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Por José Benedito da Silva
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Adriana Ferraz. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Gabriel Chalita lança espetáculo com diálogo entre Papa e São Francisco

Em entrevista a VEJA, ex-secretário de educação de São Paulo revela detalhes sobre a peça, bastidores das eleições da ABL e nega chance de voltar à política

Por Isabella Alonso Panho Atualizado em 14 mar 2024, 12h35 - Publicado em 14 mar 2024, 10h25

Em 2017, o Papa Francisco abriu uma lavanderia no Vaticano para atender à população de rua. É esse cenário que o ex-secretário de Educação de São Paulo Gabriel Chalita ambienta uma peça de teatro que estreia na sexta, 15, no Rio de Janeiro. Intitulado “Entre Franciscos”, o espetáculo é um diálogo entre São Francisco de Assis e o Papa Francisco. Em entrevista a VEJA, Chalita conta detalhes sobre a peça, revela bastidores sobre a disputa para se tornar um imortal da Academia Brasileira de Letras e nega tanto o rótulo de escritor autoajuda quanto a possibilidade de, um dia, voltar para a política.

A escolha da lavanderia tem algum paralelo com a forma como a qual a questão da população de rua tem sido tratada na arena política?

Tem. Eu estava em um congresso fora do Brasil. Vi uma pessoa que estava na rua, sentada, e um senhor se abaixou e se sentou do lado dele para ajudar e conversar. Um amigo falou assim, “nossa parece São Francisco e o Papa. Chalita, escreve uma peça sobre São Francisco”. E eu fiquei com aquilo na cabeça. Tenho uma admiração profunda por São Francisco, acho extraordinária a vida, a história, a entrega. É um inspirador que transcende a questão religiosa. A peça é um diálogo dos dois sobre feminicídio, tráfico de órgãos, tráfico humano, refugiados, guerras, crianças sem oportunidades, fome, violência sexual, suicídio. Escolhi temas que causam dor nas pessoas.

Muitos assuntos que, na sua essência, não são políticos, são lidos na nossa sociedade como questões que pertencem a uma bandeira ou outra. O senhor acha que por isso pode haver alguma reação de religiosos mais conservadores à peça?

Eu acho que é possível, sim, mas o texto é muito delicado, a tendência dele não é essa. Eu convidei o Cardeal do Rio para ver a peça, convidei o Cardeal de Brasília e o de São Paulo, quando for aqui, convidei franciscanos para assistirem também. Eu mandei o texto para alguns padres franciscanos, amigos meus, de quem eu gosto muito, para ver o que eles achavam . E eles amaram.

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A peça é religiosa?

Não é. Quer dizer, depende do que você entende por religiosa. É uma peça de uma fundamentação filosófica humana.

Uma pessoa que trabalha com a causa da população em situação de rua aqui em São Paulo é o padre Júlio Lancelotti, recente alvo de um pedido de CPI na Câmara. O que o senhor pensa sobre?

Olhe como Madre Teresa foi perseguida, como Irmã Dulce foi perseguida. Conheço bem o Padre Júlio e tenho uma profunda admiração. Quando eu era vereador, pedi para ele ir comigo às ruas. Eu queria entender. As pessoas o reconhecem. Ele senta, conversa, abençoa.Ele não é um “fake” que usa esse tema. Ele tem uma dimensão de humanidade profunda.

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Que outras peças vem aí?

Tem uma que chama “Marias”, que vai ser dirigida pelo Jorge Tacla e vai ter o maestro João Carlos Martins. É uma peça com orquestra junto. O texto fala sobre toda dimensão do significado das Marias: a Maria Santa, a Maria Mãe, a Maria pecadora. Eu fiz esse texto no Carnaval. Outra peça se chama “Território do Amor”. É um encontro de nove mulheres – Édith Piaf, Marlene Dietrich, Maria Callas, Barbara Brodi, Mercedes Sosa, Maísa, Dolores Duran, Dalva de Oliveira e Elizete Ccardoso. São 9 cantoras que não sabem onde estão e que têm em comum alguns cantos que falam de amor.

Sua carreira agora vai ser direcionada para o teatro?

