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A marcha para Jesus deveria ser de Jesus, e não de Bolsonaro

Teólogo Rodolfo Capler afirma: “Se Jesus vivesse nesses tempos, jamais participaria deste préstito dedicado ao seu nome, pois ameaça a democracia”

Por Rodolfo Capler
Atualizado em 13 jul 2022, 12h56 - Publicado em 11 jul 2022, 21h00

No último sábado, 9, a “Marcha para Jesus” voltou às ruas da cidade de São Paulo. O evento, que neste ano completou 30 anos, se apresenta como uma procissão da livre expressão de fé do segmento evangélico e também como um emblema do seu vertiginoso crescimento. 

Quando de sua inauguração no Brasil, em 1993, sob a coordenação do apóstolo Estavam Hernandes (época em que os evangélicos representavam apenas 9% da população), o evento surgia – à semelhança da edição originária na Inglaterra – com uma proposta de manifestação religiosa das mais diversas denominações do país, porém, paulatinamente, a Marcha foi se tornando plataforma de promoção político-eleitoreira. 

Na edição de 2019, na qual participei como aplicador de questionários da pesquisa “O perfil do participante da Marcha para Jesus”, conduzida pelo grupo de pesquisas “Travessias Urbanas” do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), estiveram presentes no palco principal do evento o atual presidente Jair Bolsonaro e o senador Magno Malta.

À época, em minha experiência in loco, pude perceber a influência que tais aparições surtiam nas emoções dos participantes. Sob os gritos de “Mito, mito” – enquanto fazia gestos de armas com as mãos -, o atual mandatário da nação consolidava seu nome entre a turba de fiéis. Já na edição deste ano compareceram ao evento Tarcísio de Freitas (Republicanos), pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador de São Paulo, Simone Tebet (MDB), pré-candidata à presidência da República, Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e o atual presidente da República. 

Bolsonaro, candidato à reeleição no pleito de outubro, acenou de forma eleitoreira aos evangélicos da Marcha. Dizendo-se “defensor da família brasileira”, o chefe do Executivo relativizou a atual crise econômica, negou casos de corrupção em sua gestão, lançou luz à pauta de costumes (voltando a falar em “ideologia de gênero” e “aborto”), e acirrou a polarização política, ao afirmar aos presentes que “há uma luta do bem contra o mal” em curso no país.  

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O discurso de Bolsonaro na “Marcha para Jesus” é a clara manifestação da aliança promíscua entre política partidária e religião, engendrada no Brasil desde o início dos anos 1990, quando formou-se a chamada “Bancada Evangélica”. Desde então, a interface entre o poder público e a igreja vem se intensificando cada vez mais, gerando malefícios para prática da fé e para a democracia. Isso pois, sob tal relação, a igreja perde a sua voz profética na sociedade e o Estado torna-se inibidor da multiplicidade religiosa. Como bem observou o pastor batista e ativista estadunidense Martin Luther King Jr.: “A igreja não é a senhora ou a serva do Estado, mas, antes, sua consciência. Ela deve ser a orientadora e a crítica do Estado – nunca sua ferramenta!”. Infelizmente, no Brasil, as igrejas evangélicas não têm exercido essa nobre vocação que pesa sobre seus ombros, ao contrário, tem sido vassalas do Estado, perdendo a capacidade de apontar seus erros e injustiças. 

A “Marcha para Jesus”, pelo que se tem visto, não é uma marcha de Jesus, pois conspurca a representatividade pública da fé evangélica e instrumentaliza os afetos religiosos dos cristãos para fins político-partidários. Se Jesus vivesse nesses tempos, jamais participaria deste préstito dedicado ao seu nome, porquanto é um projeto de poder que ameaça a democracia e, despoticamente, homogeniza os sujeitos religiosos por meio da obstrução das mais diversas expressões e manifestações de fé.

Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo – PUC/SP

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