Os encontros do hacker com os militares durante a campanha à reeleição
Depois de conversar com Bolsonaro sobre supostas fragilidades das urnas, Walter Delgatti tratou do mesmo assunto no Ministério da Defesa
Foi adiado o depoimento da deputada federal Carla Zambelli à PF que estava previsto para esta segunda, 7, a respeito da entrada em cena de Walter Delgatti Neto, o hacker responsável pela Vaza-Jato, na campanha de reeleição de Jair Bolsonaro. Depois da articulação feita por Zambelli para viabilizar o encontro dele com o então presidente no Palácio da Alvorada, conforme comprovou reportagem de VEJA, o hacker passou a colaborar com militares na busca de fragilidades das urnas eletrônicas. Como se sabe, o esforço foi infrutífero. Mas não faltou empenho na tentativa de cumprir a missão, conforme revelou outra reportagem de VEJA, também assinada pelo jornalista Reynaldo Turollo Jr..
Ao sair da reunião no Alvorada, o hacker foi levado ao Ministério da Defesa para falar sobre as urnas com os militares, incumbidos de encontrar falhas no sistema. A colaboração do hacker na Defesa não era conhecida nem pelo TSE, que àquela altura estava em tratativas públicas com os militares sobre a inspeção do código-fonte das urnas. Rapidamente, o hacker encampou o discurso — corrente entre alguns militares — de que o código-fonte responsável pelo funcionamento das urnas podia, sim, conter um “código malicioso” que roubasse votos de Bolsonaro para Lula.
Dentro dessa teoria conspiratória, uma espécie de chave secreta embutida nos equipamentos estava preparada para mudar a decisão dos eleitores do presidente em favor do petista. Delgatti passou a dizer também que estava convencido de que somente um teste de integridade feito na hora e no local da votação, com a biometria de eleitores reais, seria capaz de mostrar se os equipamentos estavam registrando os votos corretamente. Esse era o principal pleito da Defesa junto ao TSE e acabou sendo aceito parcialmente por Moraes. O ministro determinou que o teste de integridade com biometria fosse realizado, mas em pequena amostra das urnas, para não atrapalhar a votação.
Segundo fontes ouvidas por VEJA, o hacker teria sido conduzido à Defesa pelo coronel Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro na Presidência. Dentro do Ministério da Defesa, onde chegou por uma portaria na garagem, Delgatti teria tido um encontro com o titular da pasta, o ministro Paulo Sérgio Nogueira, e conversado com um grupo que incluía o coronel Eduardo Gomes da Silva — oficial do Exército que não tem cargo na pasta. Silva era secretário especial de Modernização do Estado, vinculado à Secretaria-Geral da Presidência, e ficou conhecido em julho de 2021 ao aparecer ao lado de Bolsonaro na live em que o presidente lançou suspeitas contra as urnas, sem apresentar provas. Questionado por VEJA, o Ministério da Defesa não quis se pronunciar sobre o caso na época. Já a Secretaria-Geral da Presidência disse, em nota, que não tinha conhecimento dos fatos.