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A relação entre obesidade, comportamento sexual e fertilidade

A obesidade pode provocar alterações nos sistemas responsáveis pela reprodução

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 4 nov 2019, 16h00 - Publicado em 4 nov 2019, 15h17
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  • A obesidade no epicentro gerador de doenças limitadoras do tempo e da qualidade de vida é consenso, embora as soluções apresentadas tomem o cuidado de mantê-la no posto que ocupa. Quase insano, no que se espera daquilo executado repetidamente procurando resultados diferentes.

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    Diabetes, artropatias, doenças cardiovasculares, tumores e tantas outras patologias são citadas como resultantes da obesidade com definidas fisiopatologias, contudo, comprometimento do comportamento sexual é sempre remetido às justificativas psicológicas, as quais se explicariam pelo acanhamento do obeso por se interpretar pouco atrativo, enquanto a infertilidade tem sido investigada em suas origens.

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    Uma revisão elaborada pela School of Medicine, University of California e publicada em setembro deste ano pelo Endocrine Society abordou as possíveis fisiopatologias para o cenário clínico e laboratorial do obeso no que se relaciona aos processos reprodutivos. 

    A fisiologia reprodutiva

    Os mecanismos que resultam na produção de hormônios sexuais em homens e mulheres possuem grande semelhança, embora se expressem com as particularidades inerentes à cada sexo.

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    O gerenciamento desse processo está contido no eixo hipotálamo-hipófise (setor cerebral) e gônadas (testículos para os homens e ovários para as mulheres). O hipotálamo mantém pulso de estímulo na hipófise e esta produz o Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e o Hormônio Luteinizante (LH).

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    Em uma explicação simplificada o FSH na mulher estimula ovários a produzirem estrógenos e a ovulação, enquanto nos homens possui relação estreita com a produção de espermatozoides. O LH por sua vez impõe a produção de progestágenos nas mulheres e testosterona nos homens.

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    A região do hipotálamo controladora desse processo responde aos baixos níveis de hormônios sexuais com aumento no estímulo da hipófise e com isso ocorre elevações proporcionais de FSH e/ou LH, de modo que se restabeleça o equilíbrio. 

    A diminuição ou falta de funcionamento em ovários e testículos aumentam a produção de FSH e LH, tal qual ocorre de maneira bastante pronunciada na menopausa e lentamente no envelhecimento masculino.

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    Por outro lado, mesmo discretas falhas neste setor hipotálamo-hipofisário podem transtornar a cascata reprodutiva.

    Os hormônios sexuais e a fertilidade nos obesos

    Homens obesos apresentam níveis reduzidos de testosterona e LH, assim como número menor de espermatozoides, enquanto em mulheres a infertilidade se caracteriza pelos baixos níveis de LH gerando inúmeras interferências nos processos ovulatório e conceptivo. 

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    Tal contexto hormonal implica em alterações centrais (e não em ovários ou testículos) e os mecanismos fornecidos pela obesidade no desencadeamento desses equívocos funcionais são vários. 

    As justificativas

    O entendimento da intrigante deficiência hipotálamo/hipofisário instalada em obesos orbita entre várias suposições, as quais incluem:

    Interações desses centros com substâncias que possuem alta concentração em obesos

    A resistência à ação da insulina no obeso é resultante da ação de substâncias derivadas do metabolismo do excessivo depósito gorduroso visceral, que leva o pâncreas a produzir quantidades cada vez maiores deste hormônio para vencer tais dificuldades.

    Embora o cérebro prescinda da insulina para utilizar glicose é certo que haja receptores para este hormônio em vários de seus setores, notadamente nas regiões hipotálamo-hipofisárias e por mecanismos ainda não esclarecidos a hiperinsulinemia, condição presente no obeso, interfere para o desequilíbrio reprodutivo.

    A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo e possui extrema importância na contenção da ingesta alimentar e seus níveis são proporcionais à quantidade de depósito gorduroso, o que torna compreensível a enorme concentração dessa substância em pacientes obesos.

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     A relação da leptina com o processo reprodutivo é notória já no estabelecimento da puberdade, processo marcadamente tardio em crianças condicionadas à magreza pelo excesso de exercícios físicos, ou, por uma fresta mais triste, naquelas com desnutrição calórica. Por outro lado, meninas obesas tendem à antecipação puberal. Embora os obesos possuam resistência à leptina em seu centro de saciedade, a interferência dessa substância no eixo reprodutivo está seguramente presente. 

    Lesão hipotalâmica provocada por componentes celulares oriundos do processo inflamatório do tecido gorduroso

    Ocorre um processo inflamatório difuso por todo o tecido adiposo do paciente obeso e esta condição fornece aumento na concentração de várias substâncias e componentes celulares. Embora o perfil imunológico do sistema nervoso central seja privilegiado, existem evidências de que células conhecidas como macrófagos, originados dessa citada inflamação difusa, possam participar em decurso inflamatório hipotalâmico e com isso comprometer o funcionamento de várias de suas seções.

    Processo inflamatório hipotálamo induzida por dieta rica em gorduras

    É sabido que o consumo desmesurado e mantido de alta concentração de gorduras gera processo inflamatório em setores hipotalâmicos que, ao menos no que tange à obesidade, possui grande importância, dada a potencial causalidade do ganho ponderal pela lesão dos centros gestores de fome e saciedade, os quais se localizam neste terreno. É possível que mecanismos assemelhados comprometam as seções que gerenciam a reprodução de pacientes obesos em sua grande ingesta desses alimentos.

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    Conclusão

    Direcionado para o ganho ponderal pela arquitetura mercadológica, desestimulados ao tratamento médico de sua enfermidade por razões de mesmo viés monetário e  convencido de que é culpado pelo mesmo sistema que lhe suga. Assim segue o obeso, comprando o que engorda e pagando pelo o que o peso lega, persuadido em tal magnitude que nem mesmo o comprometimento do instintivo universo sexual e reprodutivo desconfigura a culpa que lhe foi imposta. 

     

     

    Quem faz Letra de Médico

    Adilson Costa, dermatologista
    Adriana Vilarinho, dermatologista
    Ana Claudia Arantes, geriatra
    Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
    Antônio Frasson, mastologista
    Arthur Cukiert, neurologista
    Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
    Bernardo Garicochea, oncologista
    Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
    Claudio Lottenberg, oftalmologista
    Daniel Magnoni, nutrólogo
    David Uip, infectologista
    Edson Borges, especialista em reprodução assistida

    Eduardo Rauen, nutrólogo
    Fernando Maluf, oncologista
    Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
    Jardis Volpi, dermatologista
    José Alexandre Crippa, psiquiatra
    Ludhmila Hajjar, intensivista
    Luiz Rohde, psiquiatra
    Luiz Kowalski, oncologista

    Marcelo Bendhack, urologista
    Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
    Marianne Pinotti, ginecologista
    Mauro Fisberg, pediatra
    Roberto Kalil, cardiologista
    Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
    Salmo Raskin, geneticista
    Sergio Podgaec, ginecologista

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