Com formas diferentes das de Eduardo Leite em entrevista à amarelas de VEJA, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), reeleito este ano para mais um mandato na Câmara, acredita que o PSDB deve ocupar o espaço de uma terceira via, que se mostrou ineficiente eleições de 2022.
Em entrevista à Folha, Aécio defende que o PSDB seja oposição ao governo Lula.
“O que eu defendo de forma absolutamente clara neste momento é que o PSDB deve se declarar oposição ao governo do presidente Lula. É isso que permitirá que o partido sobreviva. Por mais que o presidente Lula tente ampliar suas alianças, o PT ainda é um partido enraizado no atraso”, afirma o deputado.
É importante lembrar que o PSDB está desaparecendo e um dos motivos para esse enfraquecimento do partido foi justamente a perda de espaço como oposição ao PT. Neste ano, a legenda elegeu a menor bancada da sua história com apenas 18 deputados.
Aécio mostra arrogância e erra ao dizer que o bolsonarismo ocupou o território de oposição ao PT de forma transitória.
“Acho que Bolsonaro foi beneficiário da aversão ou da oposição ao PT e ao próprio Lula. Na hora que esse jogo em parte é zerado, não acho que o Brasil tenha que viver essa dicotomia”, defende.
O deputado precisa aceitar que o bolsonarismo não deve acabar facilmente e que ocupa um espaço importante na política com uma agenda conservadora. Se Aécio quer se posicionar no centro, provavelmente terá que apoiar algumas pautas conservadoras, ao contrário do que ele afirmou na entrevista.
“Algumas dessas questões morais podem vir com alguma naturalidade, mas não é a nossa prioridade. Nós não vamos fazer apelos a esse eleitorado nos curvando a posições que não são nossas. O PSDB é moderno, é progressista. Nós temos que perder o constrangimento de dizer que nós somos do centro, de centro. Nosso eleitorado é de centro”, diz, numa escolha que claramente não funcionará.
Aécio Neves, que sempre foi uma das principais lideranças do PSDB, passou algum tempo distante dos holofotes. Na última semana, o STF decidiu por unanimidade arquivar uma denúncia contra ele num caso que é desdobramento da Lava Jato. Agora, Aécio ressurge e parece estar disposto a retomar o protagonismo dentro do PSDB, ao lado de Eduardo Leite. Na entrevista à Folha, inclusive, aproveitou para criticar João Doria.
“O PSDB hoje é vítima dos seus próprios erros. A passagem do ex-governador Doria pelo partido foi um tsunami que deixou estragos, mas felizmente não teve capacidade de destruir o partido”, destaca.
Se Aécio quer voltar a ter destaque na cena política, precisa aceitar que muita coisa mudou. A postura arrogante de diminuir o bolsonarismo e o equívoco de achar que a oposição a Lula é o único caminho podem tirar do deputado a chance de ressurgir como uma liderança importante no país.