cidadania e Direitos: imagens e sons gravados para documentar um período e servir como prova de crimes praticados (como é o caso das audiências e entrevistas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade)”, mostra um dos trechos do documento original.

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    A segunda versão do documento, assinada em 21 de outubro, poucos dias antes desta coluna noticiar a queda da direção do Arquivo Nacional, não traz o trecho acima sobre a Comissão Nacional da Verdade. O parágrafo foi simplesmente excluído na versão final do documento.

    O texto original também citava o caso do assassinato de George Floyd por um policial branco em maio de 2020 nos Estados Unidos.

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    “Um caso emblemático foi o do assassinato de George Floyd, em 25 de maio de 2020 nos Estados Unidos da América, por um policial branco. A ação, que resultou na morte do afro-americano, foi filmada pelas pessoas que passavam e essa gravação rodou o mundo, culminando em protestos em vários países, por sua vez também registrados”.

    O trecho acima também foi totalmente retirado na versão modificada do documento.

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    Em outro ponto, no tópico de sugestão de filmes para celebrar a data, a versão original cita a obra “Uma Família Ilustre” (Brasil, 2015, 15 min), de Beth Formaggini, e descreve a obra com o seguinte texto: “O filme mostra a conversa entre Cláudio Guerra, ex-delegado da Polícia Civil e agente da repressão durante a ditadura militar, e o professor Eduardo Passos, psicólogo clinico que trabalha com direitos humanos”.

    Na segunda versão do documento, foi retirada a menção ao fato de Cláudio Guerra ter sido agente de repressão da ditadura.

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    O trecho modificado ficou assim: “O filme mostra a conversa entre Cláudio Guerra, ex-delegado da Polícia Civil, e o professor Eduardo Passos, psicólogo clinico que trabalha com direitos humanos”.

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    As mudanças, que poderiam ser apenas alterações comuns em outro contexto, mostram que existe sim uma orientação do Arquivo Nacional para censurar expressões que lembrem a ditadura militar, como revelado por esta coluna.

    E embora o órgão tente, de forma muito vaga, negar a conduta, as modificações no documento enviado a esta coluna são mais uma prova de que os dirigentes querem esconder o período sombrio vivido pelo país.

    Com a troca da direção, causada pelo trabalho jornalístico de VEJA, fica a expectativa de que finalmente o Arquivo Nacional trabalhe de forma imparcial e pare de tentar omitir os danos causados pela ditadura militar.

    No regime, que vigorou entre os anos 1964 e 1985, aconteciam censuras semelhantes. A coluna entrou em contato com o Arquivo Nacional por telefone e por email nesta sexta-feira, 5, mas não obteve respostas.

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