Assine VEJA por R$2,00/semana
Maílson da Nóbrega Por Coluna Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

Um festival de impropriedades

Há muitos defeitos na medida que dá calote nos precatórios

Por Maílson da Nóbrega 21 nov 2021, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A PEC dos Precatórios, a pior da história, contém um rosário de impropriedades e pode acarretar sérios problemas para o país. Primeira, representa um calote contra direitos a indenizações, reconhecidos pelo Judiciário e relativos a perdas decorrentes de erros de cálculo do governo. Trata-se de obrigações líquidas e certas, de cumprimento irrecusável. O precatório é uma ordem de pagamento que deve ser paga. O descumprimento põe em dúvida a credibilidade e a seriedade do governo.

    Publicidade

    Segunda, esconde do público os valores não pagos, o que conspira contra o princípio constitucional da publicidade. Esses processos têm duas fases: (1) a sentença que reconhece o direito à reparação e (2) o precatório, uma certidão que atesta esse direito. A PEC proíbe o Judiciário de emitir essa certidão. Inacreditável.

    Publicidade

    Terceira, aumenta artificialmente o teto de gastos, ampliando despesas dos três poderes. Em vez do ajuste pelo IPCA dos doze meses anteriores a junho de cada ano, adota-se o período de janeiro a dezembro porque a inflação deste ano será maior. Abre-se espaço para financiar um programa incerto e confuso para substituir o testado Bolsa Família. E para emendas parlamentares e outros fins. Uma pedalada.

    Quarta, limita em 40 bilhões de reais os pagamentos de precatórios, transferindo o excedente para o exercício seguinte (bilhões irão para 2023). Como haverá novas sentenças, cria-se uma bola de neve. De acordo com um consultor do Senado, em quinze anos o estoque seria de 4 trilhões de reais. Ficará impagável.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    “O STF pode considerar a PEC inconstitucional e obrigar o Tesouro a pagar tudo de uma vez”

    Quinta, cria um “jabuti”, autorizando a moratória de dívidas municipais com a Previdência. Segundo um ditado, jabuti não sobe em árvore. Se está lá, alguém o colocou. Por esse método espúrio, incluem-se sub-repticiamente assuntos estranhos em um projeto para atender a certos interesses, nem sempre nobres.

    Publicidade

    Sexta, o objetivo é nitidamente eleitoreiro. Pretende-se mudar a intenção de voto dos beneficiários do novo Bolsa Família, localizados basicamente no Nordeste. Por grande maioria, eles não apoiam a reeleição do presidente, conforme dizem várias pesquisas de opinião. Fere-se o princípio constitucional da moralidade.

    Continua após a publicidade

    Sétimo, viola-se a lógica do teto de gastos — de limitar despesas previsíveis —, o que significa destruir a âncora fiscal. O Banco Central fica sozinho na missão de controlar a inflação, o que implica elevar muito a taxa de juros e inibir a criação de emprego e renda. O PIB sofre.

    Publicidade

    O risco é de o STF, diante dessas impropriedades, considerar a PEC inconstitucional, o que é muito provável. Isso ocorreu com emendas constitucionais semelhantes (números 30 e 62). O Tesouro teria de pagar os atrasados de uma só vez, o que seria impossível, pois o espaço estaria ocupado pelos gastos adicionais do Bolsa Família e outros. O teto de gastos ruiria definitivamente, com sérias consequências negativas.

    Desse modo, uma análise serena do tema pelo Senado recomendaria a rejeição da PEC do calote.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.