Com Lira no meio, PT de Lula e PL de Bolsonaro têm guerra certa para 2023
Os dois partidos, que apoiam a reeleição do presidente da Câmara, querem assumir a comissão mais importante e estratégica da Casa
À frente de uma aliança numerosa e para lá de heterogênea em torno de sua reeleição à presidência da Câmara, como mostra a reportagem de capa de VEJA desta semana, Arthur Lira (PP-AL) terá pela frente algumas arestas a aparar entre os partidos que o apoiam, em busca de espaços de poder nas comissões e na Mesa Diretora da Casa. Um dos primeiros enroscos à vista opõe duas siglas que protagonizaram a polarização política nacional: o PT do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o PL do presidente Jair Bolsonaro, ambos ambicionando ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Comissão mais importante da Câmara, que avalia a constitucionalidade dos textos propostos pelos parlamentares e influencia o andamento de pautas de interesse do governo, a CCJ costuma ser a joia da coroa entre os colegiados, ao lado da Comissão de Orçamento. É comum que a maior bancada na Casa reivindique o posto, o que favoreceria o PL, dono de 99 cadeiras a partir de 2023, condição que deixa parlamentares do partido otimistas quanto à CCJ. Segundo deputados do PL, poderia haver um rodízio no cargo, que contemplasse os petistas.
Diante do peso da comissão, no entanto, o PT tem uma estratégia para reverter a vantagem e afastar qualquer chance de que aliados de Bolsonaro ocupem o posto durante o governo Lula. Os petistas articulam a formação de um bloco para reunir mais deputados e alijar da posição o rival. “Vamos trabalhar para construir um bloco de governo, que terá de compartilhar espaços, enquanto aliados”, disse a VEJA o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG). O União Brasil, uma das siglas com as quais o PT negocia a formação do bloco, está de olho em manter a presidência da Comissão Mista de Orçamento, estratégica ao orçamento secreto.
Entre as posições na Mesa Diretora, o União quer continuar na Primeira Secretaria da Câmara, posto atualmente ocupado pelo presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), o PL espera indicar o vice na chapa de Lira. O nome que desponta para ocupar a vaga é o do deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica e nome muito próximo do pastor bolsonarista Silas Malafaia. “Arthur tem uma habilidade muito grande de conversar com os diferentes interesses da Casa e, à medida das possibilidades, atender às demandas de todos os lados”, avalia Cavalcante.