Aras diz que inquérito das fake news é atípico e causa danos ao STF e à PF
Em manifestação enviada ao Supremo, procurador-geral da República afirma que investigação deveria ser desenvolvida pelo MPF e pede mudanças em sua condução
O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou nesta quinta-feira, 4, em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal, que o inquérito que investiga fake news e ataques à Corte é “atípico”, aberto de forma “sui generis” e que pode prejudicar a imagem do próprio STF, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal.
“Enquanto a Suprema Corte não estabelecer, com clareza, os critérios e balizas para o inquérito, haverá um estado de insegurança jurídica que acaba por atingir a honorabilidade não apenas do Supremo Tribunal Federal, mas da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal”, afirmou Aras no documento.
A questão principal, que vem sendo levantada pela PGR desde a instalação do inquérito em março de 2019, ainda na gestão de Raquel Dodge, é que o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, não poderia tê-lo instalado da forma como foi, sem a participação da Procuradoria, que deveria ser o órgão responsável pela investigação, e sem delimitar qual é o objeto da investigação. Para ele, Toffoli e o STF poderiam ter usado o poder de polícia administrativa para instaurar inquérito para investigar algo ocorrido dentro das dependências do tribunal, mas não estendê-lo a fatos amplos ocorridos fora das dependências da Corte.
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Clique e Assine“E foi justamente com base nessa distinção que o PGR se manifestou em todas as oportunidades em que foi instado, entendendo ser legítima a instauração de inquérito sob o ângulo de investigação administrativa preliminar, que dispensa, por norma regimental expressa, a distribuição. Contudo, surgindo elementos mínimos que apontem para a necessidade de abertura de inquérito propriamente dito, faz-se necessária a supervisão, já não mais da Presidência do Tribunal nas suas atribuições de polícia administrativa, mas de órgão judicante, no caso, a PGR”, escreve.
Aras propõe três medidas para “compatibilizar” o inquérito com o previsto na Constituição: 1) permitir ao Ministério Público Federal a constante participação na investigação, “visando a proteção de direitos e garantias fundamentais dos investigados e a colheita de indícios e provas”; 2) direito aos advogados dos investigados de “acesso aos elementos de prova já produzidos pela polícia”; e 3) que “as medidas investigativas, como quebra de sigilo, busca e apreensão, vedação de uso de redes sociais etc, caso não requeridas pelo Ministério Público, hão de ser submetidas previamente ao seu crivo”.
Preocupação
O inquérito das fake news, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes, se tornou a principal dor de cabeça do presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. A investigação, que ameaça inclusive seus filhos, já resultou em 29 mandados de busca e apreensão executados pela PF contra ativistas, empresários e deputados bolsonaristas.
Moraes também determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal de cinco pessoas, entre elas os empresários Luciano Hang, da Havan, e Edgard Corona, da Smart Fit, acusados de financiar um esquema de divulgação de fake news. O problema para Bolsonaro é que o pedido retroage a julho de 2018, durante a campanha presidencial que o levou ao poder. Há temor de que os dados colhidos nessa investigação acabem alimentando as ações que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação da chapa vencedora por disparo em massa de mensagens por WhatsApp.