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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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O que há de verdade até agora no escândalo da Prevent Senior

Caso deve continuar sendo uma das prioridades da CPI da Pandemia nos próximos dias

Por Da Redação Atualizado em 1 out 2021, 12h46 - Publicado em 23 set 2021, 14h57

Um dos maiores planos de saúde do país e o único especializado no atendimento a idosos, a Prevent Senior encontra-se sob suspeita depois de um dossiê com sérias acusações contra a companhia ter sido encaminhado à CPI da Pandemia. Na quarta, 22, um dos principais executivos da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, depôs à comissão na condição de testemunha — e saiu de lá como investigado. Na sequência, os senadores aprovaram novas convocações de depoentes. Um deles é o empresário Luciano Hang, que deverá ser questionado sobre as razões que levaram sua mãe a óbito em um dos hospitais da Prevent (suspeita-se que a empresa tenha omitido que a morte ocorreu em razão da Covid-19). A outra testemunha será a advogada Bruna Morato, representante do grupo de ex-médicos da Prevent que entregaram à CPI as denúncias contra a companhia. Entre várias acusações que constam no documento, a Prevent teria fraudado uma pesquisa, pressionado médicos a receitarem cloroquina e omitido óbitos por Covid-19. A seguir, confira o que há de verdade até agora no escândalo:

Dossiê contra a Prevent Senior — Elaborado por um grupo de ex-médicos do plano de saúde, ele tem servido de base principal para as denúncias apuradas pela CPI da Pandemia. Segundo a companhia, o documento foi obtido de forma ilegal, a partir da invasão de prontuários de pacientes, e suas informações foram manipuladas para tentar criminalizar a empresa. Em queixa encaminhada recentemente à Procuradoria Geral da República, a Prevent Senior diz que o advogado Vitor Magnani, que representava um ex-funcionária em uma causa trabalhista e cuidava também de caso de suposto assédio cometido por um médico, procurou a companhia pouco tempo antes da divulgação do dossiê propondo um acordo de 3,5 milhões de reais para encerrar as queixas. Dias depois, ainda segundo o requerimento da Prevent enviado à PGR, Magnani encaminhou email à companhia alegando que não tinha mais intenção de firmar um acordo trabalhista e não mais trataria do caso do assédio (que ainda era nebuloso), o que ficaria a cargo da advogada BRUNA MORATO, a mesma que, um mês antes, havia ameaçado o jurídico da empresa de levar denúncias contra a empresa à CPI da Pandemia”. A advogada em questão deverá depor à comissão na próxima semana.

Estudo cloroquina — A Prevent Senior divulgou no ano passado um trabalho sustentando que esse remédio, associado à azitrocimina, tinha alta eficácia nos tratamentos de Covid. Por uma série de falhas técnicas e omissões, o trabalho foi cancelado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. A Prevent Senior não recorreu da decisão e hoje diz que a pesquisa, na verdade, tratava-se apenas de “um acompanhamento observacional de pacientes”. Segundo denúncia levada à CPI, a empresa teria manipulado os dados do estudo, ocultando sete mortes ocorridas durante a apuração de dados. A Prevent diz que esses óbitos ocorreram em período posterior ao da pesquisa e foram computados indevidamente na denúncia por ex-médicos que teriam invadido o sistema do plano de saúde e manipulado as informações para compor o dossiê.

Morte Anthony Wong — um dos principais entusiastas do chamado tratamento precoce da Covid a partir de drogas como a cloroquina, o pediatra morreu em dos hospitais da Prevent em janeiro. Com base em documentos enviados à CPI, a comissão questionou na quarta, 22, o representante da empresa sobre uma suposta omissão a respeito da verdadeira causa de óbito, que teria sido provocada pela Covid. O atestado da Prevent lista cinco motivos, entre eles hemorragia digestiva alta, mas não cita a Covid. Questionado sobre isso, o executivo Pedro Benedito Batista Júnior alegou que não poderia comentar dados médicos do paciente sem autorização da família. Com base nas informações que constam no protocolo do tratamento de posse da CPI, no entanto, não há dúvidas de que Wong recebeu tratamento contra Covid no hospital. Ele deu entrada no serviço em  17 de novembro e, no mesmo dia, a família de Wong assinou a autorização para ele tomar hidroxicloroquina, num formulário destinado a pacientes com suspeita ou confirmação de Covid. Independentemente de a Covid ter sido ou não a causa principal da morte, a doença deveria ter sido mencionada no histórico do atestado de óbito, o que não ocorreu. Segundo a Prevent Senior, o atestado de óbito de Wong foi preenchido dessa forma por que o médico responsável pelo documento entendeu que a Covid não estava entre as causas determinantes para a morte. De acordo com especialistas, a justificativa não faz sentido. “Sendo caso confirmado ou suspeito, o atestado de óbito deve ter toda a cronologia dos acontecimentos que levaram ao óbito, da causa básica à terminal, e segundo orientação do Ministério da Saúde, a Declaração de Óbito no contexto da Covid-19 diz que ela ‘deve ser registrada no atestado médico de causa de morte para todos os óbitos que a doença causou, ou se assume ter causado ou contribuído para a morte’. O mesmo manual reafirma a responsabilidade ética e jurídica do profissional médico pelo preenchimento da declaração de óbito”, diz Bruno Rollemberg, advogado especialista em direito da saúde.

Kit cloroquina — Mesmo em um período em que a OMS e muitos outros especialistas já haviam chegado à conclusão de que o medicamento não traz nenhum benefício diante do ataque desse vírus, médicos da rede seguiram prescrevendo a droga para qualquer pessoa que relatasse sintomas de Covid-19. Durante boa parte da pandemia, uma caixinha do remédio e algumas vitaminas eram enviadas à casa dos pacientes, no que acabou sendo chamado de “kit cloroquina”. “Entre os dias zero e três da contaminação, a cloroquina evita a internação em 95% dos caos”, disse a VEJA Pedro Benedito Batista Júnior, em entrevista realizada em agosto do ano passado. Em depoimento à CPI, o executivo negou que a direção da Prevent obrigava os médicos a fazerem esse tipo de prescrição, conforme denúncia do dossiê. Batista Júnior sustentou que os profissionais tinham e continuam tendo autonomia para receitarem o que acharem necessário para cada caso.

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Mudança de Código de Diagnóstico de Covid (CID) — Em depoimento à CPI na quarta, 22, Pedro Benedito Batista Júnior confirmou que a companhia orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, a CID dos pacientes que haviam dado entrada com Covid-19, mas já se encontravam curados da infecção e não representavam mais risco à população do hospital. Em contato com a reportagem de VEJA, a assessoria de comunicação da Prevent Senior afirmou que o executivo não conseguiu explicar com exatidão o que ocorre dentro dos hospitais da rede — e negou a subnotificação de casos: “as mudanças de códigos  se deram num sistema informatizado de gestão interna de leitos. Se um paciente internado deixava de oferecer risco de contaminar outras pessoas, o sistema interno era informado disso pela mudança de código. Tal procedimento não interferira na notificação dos casos e mortes por Covid às autoridades de saúde”.

Gabinete paralelo — A divulgação feita por Jair Bolsonaro a respeito dos resultados da pesquisa da Prevent Senior sobre a cloroquina e o fato de a médica Nise Yamaguchi atender pacientes do plano de saúde geraram a suspeita de que a companhia faria parte do chamado “gabinete paralelo”, como foi batizada a estrutura informal de assessoramento ao presidente durante a pandemia. Seus integrantes defendiam o tratamento precoce e os supostos benefícios de medicamentos como a cloroquina, à revelia da medicina e até mesmo da orientação de ex-ministros da Saúde. A Prevent Senior nega qualquer vínculo com o governo e diz que a doutora Yamaguchi não faz parte de sua equipe.

 

 

 

 

 

 

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