Tenho um livro que acabou de sair, pela Senac do Rio, que chama “O vestido que não usei e outras crônicas”. É muito interessante esse processo solitário do texto. Uma das coisas que mais gosto de fazer é escrever. Eu tento pegar momentos na minha vida, períodos em que eu dou menos palestras, geralmente em janeiro, julho. Às vezes eu fico um mês no mesmo lugar quando estou trabalhando em um livro.

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Tem alguma chance de você voltar para a política?

Não. Eu fiz uma opção de investir na literatura, na educação. Foi uma experiência linda na minha vida ter sido secretário de Educação de São Paulo. Quando dou palestras no interior ou encontro uma professora, recebo o carinho pela lembrança do que fizemos na rede. Foi uma experiência incrível na minha vida, mas chegou um momento em que tive que fazer escolhas. A literatura é uma coisa muito cara. E eu vi que as coisas se misturavam muito, “ah tá fazendo uma peça porque é candidato”. Na política, fiz uma opção de ajudar.

O senhor é próximo do vice-presidente e já fez campanha ao lado do atual ministro da Fazenda. Qual é a sua avaliação sobre esse governo?

O mundo está muito complexo. As pessoas estão com uma visão binária, ou amam ou odeiam. Isso não é bom para a democracia nem para a civilidade. Com todos os problemas que há para serem enfrentados, voltou uma normalidade institucional. Agora o Brasil dialoga bem com o mundo, isos é um fator essencial, o Brasil consegue sentar com países de todos os lados para debater, para discutir, para construir pontes. Há um caminho econômico muito interessante. Haddad tem dado uma grande demonstração de que você constrói políticas públicas com diálogo, é um ministro que ouve todos os lados. Há resultados consistentes vindo disso.

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Ainda sonha em se tornar um Imortal da Academia Brasileira de Letras?

Tenho muito respeito pela ABL, mas há circunstâncias. Estou na APL (Academia Paulista de Letras) há muito tempo e há escritores incríveis aqui que não entraram, e que perderam a eleição também. Tarcísio Padilha insistiu muito para que eu fosse candidato e eu até ponderei se era o momento… Porque eu sei como funcionam essas academias. Ele morreu durante campanha que ele tava fazendo pra mim. Lygia Fagundes Telles, que foi um grande cabelo eleitoral meu, estava doente. Eu lembro da emoção da Nélida Piñón entregando o voto dela para mim. Saber que o último voto que Lygia deu em vida foi para mim. Isso não tem preço. Eu tenho esse espírito acadêmico. Então, se um dia der certo, vai ser ótimo. Se não der, esses votos já valeram muito.

Naquela votação, o que ficou faltando para o seu nome ser escolhido?

O presidente, por quem eu tenho muito respeito, tinha candidato. E quando um presidente tem candidato, você não ganha do candidato do presidente. Aqui na Academia Paulista é assim, lá também. O presidente foi muito respeitoso comigo e falou isso. 

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O senhor acha que houve relação com o fato de ter vindo da política?

Acho que não. Porque tem outros políticos lá. Marco Lucchesi, que era o presidente, tinha clareza de quem era seu candidato. Depois Merval Pereira, que seria o sucessor, falou isso para mim também. Mas foi uma experiência legal visitar os acadêmicos. Eles são muito carinhosos na maneira de receber, de falar, de contar histórias.

Como você se define hoje? Há quem o classifique como escritor de autoajuda, de literatura, de teatro…

De escritor de autoajuda me chamaram apenas uma época, quando estourei com um livro, o “Pedagogia do Amor”. Depois nunca mais se falou isso. Uma parte dos livros que escrevi são de literatura infantil. Tenho muitos livros de filosofia. Não tem nada de autoajuda. Eu me lembro que quando falavam que era de auto-ajuda era por causa do Pedagogia do amor, que vendeu muito. Fora do Brasil, meus lançamentos na Europa, no oriente médio, sempre são como filosofia. Eu tenho dois grandes ofícios que me orgulham muito. A política foi uma questão circunstancial que me deu muita felicidade. Trabalhar como advogado me dá prazer também. Mas na minha alma sou professor e escritor. Não me vejo fora de sala de aula. 

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