Assine VEJA por R$2,00/semana
Maílson da Nóbrega Por Coluna Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

O orçamento secreto elétrico

Despesas bilionárias são feitas sem transparência

Por Maílson da Nóbrega 31 jul 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O orçamento secreto e sua fonte — as emendas do relator — constituem grave retrocesso institucional no processo orçamentário. Suas características medievais lembram o patrimonialismo de Portugal da Era das Trevas. O Brasil modernizou suas regras orçamentárias com a extinção da conta movimento no Banco do Brasil e do Orçamento Monetário (OM). O BB sacava sem limites no Banco Central para fornecer bilhões em crédito e subsídios sem transparência. O OM foi o maior orçamento paralelo do Brasil.

    Publicidade

    O Orçamento se rege por três princípios: legitimidade (aprovação pelo Parlamento), unicidade (um único Orçamento) e universalidade (todas as receitas e despesas integram o Orçamento). Apesar dos avanços, continuamos violando os três. O orçamento secreto criou uma aberração: parlamentares executam o Orçamento, distorção sem paralelo no mundo. Tais emendas irrigam o submundo das negociações políticas.

    Publicidade

    O Judiciário também tem orçamento secreto. Multas judiciais, que são recursos públicos, estão fora do Orçamento. Juízes as administram, sem controle social. Advogados públicos ganham a sucumbência (valor pago pela parte vencida em processo judicial), que deveria, a rigor, ir para o Orçamento. Trata-se de ganho salarial oculto. E sem pagar imposto de renda.

    “Consumidores indefesos pagam, sem saber, pela geração de energia a carvão e óleo diesel”

    Publicidade

    O setor elétrico maneja um gigantesco orçamento secreto. Parte dele se abriga na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo recolhido de todos os consumidores. Seu valor, fixado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é debitado na conta de luz dos consumidores. O Congresso aprova variadas benesses, mas elas não integram o Orçamento. Consumidores indefesos pagam, sem saber, até para promover a geração de energia a carvão e óleo combustível, bem como por subsídios para fontes renováveis como a solar e a eólica, as quais, apesar de antes necessitarem de incentivos, hoje são as mais baratas de matriz energética.

    Continua após a publicidade

    A CDE, a despeito de iniciativas para reduzir suas despesas, financia a universalização do acesso à energia elétrica, descontos nas tarifas, fornecimento de energia em regiões remotas e por aí afora. Não à toa, o Brasil tem uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo, o que gera ineficiências, reduz a nossa competitividade externa e inibe a expansão do potencial de crescimento do PIB, do emprego e da renda.

    Publicidade

    Os encargos da CDE equivalem a uma tributação, enquanto os benefícios são despesa pública. Deveriam passar pelo crivo do Parlamento. A CDE é um monstrengo institucional manejado por burocratas e utilizado por governos da hora. Por certo, há subsídios justificáveis, mas não se pode saber disso sem o exame de sua criação. É preciso investigar e desvendar os custos da CDE arcados pelos consumidores. Suas deliberações fiscais — receitas e despesas — seriam transferidas ao Orçamento aprovado pelo Congresso, permitindo debater seus programas. Há que fazer o mesmo com os orçamentos secretos aqui citados.

    Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800

    Publicidade
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.