Creio que uma das frases mais ouvidas nos consultórios médicos – especialmente pediátricos – quando as mães perguntam sobre as causas de uma febre ou problema, é que tudo provavelmente não passa de uma virose. Talvez uma frase que acalma e deixa tudo mais tranquilo para uma família angustiada, mas é frustrante porque não explica nada. Muitos pais acham que quando o médico não tem certeza de nada, diz que é uma virose.
Muitas vezes o processo é verdadeiro; outras vezes é realmente um problema simples que pode ser causado por um vírus. Mas talvez em muitas ocasiões, o diagnóstico de uma virose pode simplesmente ser um subterfúgio para ˆisto não é nada”. Alguns dias de observação e provavelmente o problema desaparecerá sem sequelas ou qualquer necessidade de acompanhamento.
Algumas coisas nos fazem refletir sobre o diagnóstico. Será que foi feita uma avaliação completa com anamnese (história clínica) e exame físico? Foram pedidos exames laboratoriais? Existe um possível contagiante para o quadro ou não?
Realmente existem centenas e centenas de vírus que podem ocasionar um sem número de sinais e sintomas: febre, mal estar, náuseas, vômitos, diarreias, problemas respiratórios, lesões na pele, nas mucosas, problemas cardíacos ou renais e até meningites. Mas também podem ser totalmente assintomáticos. O grande problema é que uma afecção viral pode ser benigna ou ser muito complexa, causando problemas a curto, médio e longo prazo.
Se por um lado, uma virose respiratória pode ser determinada como um simples resfriado, uma coriza, também pode levar a uma pneumonia de difícil evolução. Uma irritação na faringe pode ser também um pródromo (sinais que aparecem antes de uma doença) de uma virose complexa como o sarampo e a varicela (catapora), que, apesar de controladas pelas vacinas, ainda podem aparecer em algumas regiões. E os sintomas podem ser muito intensos como febre extremamente elevada, péssimo estado geral e possíveis complicações.
Bacterianas ou virais?
Algumas condições pediátricas são separadas pela intensidade, como bacterianas ou virais. Por exemplo, é de comum acordo na população médica e leiga que febres baixas são usualmente causadas por infecções virais, enquanto febres mais elevadas seriam causadas por processos bacterianos. Nada mais inadequado. Quem já presenciou a febre extremamente elevada de um sarampo, não se esquecerá que temperaturas podem chegar a 40º ou 41º Celsius. E que muitas infecções bacterianas, especialmente em crianças pequenas podem cursar com temperaturas baixas e algumas vezes até com hipotermia.
Hoje dispomos de exames laboratoriais que permitem avaliar a presença de vírus ou bactérias, tanto no sangue como em secreções. Provavelmente, você já foi encaminhado alguma vez ao pronto socorro para avaliar se existe algum sinal de estreptococcia – presença da bactéria estreptococos, por um esfregaço da faringe (em que o profissional raspa a garganta com um instrumento parecido com um cotonete para avaliar no laboratório se a infecção é causada por esta bactéria). O objetivo é verificar se há ou não necessidade de antibiótico, qual e por quanto tempo.
No entanto, na maior parte das vezes, especialmente em pronto-socorros ou consultórios, por sua experiência clínica, um bom exame e história, o médico poderá descartar inicialmente um quadro mais complexo ou simples, e determinar se realmente se trata de uma virose ou uma infecção mais grave. Quando necessário, pedirá retorno, observação mais intensa, exames de laboratório e outros métodos para o diagnóstico.
Portanto, da próxima vez que o seu pediatra falar que é apenas uma virose, ele não estará provavelmente dizendo apenas que não é NADA. Ele também não estará ganhando tempo, mas provavelmente sua vivência permitiu que conseguisse separar mentalmente os quadros mais frequentes de origem viral ou de outra causa. MAS, fique atento, nem toda virose é benigna.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista