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O coração das mulheres não anda nada bem e precisa de atenção

Não há como desvincular o aumento da incidência de mortes por doenças cardiovasculares no sexo feminino e as multitarefas que recaem sobre elas

Por João Fernando Monteiro Ferreira
Atualizado em 15 mar 2021, 10h57 - Publicado em 15 mar 2021, 10h51
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  • O estado de São Paulo tem ¼ da população nacional e também detém a liderança no ranking de mortes por doenças cardiovasculares no país: das 364.132 mortes registradas por DCVs, em 2019, 89.438 ocorreram em terras paulistas: média de um a cada quatro óbitos. Mas, diferentemente do que ocorre no restante do Brasil, em São Paulo o principal vilão é o infarto, enquanto os brasileiros de outros estados padecem mais de acidente vascular cerebral (AVC).

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    Os dados foram levantados pela SOCESP, com base em informações públicas do Sistema Único de Saúde.

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    O protagonismo do infarto sobre o AVC entre os paulistas pode ser justificado antropologicamente: em países desenvolvidos, o infarto é a primeira justificativa de morte e o AVC ocupa o terceiro lugar. O que nos faz supor que os moradores do estado tenham preocupações, cuidados e comportamento similares aos dos europeus e vivam em um ritmo mais acelerado, comparativamente aos habitantes das outras unidades da federação.

    A pesquisa ainda revela uma equiparação entre sexos nada auspiciosa: há cerca de 60 anos, a proporção de mortes por DCVs era de nove homens para uma mulher. Atualmente, porém, o cenário está praticamente equilibrado, principalmente quando a causa mortis é o AVC: foram 51.452 óbitos de homens e 49.616 de mulheres.

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    Estatísticas da SOCESP atestam que a proporção de mortes por doenças cardiovasculares em mulheres no país aumentou 37% nos últimos anos. Mas o cenário não é similar em todos o território: em determinados estados, como o Acre, entre 2003 e 2012 houve reduções da ordem de 40% na mortalidade por infarto nas mulheres de 30 a 69 anos, enquanto que, no mesmo período, no Amazonas houve aumento em mais de 50%.

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    Atualmente, uma em cada cinco mulheres está sujeita a sofrer um infarto. Dados da OMS apontam as doenças cardiovasculares como responsáveis por 1/3 de todas as mortes de mulheres no mundo, o equivalente a 8,5 milhões de óbitos por ano, mais de 23 mil por dia.
    Campo fértil para DCVs

    Não há como desvincular o aumento da incidência de mortes por doenças cardiovasculares no sexo feminino e as multitarefas que, via de regra, recaem sobre a mulher: além do trabalho formal, incumbências domésticas, cuidados com filhos e pessoas idosas da família e até responsabilidades financeiras que, há 60 anos, eram socialmente aceitas como atribuições masculinas. Hoje, ao contrário, 50% dos lares brasileiros são economicamente dependentes da chefia exclusiva de mulheres. De acordo com o Ipea, o percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, especialmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho.

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    O estresse promovido pelo excesso de atividades e as jornadas cada vez mais intensas são novos fatores de preocupação para o coração feminino.

    A gestação também é um campo fértil para problemas cardíacos. Doenças próprias deste período, como a pré-eclâmpsia e eclâmpsia, a hipertensão gestacional e a miocardiopatia periparto, além das cardiopatias pré-existentes, podem evoluir mal durante a gravidez e serem danosas para a mãe e para o bebê. O uso de anticoncepcional ou a combinação deste medicamento com o hábito de fumar também aumenta a chance de infarto ou AVC.

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    Outra preocupação recorrente é que a sintomatologia das doenças cardíacas femininas muitas vezes é diferente do que se observa no sexo oposto. Homens costumam referir forte dor no peito, que irradia para os braços. Já elas sentem náusea, fraqueza, dores gástricas, sudorese e falta de ar. Na correria do dia a dia essas manifestações podem passar despercebidas ou atribuídas a diagnósticos menos graves.

    O coração e a pandemia

    A partir do ano passado, com a pandemia, o convívio mais contínuo – por conta das crianças sem aulas e trabalho remoto – promoveu entre algumas famílias uma consequente elevação da temperatura nas interrelações e um aumento da carga de trabalho na organização da casa – e no estresse – das matriarcas.

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    Sem dúvida, esse advento também deverá ser considerado pelos profissionais de saúde nos próximos meses porque, comprovadamente, uma coisa leva a outra. E a redução da chance de um evento cardiovascular futuro passa pelos meios dos controles efetivos de fatores de risco cardiovascular e pela mudança dos hábitos de vida.

    Sempre é válido lembrar: pandemia não é desculpa para comer com pouca qualidade nutricional, abusando de alimentos gordurosos e calóricos ou para deixar lado as atividades físicas. Além disso, encontrar maneiras de espairecer e aliviar a tensão cotidiana podem ser santos remédios no combate às doenças do coração.

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    Letra de Médico - João Fernando Monteiro Ferreira
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