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José Vicente Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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Mulheres negras da política e de coragem

O racismo ainda reina firme e forte na agressão aos direitos humanos e da cidadania nos espaços públicos

Por José Vicente Atualizado em 4 dez 2020, 13h04 - Publicado em 4 dez 2020, 13h03
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  • As ameaças de morte e as demais hostilizações raciais de que foram e estão sendo vítimas a vereadora eleita de Joinville, Santa Catarina, Ana Lucia Martins, do PT, e a prefeita eleita de Bauru, Suellen Rosim, do Patriota, reiteram, para quem tivesse dúvida, a falácia do racismo como algo inexistente no Brasil e como produto importado de outros rincões.

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    Reiteram, da mesma forma, o equívoco de quem pretenda subordiná-lo exclusivamente à questão social e econômica, enfatizando que se discrimina no país não por conta da raça ou cor de pele, e sim pela condição social – por ser pobre ou rico. Por esse raciocínio, negro rico, bem formado e com destaque social estaria livre das agruras da agressão racial – o que sempre se mostrou totalmente inverídico, improcedente e incoerente nas relações sociais entre negros e brancos em toda nossa história.

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    Fosse essa tese verdadeira, jogadores de futebol negros ricos, com carrões, mansões e até helicópteros, jamais ouviriam nas arenas esportivas as torcidas imitando sons de macacos e até jogando-lhes bananas. Fosse procedente, astros e artistas televisivos e bens resolvidos financeiramente, como Maju Coutinho, Tais Araujo, Lazaro Ramos, Gloria Maria, Iza e Ludmilla não teriam seus post achincalhados e violentados nas redes sociais com agressões e ofensas racistas. Fosse coerente, os negros de classe média não tomariam canseiras para serem atendidos nos restaurantes de bacanas ou não receberiam escoltas gratuitas de vigilantes e seguranças nos shoppings centers dos jardins.

    Ana Lúcia Martins é uma professora e servidora aposentada, e Suellen Rosim, é uma jornalista e ex – apresentadora de telejornais da afiliada da TV Globo em Bauru, ou seja, profissionais de sucesso, bem formados, e economicamente instalados entre os membros de uma classe média alta. Bem distantes, dos pobres e miseráveis que recebem os olhares enviesados da discriminação social. Acrescente-se que foram eleitos legitimamente e dentro das regras do jogo para os cargos de destaque da política nas suas cidades.

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    No caso da prefeita eleita de Bauru Suellen Rosim, soma-se a tudo a notícia de que um dos detratores e ameaçadores racial é um homem negro. Logo, mais uma vez, resta evidenciado e comprovado que nem é possível negar, desconsiderar e muito menos não querer enxergar – ainda que daltônico – a gravidade e violência com que o racismo agride as pessoas e instituições.

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    Os casos em questão demonstram, enfaticamente, que, além de não ser exclusividade dos brancos, o racismo, o preconceito e discriminação racial reina firme e forte na agressão aos direitos humanos e da cidadania nos espaços públicos, e na deformação e destrutividade das relações sociais, da honra, imagem e dignidade humana das pessoas negras nos ambientes de informação privado.

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    Ainda assim, sem tem algo que deve nos animar e fortalecer nossa luta contra o racismo e os racistas é a coragem dessas mulheres negras de não fazerem concessão a esses seres da escuridão. Da mesma forma, a determinação em postarem-se firmes no enfrentamento desses obstáculos abjetos e covardes, e o vigor e arrojo na conquista e realização de seus sonhos e de suas ambições. A politica pode e dever ser um lugar privilegiado para criar, construir e realizar de forma séria e honesta ações contribuições importantes para a sociedade. Um lugar que valorize e prestigie a diversidade e a pluralidade social. Um lugar de homens e mulheres negros, por conseguinte.

    Por isso, merecem aplausos efusivos essas valorosas e corajosas mulheres negras. Mas merecem aplausos redobrados a maioria dos eleitores que, apesar das mentalidades preconceituosas e discriminatórias incubadas ou ostensivas, reconheceram o caráter, qualidades e talentos das postulantes e, de maneira imparcial e justa, premiou-as com a vitoriosa eleição.

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