“Por mais que eu não goste de muitas atitudes do atual governo, simplesmente não há nada pior e mais ameaçador para o futuro do Brasil do que o PT e o Lula voltarem para a cena do crime“.
A frase é do o ex-procurador Deltan Dallagnol, dita em suas redes sociais nesta segunda, 27, para dar uma resposta à seguinte pergunta de um seguidor: quem você apoiará em um eventual segundo turno?
Foi o antipetismo o principal cabo eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018. Isso é inegável.
E é o reacendendo que a direita brasileira tentará reeleger um extremista ao cargo máximo do país, sem pestanejar sobre o que está acontecendo hoje do Oiapoque ao Chuí.
A lista é grande.
Intervenção ideológica em políticas de Estado, assassinato de servidores públicos exemplares, apologia à tortura, colapso da política ambiental, ataques aos outros poderes.
Bora que tem mais.
Esquartejamento de jornalistas estrangeiros, destruição dos órgãos de controle, negacionismo da ciência, colapso sanitário na pandemia, inflação alta, ataque à autonomia da Petrobras.
Narcotráfico, garimpo ilegal, grilagem, desmatamento em alta… tudo na nossa Amazônia.
Talvez o ex-procurador tenha esquecido, mas tiveram casos emblemáticos, como a intervenção política na Polícia Federal. Ou Deltan Dallagnol não acredita em Sérgio Moro?
O ex-procurador esqueceu também o desrespeito à lista tríplice do Ministério Público? Ou como o atual governo ajudou a enterrar as 10 medidas contra a corrupção, bandeira que liderou?
Não por acaso, entidades afirmam que o Brasil é o país que mais caiu em um ranking latino-americano que mede a capacidade de cada nação de combater a corrupção. Mas isso não importa para Deltan.
Talvez o ex-procurador não tenha visto, por exemplo, o escândalo com suspeitas de desvios de dinheiro público e tráfico de influência no Ministério da Educação, envolvendo inclusive pastores da fé que tanto professa.
Enquanto Moro estava no páreo, Deltan Dallagnol manteve em alta as críticas a atual (e calamitosa) administração. Agora candidato a deputado sem o padrinho político, o ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba renovou os votos a Jair Bolsonaro.
Ocorre que, como o investigador que levou Lula à cadeia, isso tem um peso que precisa ser registrado para as futuras gerações (o ex-presidente, como se sabe, conseguiu anular as sentenças e mostrar até abuso da operação, como mostrou o próprio Supremo Tribunal Federal).
Como político e não mais como procurador, tem o direito de pensar e falar o que entende ser “o pior” para o país. Entretanto, está, agora, de forma diferente sob escrutínio público.
O que Deltan Dallagnol fez foi: olhando firme para a câmera, sem titubear, apoiar desde já Bolsonaro. Até porque, como se sabe, o segundo turno já começou no Brasil. E há muito tempo.