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Por José Benedito da Silva
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‘A gente não quer só o público bolsonarista’, diz presidente da EBC

Em entrevista a VEJA, Hélio Doyle diz que novelas da Record eram muito caras e politizadas e que emissora pública também precisa ter audiência

Por Victoria Bechara 12 ago 2023, 15h23

Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou o seu terceiro mandato, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passa por uma reestruturação, com a criação do Canal Gov, que entrou no ar em 25 de julho e consolidou o plano de separar a comunicação pública da comunicação de governo. A emissora também reestrutura a programação da TV Brasil e deixou, por exemplo, de comprar novelas da TV Record.

O presidente da EBC, Hélio Doyle, afirmou que tomou a decisão porque as produções eram muito caras e atingiam um público predominantemente bolsonarista. Na gestão anterior, foram compradas pelo menos três novelas — uma delas, Os Dez Mandamentos, custou 3,5 milhões de reais. “Não queremos perder público, mas a gente não quer só o público bolsonarista”, declarou. Ele também falou sobre a audiência da TV Brasil, que considera baixa, e sobre os planos para a criação de um canal internacional.

Como mostrou reportagem de VEJA na edição desta semana, a EBC tem um longo histórico de oficialismos problemáticos. Com Bolsonaro, havia censura aos jornalistas e pautas proibidas, como o assassinato de Marielle Franco e a ditadura militar. O ex-presidente também usava a TV Brasil para transmitir sua ida a eventos militares, cultos evangélicos e até a famosa reunião com embaixadores para espalhar notícias falsas sobre o sistema eleitoral — o que culminou na sua inelegibilidade por decisão do Tribunal Superior Eleitoral neste ano. “As polêmicas e até as tentativas de controle são normais e fazem parte do processo democrático. A gente tem que enfrentar isso”, diz Doyle. Leia trechos da entrevista abaixo: 

Vocês lançaram recentemente o novo Canal Gov. Qual o objetivo? A EBC tem uma dupla missão: fazer a comunicação pública e prestar serviços ao governo. O Canal Gov é a maneira que nós temos de prestar esse serviço ao governo, mediante contrato com a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência). O canal basicamente transmite eventos oficiais, entrevistas coletivas do presidente e ministros. A grade ainda não está completa, mas queremos que tenha outros programas. Tem o Bom Dia, Ministro e um programa novo, do Marcos Uchôa, O Brasil no Mundo. Deixando claro que é uma prestação de serviço, então a programação é definida pelo nosso cliente, mas também tem que ver a nossa capacidade de produção. 

E haverá mudanças na TV Brasil? Em setembro a gente começa a implementar uma nova programação de forma gradual, mas a maior parte vai estrear no ano que vem. Estamos fazendo a aquisição de filmes brasileiros, também vamos ter um programa de literatura chamado Trilha de Letras, que deve começar e setembro. O Sem Censura deve voltar em outubro. A novela que nós temos atualmente, Os Imigrantes, foi comprada da TV Bandeirantes antes da nossa gestão e termina em novembro. Estamos prospectando a sucessora, queremos manter o horário da dramaturgia e estamos abertos a qualquer possibilidade. Claro que a gente dá prioridade para os produtos brasileiros, mas há uma dificuldade de encontrar uma produção que seja boa e que esteja dentro do orçamento de uma empresa pública. 

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Por que a EBC vai deixar de comprar as novelas da Record, adquiridas durante o governo Bolsonaro? Elas eram muito caras e com temas muito politizados. Essas novelas foram compradas porque eram da Record e porque tinham temas bíblicos, que atendiam um público predominantemente bolsonarista. Não queremos perder público, mas a gente não quer só o público bolsonarista. 

A TV Brasil ficou em quinto lugar no ranking de audiência em janeiro, mas não atingiu um ponto. Como o senhor avalia esses resultados? Quinto lugar parece um resultado bom, mas não é. É baixo. A TV aberta está no processo de concorrência com as redes sociais, com as plataformas de streaming e a TV a cabo, mas a TV aberta ainda é a preferida de boa parte da população, principalmente da população mais pobre. Nosso público são as classes C, D e E. A gente ouve que emissora pública não precisa de audiência. Precisa sim. Queremos ter audiência, mas sabemos das dificuldades, é um trabalho a longo prazo. 

O senhor disse recentemente que um ministro reclamou de uma matéria feita pela Agência Brasil. Acredita que é possível ter independência total na EBC? Eu acho que tem que ter. A gente conhece inúmeros exemplos de outros países que prezam pela independência da comunicação pública e participação social na definição de programação. Isso é o que caracteriza a comunicação pública. Mas problemas sempre vão existir. A BBC (emissora pública do Reino Unido) teve problemas, em países com a democracia mais avançada, a discussão chega ao Parlamento, o canal público do Canadá está quase todos os dias nos jornais, questionado por causa dos custos elevados que tem em relação ao que entrega, questionado pela oposição por causa disso e daquilo. As polêmicas e até as tentativas de controle são normais e fazem parte do processo democrático. A gente tem que enfrentar isso. A maioria da população e boa parte das pessoas que estão no governo não compreendem ainda o que é comunicação pública. Isso eu também considero natural porque a TV pública é recente no Brasil. Eu citei esse caso, certamente o assessor do ministro que reclamou da matéria não tem clareza do que seja a comunicação pública, entendeu? Foi um exemplo.

“A gente ouve que emissora pública não precisa de audiência. Precisa sim. Queremos ter audiência, mas sabemos das dificuldades, é um trabalho a longo prazo”

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Como é a relação do senhor com os ministros Paulo Pimenta (da Secom) e Juscelino Filho (das Comunicações)? Para falar a verdade, eu não conheço o Juscelino Filho. Eu não sei se ele já veio aqui e. Se veio, eu não estava. Os contatos que foram feitos até agora entre a EBC e o Ministério das Comunicações foram na área técnica. O Paulo Pimenta que transmitiu o convite para eu ser presidente da EBC, ele não interfere na programação do que nós estamos fazendo, a gente conversa. Vou lá e a gente conversa. Minha relação com o Pimenta é muito boa, não tenho nada a reclamar. O Juscelino, como eu disse, não conheço. 

O presidente Lula disse que o ministro Paulo Pimenta vai fazer um “esforço especial” para criar um canal de televisão estatal com abrangência internacional. No dia seguinte, eu o senhor autorizou a criação de um grupo de trabalho na EBC para discutir isso. Como está o andamento? O Brasil já teve dois canais internacionais. Primeiro se chamava canal Integración, depois foi substituído pela TV Brasil Internacional, aí ela foi extinta. O Lula quer restabelecer essa TV. Eu formei o grupo com várias áreas da empresa para estudar essa volta, porque isso implica financiamento, tecnologia, operações e programação adequada para o canal internacional. Esse grupo tem 30 dias para apresentar suas conclusões, mas dificilmente aconteceria este ano, até porque nós não temos orçamento para isso. Vamos ver o que o grupo diz, se a gente tem condições efetivas de retomar a TV Brasil Internacional no ano que vem. O Lula deixou claro o que ele quer, não é para dar notícia de governo nem de Congresso, é para mostrar o Brasil, os pontos turísticos, a culinária, a música. 

 

 

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