Sete momentos em que Bolsonaro foi alvo em um Carnaval politizado
Foliões lembraram presidente com xingamentos, fantasias laranjas e 'latada' em boneco. Na terça à noite, político 'respondeu' com vídeo escatológico
Talvez só os deuses do Carnaval saibam o que levou o presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) a achar razoável a ideia de publicar um vídeo com cenas explícitas de escatologia para os seus mais de 3 milhões de seguidores no Twitter na última noite da festa deste ano. Bolsonaro afirmou que as imagens representam o “que tem virado” os blocos de Carnaval, em uma mensagem sibilina para a população ter “conhecimento” e decidir sobre suas “prioridades”. O que ele quer dizer e onde pretende chegar é um completo mistério: acabar com os blocos? Tutelar a moral e bons costumes de uma festa cujo valor mais tradicional é a transgressão? Ninguém sabe.
Fato é que o primeiro Carnaval do político no Palácio da Alvorada se tornou um dos mais politizados dos últimos anos. Na carona da pior avaliação de um presidente em início de governo, Bolsonaro viu seu nome virar piada nas mesmas ruas que levaram à queda de Dilma Rousseff. Sua postagem carnavalesca no Twitter ocorreu depois de o governante assistir a manifestações e protestos — quase censurados em Minas Gerais — em ao menos sete ocasiões durante a folia de 2019.
Veja os sete momentos em que o nome de Bolsonaro foi lembrado no Carnaval:
1) Xingamentos
Começou na Bahia uma onda que se alastrou por blocos nas maiores capitais do país. Entre um axé e outro, não foram poucas as situações em que o repertório era intercalado por gritos de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no …”. Da fila para o metrô ou para usar o banheiro, quando o folião não tinha nada melhor para dizer, sobrava para o presidente.
2) Composição inédita
Sem citar o nome do político, Caetano Veloso e Daniela Mercury ironizam o governo em Proibido o Carnaval com versos como “Iemanjá lá no sul/ Vai de rosa ou vai de azul” — clara referência à já famosa frase da ministra Damares Alves. Bolsonaro devolveu com uma marchinha dedicada aos dois e que critica a Lei Rouanet: “Nosso carnaval não está proibido, mas com dinheiro do povo não será mais permitido”.
3) Fantasias de laranja
As suspeitas de uso de candidaturas “laranjas” pelo PSL e o caso das movimentações financeiras do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, serviram de inspiração para foliões debocharem do presidente com as denúncias que atingem seu entorno. Teve até protesto em frente à casa de Bolsonaro na Barra da Tijuca.
4) Sapucaí
A escola de samba Paraíso do Tuiuti, que no ano passado zombou do presidente Michel Temer com um destaque fantasiado de vampiro, voltou à Marquês de Sapucaí com uma série de referências irônicas a Bolsonaro: uma ala inteira de “coxinhas” armadas e um carro alegórico com frases para apontar contradições do discurso do presidente (“Deus acima de tudo, mas sou a favor da tortura”) ou lembrar a resistência da oposição ao seu governo (“Ninguém solta a mão de ninguém”). Os seguidores do Bolsonaro reagiram com uma hashtag no Twitter: #TuiutiNotaZera
5) Flerte com a censura
Em Belo Horizonte, depois que o bloco Tchanzinho Zona Norte puxou um “Ai, ai, ai, Bolsonaro é o …”, seus coordenadores foram alertados pela Polícia Militar que se insistissem nos impropérios ao presidente eles poderiam ficar sem policiamento no cortejo. Para a corporação, a manifestação foi “chula, ofensiva e capaz de incitar a violência”. A foliões mais insistentes, foi explicado que se o policial avaliasse incitação poderia dar voz de prisão.
6) Lata na cabeça
Concebido para homenagear o presidente, o boneco gigante de Jair Bolsonaro levado às ruas de Olinda não foi bem recebido pelos foliões pernambucanos. Ao lado da uma representação da primeira-dama Michelle, a alegoria foi vaiada pelo público e alvo de arremessos de latas de cerveja.
7) Marielle
A vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi homenageada na Marquês de Sapucaí pelas escolas de samba Mangueira, que levou para avenida a viúva Mônica Benício, e Vila Isabel, que desfilou com sua irmã e seus pais. Em São Paulo, a Vai-Vai saiu com um mosaico com a foto da política, assassinada em março do ano passado junto com seu motorista Anderson Gomes. A morte da vereadora alçou seu nome a uma espécie de antítese do presidente e as cobranças pela solução de seu assassinato, repetidas na frase “Quem mandou matar Marielle Franco?”, são motivo de incômodo na família Bolsonaro, quase sempre verbalizado pelo filho Carlos — com uma adaptação: “Quem mandou matar Jair Bolsonaro”.