Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Letra de Médico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil
Continua após publicidade

O que sabemos sobre a relação entre a poluição e o surgimento do câncer

Pesquisas confirmam elo entre poluentes atmosféricos e maior risco de câncer de pulmão (mesmo em pessoas que não fumam)

Por Antonio Carlos Buzaid e Jéssica Ribeiro Gomes*
Atualizado em 18 jul 2023, 08h38 - Publicado em 18 jul 2023, 08h37

A poluição do ar é um problema de saúde pública. Apesar disso, ainda hoje pouco se discute sobre o seu impacto no longo prazo e a sua relação com o câncer de pulmão.

Cerca de 99% das pessoas no mundo vivem em cidades cuja qualidade do ar é inferior à recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse elevado nível de poluição atmosférica contribui com 7 milhões de mortes prematuras a cada ano e com até 15% da mortalidade por câncer de pulmão.

As fontes de poluição são múltiplas, incluindo ambientes externos e internos: desde veículos motorizados, instalações industriais e fumaça de produtos de tabaco até atividades agrícolas, queimadas e dispositivos de combustão domésticos.

Hoje sabemos que essa poluição do ar não afeta apenas o sistema respiratório. As partículas tóxicas são capazes de entrar nos pulmões e até na circulação sanguínea, podendo acarretar problemas cardíacos (infarto, endurecimento das artérias), neurológicos (derrames) e câncer.

Ao longo das últimas décadas, diversos estudos vêm demonstrando a correlação entre o aumento do risco de câncer de pulmão e a exposição aos poluentes presentes no ar. De tal maneira que, já em 2013, a poluição atmosférica foi classificada como um fator carcinogênico pela International Agency for Research on Cancer (IARC), ligada à OMS.

Ao avaliar mais de 300 mil pessoas por um período mediano de 13 anos, um estudo europeu demonstrou, por exemplo, aumento na incidência de câncer de pulmão de 22% por 10 μg/m³ (microgramas por metro cúbico) de exposição a partículas aéreas com diâmetro menor do que 10 μm. Esse aumento foi ainda mais relevante para o subtipo de tumor adenocarcinoma.

Continua após a publicidade

Também já foi observado que, quanto maior a concentração de poluentes no ar, maior a ocorrência de câncer de pulmão: pequenos aumentos de 1 μg/m³ nos níveis de material particulado fino (inferior a 2,5 μm) podem elevar em 8% a incidência desse tumor.

+ LEIA TAMBÉM: Estratégias para detectar o câncer de pulmão mais cedo

No Brasil não é diferente. A análise de 5.565 cidades brasileiras no período de 2010 a 2018 mostrou que o contato ambiental com material particulado fino a longo prazo aumentou o risco de mortalidade por vários tipos de tumores, incluindo o câncer de pulmão.

Assim, é importante destacar que a poluição afeta todas as pessoas, mesmo as que nunca fumaram. O aumento de mortalidade pelo câncer de pulmão também foi demonstrado em uma grande população americana de mais de 188 mil pessoas que nunca fumaram, após exposição a longo prazo de material particulado fino.

Por outro lado, em relação aos fumantes, o cigarro e a poluição atmosférica parecem ter um efeito sinérgico, juntos potencializando o risco de câncer de pulmão.

Continua após a publicidade

Em suma, os estudos sugerem uma correlação entre uma maior incidência de câncer de pulmão, bem como sua mortalidade, com a exposição prolongada à poluição do ar, particularmente a materiais particulados finos.

Embora o cigarro ainda seja o grande responsável por esse tumor (cerca de 90% dos casos), o problema da poluição tem especial relevância, pois afeta a população como um todo, em todas as áreas do mundo, incluindo até mesmo as pessoas que nunca fumaram.

Devemos, portanto, estar alertas sobre os prejuízos da poluição atmosférica nas diversas regiões do nosso planeta. Além dos efeitos sobre o meio ambiente e o clima, ela afeta a saúde humana global, com impacto em doenças respiratórias, cardíacas, neurológicas e também oncológicas.

É imperativo discutir e implementar estratégias para reduzir a poluição do ar e, consequentemente, prevenir e diminuir a incidência do câncer no Brasil e no mundo.

* Antonio Carlos Buzaid é diretor médico do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e cofundador do Instituto Vencer o Câncer; Jéssica Ribeiro Gomes é oncologista clínica da Rede Meridional/ES

Continua após a publicidade
Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.