O ex-ministro da Justiça Sergio Moro explicou em depoimento na quarta-feira 8 à Polícia Federal por que hackers não conseguiram ter acesso a suas mensagens no Telegram. Na condição de testemunha, o ex-juiz da Lava-Jato relatou que havia abandonado o aplicativo de conversa em 2017 após virem à tona notícias de ataques de hackers russos nas eleições americanas de 2016. Quando os invasores conseguiram acessar a sua conta, em junho de 2019, já não havia ali mais nenhuma mensagem.
“Como o Telegram é um aplicativo russo, certo ou errado ou por preconceito, eu abandonei aquela forma de comunicação”, declarou ele, em audiência na Justiça Federal de Brasília. “No meu celular, não houve captura de mensagens no Telegram, porque eu havia deixado o aplicativo há muito tempo (…). Eu usei por um tempo, mas abandonei”, acrescentou, deixando claro que as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil foram retiradas dos aparelhos dos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato.
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Clique e AssineO depoimento por videoconferência, que durou quarenta minutos, ocorreu no âmbito da ação penal da Operação Spoofing, que processa o hackers que invadiram os celulares dos procuradores da Lava-Jato, entre eles Deltan Dallagnol, o coordenador da força-tarefa em Curitiba.
Interferência na PF
Durante a audiência, o advogado Ariovaldo Moreira, que defende o réu Walter Delgatti, chegou a citar as acusações de interferência do presidente Jair Bolsonaro na PGF para questionar Moro se ele, como ministro da Justiça, também “influenciou” a corporação na investigação contra os hackers. “Claro que não. São situações absolutamente diferentes”, rebateu o ex-juiz, alegando que pediu a abertura da investigação contra os hackers, pois altas autoridades do poder público haviam sido vítimas do ataque cibernético – assim como ele.
Glenn Greenwald
Indagado sobre sobre o papel de Glenn Greenwald, jornalista do The Intercept Brasil que coordenou a publicação das mensagens na chamada Vaza-Jato, que revelou a troca de conversas entre procuradores da Lava-Jato, Moro afirmou que foi vítima de um “ataque hacker crimininoso”, que não concordava com o “sensacionalismo” das publicações, mas que “nunca” imputou crime a Glenn. “Eu nunca disse que o jornalista havia cometido um crime específico ali naquela questão. Isso, a meu ver, depende muito da conclusão das investigações”, disse.